Paciente de cirurgião preso relata 'seio torto' após cirurgia de R$ 7,8 mil

Após a prisão do cirurgião plástico equatoriano Bolívar Guerrero Silva, pelo menos sete pacientes já procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense para prestar queixa contra o médico. Uma delas é Vanessa Miranda, 41: após descobrir um nódulo no seio, a dona de casa decidiu realizar uma mastectomia total e colocar prótese mamária, a fim de evitar um câncer de mama, já que outras familiares tiveram a doença. A operação aconteceu em 2013 e ela conta que teve problemas após o procedimento e acusa o médico de deixá-la com o seio "torto".

"Eu sai da cirurgia e comecei a sentir muita queimação, dores e mais dores, não conseguia ficar deitada, não conseguia ficar em pé. Eu voltei nele e falei que alguma coisa estava errada, que os pontos estavam muito inflamados, mas ele foi muito grosso, dizendo que era coisa da minha cabeça. Com raiva, ele ainda retirou um dos pontos de forma tão brusca que ficou um buraco no meu peito", contou a paciente.

Relacionadas

Noiva joga vestido fora sem querer e catador a salva: 'Ofereci recompensa'

Em 1 ano, 5 bebês: mulher dá à luz trigêmeos 10 meses após ter gêmeos em SC

Parto raro: gêmeas empelicadas nascem no mesmo minuto em hospital de MG

O médico Bolivar Guerrero, conhecido como Dr. Bolivar, foi preso na última segunda-feira (18) acusado de manter uma paciente em cárcere privado em um hospital particular de Duque de Caxias, após complicações cirúrgicas de um procedimento na barriga da mulher.

"Eu fui em busca de preço, porque eu não tinha condições de pagar um cirurgião renomado, então eu o encontrei e fiz com ele. Eu paguei na época, cerca de R$ 7.800, para um serviço que não foi feito. Eu ainda fui pedir para fazer uma ressonância e ele me chamou de louca, de maluca, dizendo que não precisava fazer. Eu falei que não estava normal", relata Vanessa Almeida.

Em conversa com a reportagem do UOL, a dona de casa disse que já entrou com um processo contra Bolivar Guerrero por erro médico e indenização por dano moral.

"Eu procurei outros médicos para fazer uma cirurgia reparadora, mas ninguém quis colocar a mão devido a situação. Eu, que sou dona de casa, não posso varrer, não posso trabalhar, não posso fazer nada, porque tudo incha, fica vermelho", lembra a paciente.

Minha mama está toda deformada, toda hora está infeccionada. Meu peito é todo deformado. Para quem fez uma mastectomia total, com uma prótese de 350 ml, não era para estar assim. Ele está totalmente arriado, desde que fiz a cirurgia. Eu paguei a mastectomia total para evitar um problema futuro, corro risco de ter câncer ainda, porque ele não fez direito. Tenho vergonha do meu seio. Vanessa Miranda

O cirurgião deve passar hoje por uma audiência de custódia no Presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio. Ele está temporariamente preso. Apesar das repercussões do caso, o médico possui mais de 40 mil seguidores em uma conta nas redes sociais.

Preso em 2010

Além dos cerca de 20 processos que correm na Justiça contra o médico, Bolivar Guerrero já foi preso durante a operação Beleza Pura da Polícia Civil.

A ação, que aconteceu em 2010, terminou com a prisão de oito médicos, entre eles o equatoriano. Ele foi acusado de aplicar medicamentos para preenchimento facial sem registro na Anvisa e também de usar produtos falsificados.

"Está sendo muito difícil, eu preciso tomar remédio pra dormir, meu psicológico está muito abalado, eu fiquei hipertensa. A dor é horrível, queima. Eu quero que a justiça seja feita para que, diferente de mim, outras mulheres não passem pelo que estou passando desde 2013", finalizou Vanessa Almeida.

Procurado pelo UOL, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informo que "tendo conhecimento do caso pela imprensa, o Cremerj abriu sindicância para apurar os fatos. Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional".

No site do Conselho ainda consta que Bolivar Guerrero está em situação ativa e que é um "especialista qualificado".

A reportagem procurou a advogada do cirurgião plástico por telefone e mensagens, mas até o momento não teve retorno. Nas redes sociais, a equipe do médico negou as acusações de manter paciente em cárcere privado.