'Fui abusada aos 12 anos e engravidei. Ninguém pensou em fazer denúncia'
A influenciadora Vivian Nascimento, 18, usou sua conta no TikTok para fazer um relato muito doloroso: ela engravidou aos 12 anos e a gestação foi fruto do abuso que sofreu de um homem que, segundo ela, teria 17 ou 18 anos e dizia ter 15 anos, e que ela acreditava ser seu amigo.
Em uma sequência de vídeos, que somam cerca de 300 mil visualizações, Vivian chora, conta sua história e diz que ainda se sente culpada por ter sido ingênua, mesmo que na época fosse uma criança. Ao Universa, ela relembra detalhes do que viveu.
Mães aos 12: minha história
"Com 12 anos eu já me achava muito adulta, uma supermulher. Mas não sabia o que eu estava fazendo. Um homem bem conhecido da minha cidade, que me dizia ter 15 anos e só depois fui descobrir que era mentira, começou a conversar comigo. Ele puxava assunto e eu achava que se tratava de um amigo.
Sem saber, todos os dias eu passava em frente à casa dele para ir ao reforço escolar. Um dia, ele me chamou para entrar. Entrei e ele me pediu um beijo. Não tive muita reação, mas o beijei.
Ele me elogiava muito, me dizia que eu era uma mulher que sabia o que estávamos fazendo. Acabou rolando um envolvimento e ele me chamou para ir ao seu quarto. Eu nem sei dizer, meio sem cabeça e sem ter dimensão das coisas, fui.
Isso aconteceu algumas vezes porque eu não conseguia dizer 'não' para ele. Achava que ele era meu príncipe, que eu estava na idade. Tudo o que ele me falava, eu acreditava. Mas depois de um tempo, comecei a me sentir mal. Ele trancava as portas da casa e eu não podia sair, ficava horas por lá.
Comecei a chorar, sentir dor, não entendi o que estava acontecendo.
Eu disse que não queria mais e ele começou a me seguir. Ia para a porta do local onde eu fazia aula de reforço, ficava mandando mensagens para mim e para as minhas amigas.
Ele chegou a tentar me atropelar uma vez quando disse que não iria para casa dele. Até que descobri que estava grávida, contei para ele e foi uma confusão. Eu sabia que não era o momento para ter um filho.
Quando contei para meus pais foi um choque, ninguém imaginava que eu poderia estar grávida. Acho, inclusive, que aqui vale acrescentar que a educação sexual básica dada pelos pais, que é muito prorrogada, é essencial.
Com a notícia, ele me levou pra conhecer a sua família. E até mesmo os seus familiares me deram conselhos dizendo que eu deveria deixá-lo e ir cuidar da minha filha.
Meus pais me deram a opção de ficar com ele ou não. Eu não tinha nenhum discernimento para tomar essa decisão sozinha. Ficamos 'juntos' por quatro meses, mas eu não me sentia bem com aquela proximidade. Eu não conseguia abraçá-lo, ficar no mesmo lugar. Tinha nojo, sentia repulsa.
Tudo isso aconteceu em meio ao divórcio dos meus pais. Eu já não estava bem e somei a isso uma gravidez. Foi muito desgastante. Eu chorava muito, mas consegui colocar um ponto final na 'relação' que comecei com aquele homem após a gravidez. Ele me proibia de estudar, ficava mandando mensagem cobrando coisas que eu não queria fazer.
Eu não queria nem tocar nele. Uma vez ele me abraçou e eu vomitei. Não conseguia mais, então terminei. Mas ele continuava indo atrás de mim. Ficava na porta da minha escola, chegou a bater em alguns amigos. Para me afastar, a solução que eu encontrei foi ignorar.
Depois que me afastei, o resto da minha gestação ocorreu em paz. Estávamos só eu e minha mãe e ela me deu muito apoio. Com oito meses, eu descobri que tinha polidramnia, que é o excesso de líquido amniótico. Por causa disso, minha filha podia sufocar. Comecei um tratamento com injeções para fortalecer o pulmão dela e com 33 semanas, dei à luz.
Só fui entender o que tinha acontecido comigo aos 16 anos
Nenhum médico me deu orientação sobre o que eu tinha passado. Para todos, eu era a errada, tinha sido safada e "procurado" o que aconteceu comigo. Aos 12 anos eu era tratada como uma adulta.
Foi muito difícil, mas só fui entender realmente o que tinha acontecido comigo aos 16 anos. Eu não me sentia bem, mas não sabia o motivo. Foi aí que compreendi o que tinha passado, que nada era normal, que eu tinha sofrido um abuso. Para muitos, o estupro só acontece quando a pessoa é amarrada, e não é. Mas só entendi anos depois.
Acho que também foi um erro dos meus pais. Era responsabilidade deles ter denunciado, eu era uma criança. Não tem como um adulto engravidar uma menina de 12 anos e sair impune.
Quando minha filha chegou ao mundo, minha mãe o procurou para colocar o nome no registro. Eu nem queria, por mim, ficaria vazio. Mas ela resolveu. Eu não conseguia ter contato com ele. Nunca mais tive.
A família dele me procurou algumas vezes, mas nunca se interessaram muito pela criança. Logo no começo da vida dela, entramos na justiça por um pedido de pensão e definição de guarda e visitação. Mas ele nunca quis visitá-la.
Não consigo entender como meu caso foi para a justiça, mesmo que fosse para um pedido de pensão, e simplesmente fecharam os olhos para o que tinha acontecido. Houve negligência. Como o advogado não olhou que poderia existir um outro processo, não só de pensão, para fazer uma denúncia?
Aos 16 anos eu quis denunciar e comecei a ir atrás. Mas foi muito sofrimento. Ninguém da minha família me apoiava, só minha irmã e meu namorado. Eu era menor de idade, não tinha condições de pagar um advogado, e como tinham se passado muitos anos, me sentia de mãos atadas.
Minha opção era esperar e deixar para lá.
Até quando fiz 18 anos e resolvi falar no TikTok. Eu nunca tinha falado sobre isso, era um assunto que minha mãe não gostava que eu comentasse.
Mas agora eu sou maior de idade e não queria mais guardar essa história. Eu não estava errada. Meu relato serve de alerta para qualquer menina.
Eu recebi muitas mensagens de pessoas que passaram por algo parecido e de outras que ainda estão passando. Quero alertá-las. Ter uma conversa com essas meninas é muito importante", Vivian Nascimento, 18 anos, influenciadora digital, Toritama (PE)
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