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'Gravidez não é doença, mas dói': mães falam de dificuldades da gestação

Fernanda Terra, 38 anos, de São Paulo, mãe do Ben, de 1 mês e meio. - arquivo pessoal
Fernanda Terra, 38 anos, de São Paulo, mãe do Ben, de 1 mês e meio. Imagem: arquivo pessoal

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, de São Paulo

22/07/2022 04h00

Ainda que ser mãe seja o sonho da maioria das mulheres e uma alegria para todos os envolvidos, os meses da gestação costumam ser, também, um período difícil. Além do turbilhão de hormônios que acompanham a fase, o momento pode ser bem mais delicado do que a maioria das pessoas imagina.

Por essa razão, ainda que exista uma grande romantização da maternidade, é preciso mostrar o lado real da experiência. É importante falar, principalmente, sobre as dificuldades que marcam a gravidez de muitas —ou seriam todas?— as mulheres.

Conversamos com várias delas, que compartilham, a seguir, o que vivenciaram nos momentos nada agradáveis de desenvolvimento e espera pelo bebê. Apesar de dificuldades diferentes, essas mães têm algo importante em comum: descobriram que os desconfortos também estão presentes no amor incondicional da maternidade.

'Falta de energia me assustou'

"Minha gestação até que foi bem tranquila, mas algumas coisas, de fato, me assustaram. Uma delas me deixou extremamente desconfortável: a falta de energia no terceiro trimestre. Parei inclusive as atividades físicas por causa dessa indisposição. O que eu sentia passou a impedir também tarefas simples do meu dia a dia, como lavar a louça, por exemplo. Logo que começava a tarefa, já me sentia muito cansada." Fernanda Terra, 38 anos, influencer e beauty artist e mãe do Ben, de 1 mês e meio, de São Paulo (SP)

'Dor pélvica me impedia de andar'

Thifany Araújo, 23 anos, estudante de arquitetura e mãe da Sarah, de 4 meses - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Thifany Araújo, 23 anos, é mãe da Sarah, de 4 meses
Imagem: Arquivo pessoal

"Senti dores e incômodos durante a gravidez inteira. Cada mês era uma novidade, um desconforto diferente. Além dos enjoos já esperados, a dor pélvica me perseguiu ao longo de toda a gestação, mas piorou muito na reta final.

O peso da bebê intensificou as dores na região e me impediu de andar normalmente. Eu andava parecendo uma 'patinha' e já não podia fazer muitos movimentos por causa disso." Thifany Araújo, 23 anos, estudante de arquitetura e mãe da Sarah, de 4 meses, de São Paulo (SP)

'Tinha náuseas, vômitos e tontura'

"Com nove semanas de gestação, comecei com enjoos e vômitos frequentes, que aconteciam todos os dias. Eu não podia comer nada e, na verdade, nem sentia vontade. Meu médico quis me internar muitas vezes, porque eu estava perdendo peso. Isso durou por muito tempo, até a 17ª semana, apesar de os sintomas perdurarem até a 30ª semana. Depois disso, passei a ter tontura. Era tão forte que eu ficava o dia todo na cama e ia quase que semanalmente ao pronto-socorro, algo insuportável também." Caroline Ribeiro, 28 anos, nutricionista clínica e mãe da Júlia, de 1 ano, de São Paulo (SP)

Com dores, mas sem remédios

Dionísia Paiva, 27 anos, influenciadora digital gestante de 5 meses - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Dionísia Paiva, 27 anos, está grávida de 5 meses
Imagem: Arquivo pessoal

"Gravidez não é doença, mas dói. A gente sente dor nas pernas, na cabeça, nas costas, cólicas. Eu ainda só não tive câimbras e vômitos. Mas, mesmo com esses sintomas, não se pode tomar qualquer medicamento. Às vezes, nenhum remédio pode ser tomado. É preciso aguentar a dor.

Tem quer ter força, muita força, e sobretudo tem que saber amar, a ponto de sentir tudo e, mesmo assim, ser completamente apaixonada por aquela nova vida que está dentro de você." Dionísia Paiva, 27 anos, influenciadora digital gestante de 5 meses, de Salvador (BA)

'Esqueço as tarefas no dia a dia'

"Um dos sintomas que tive na gestação foi o esquecimento, que segue até hoje. Antes, eu me destacava no trabalho por sempre saber das coisas, me lembrar de absolutamente tudo. Às vezes, preciso pegar algo na geladeira, vou até lá, abro a porta e simplesmente não lembro mais o que fui fazer. Disseram que vou voltar ao normal, só não sei quando. Enquanto isso, estou precisando recorrer mais às agendas e aplicativos para organizar as minhas tarefas, porque esqueço muitas delas no dia a dia." Ana Elisa Teixeira, 35 anos, jornalista e mãe do Dante, de 1 ano, de São Paulo (SP)

'Acordava com os chutes do bebê'

"É realmente lindo e até prazeroso, em alguns momentos, sentir o bebê mexer, mas também pode ser bastante incômodo e até constrangedor. Nas últimas quatro semanas da gestação, eu acordava com os chutes dele, que resultaram em noites mal dormidas. O pé do nenê vai na costela, na boca do estômago.

E isso costumava acontecer em reuniões de trabalhos e locais públicos. Eu dava um salto ao sentir e tinha que explicar, dizendo que era só meu filho mexendo. Às vezes, chegava a perder o ar a cada chute forte, sem conseguir terminar uma frase nem me concentrar. Sem contar que todo mundo quer colocar a mão na barriga para sentir mexer. Eu me sentia desconfortável, mas não sabia como dizer 'não." Denise Valdivia, 40 anos, diretora de exchange de criptomoedas e mãe do recém-nascido Murilo, de Santiago (Chile)

Sem barriga, sem direitos

"Uma das dificuldades que tenho encontrado nessa segunda gestação até agora, no primeiro trimestre, é a questão dos assentos preferenciais. Por não ter uma barriga grande de grávida, as pessoas não respeitam tanto o lugar destinado às gestantes. Aí, preciso sempre andar com o cartão do pré-natal à mostra no transporte público e nas filas de banco, mercado e lotérica, por exemplo, para conseguir esse direito preferencial." Gabriela Dantas, 30 anos, doula e mãe de Antonio, de 4 anos, e grávida novamente de 4 meses, de Carapicuíba (SP)

Invisibilidade materna

"A realidade mais dura da gravidez é que, a partir do momento em que anunciamos que estamos grávidas, nos tornamos invisíveis. As pessoas não querem mais saber de nós e passamos a ser questionadas o tempo todo com perguntas relacionadas à nossa nova versão, como se não existíssemos. Parece que, para nascer uma mãe, é preciso matar a mulher que existia ali.

Além de sofrermos com a oscilação de hormônios, medos e inseguranças, ainda precisamos arrumar sorrisos para responder perguntas relacionadas ao sexo do bebê, se ele já tem nome, se teremos parto normal ou cesárea, se vamos fazer isso ou aquilo, enquanto ninguém quer saber se estamos bem ou precisamos de algo. A mulher some e, infelizmente, essa mesma postura segue após o nascimento." Ludmila Baldoni, 37 anos, empresária e mãe da Lorena, de 5 meses, de Guarulhos (SP)

Vergonha por estar grávida antes de casar

Thaís Giraldelli, 35 anos, empresária de beleza e mãe da Sophie (13) e da Maitê (7), de São Paulo (SP) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Thaís Giraldelli, 35 anos,é mãe da Sophie (13) e da Maitê (7)
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu fiquei grávida pela primeira vez aos 21 anos e não era casada. Então, tinha muita vergonha de sair na rua e as pessoas saberem disso ou de ir para os lugares e virem que estava grávida antes de casar. Foi muito constrangedor. Quis passar praticamente a gravidez inteira dentro de casa, só saindo para o médico.

Eu não tinha vida social por vergonha. Para muitas pessoas, a maternidade é um momento lindo, mas, para outras, é um momento de enfrentamento. Só senti que seria mãe quando peguei a bebê no colo. Antes disso, parecia mais um incômodo." Thaís Giraldelli, 35 anos, empresária de beleza e mãe da Sophie (13) e da Maitê (7), de São Paulo (SP)

Pitacos invasivos

"Muita gente dizia que gravidez era um período lindo e eu ficava me questionando o porquê de não ser assim comigo. Entre as situações difíceis e pouco faladas está a quantidade de palpites que surgem de todos os lados, inclusive da família, e que acabam te afetando. Falavam que eu tinha engordado pouco, que deveria comer isso, fazer aquilo.

A coisa mais absurda que ouvi foi dentro de casa, na minha segunda gestação. Minha mãe sugeriu que eu falasse com o obstetra, já na consulta de pré-natal, para marcar uma cesariana seguida de laqueadura. Achei um absurdo opinar sobre o meu corpo, minhas escolhas. Na segunda gravidez, passei a lidar de forma impositiva: respondia que não tinha pedido a opinião da pessoa que falasse algo inconveniente." Adele Grandis, 37 anos, empreendedora e mãe de Serena (10) e Prax (3), de São Paulo (SP)

Barriga pesou

"Já trabalhava com gestantes e puérperas, mas quando engravidei era como se não soubesse nada. Uma das situações difíceis foi quando chegou o último trimestre e a barriga pesou. Sabia que poderia incomodar, pois o peso da barriga é queixa comum entre minhas clientes, então acreditava que, como já sabia, iria me preparar e não passaria por isso. Mas foi ilusão achar que estaria protegida só por conhecer. Tive dores fortes no ciático.

Fazia pilates desde antes de engravidar e também recorri à fisioterapia para tratar essa dor, já que não podia tomar remédios. A dor era terrível no bumbum, descendo para a perna. Nas últimas semanas, parecia que minha filha não cabia mais na barriga —e olha que nem engordei muito, só 7 kg, mas sou pequena. A partir da 32ª semana, comecei a usar cinta para firmar a barriga quando saía de casa e ficaria mais tempo em pé. Isso me ajudou bastante." Marjorie Lobato, 38 anos, enfermeira especialista em cuidado materno e infantil e mãe da Luiza, de 3 anos, de Belo Horizonte (MG)

'Uma espécie de luto por quem eu era antes'

"A maior dificuldade foi a desconexão com a minha identidade e personalidade devido ao cansaço excessivo. Foi —e está sendo!— uma espécie de luto de quem eu era antes de gestar, como uma despedida muito dolorosa e totalmente incompreendida pelas pessoas ao meu redor. Sempre fui muito energética, alguém que gosta de fazer mil coisas.

Sou professora de ioga, circo e dança, então, movimentar o meu corpo sempre fez parte do cotidiano e da minha personalidade. No primeiro trimestre, eu me senti completamente esgotada. Parecia que toda a minha energia ia para o trabalho ou para o bebê, sem sobrar nada para mim. Chegava em casa e só conseguia ficar na cama.

Isso me impactou muito emocionalmente, pois sentia ter perdido a capacidade de fazer o que eu gostava e me deixava feliz. Foi uma frustração e um choque enorme perceber o quanto a minha vida já havia mudado. Não estava preparada para me despedir da Maria Eduarda pré-gestação e sentia um apego enorme ao meu cotidiano, mesmo que tivesse planejado e desejado muito ter um filho." Maria Eduarda Rangel Vieira da Cunha, 30 anos, professora que mora em Royal Leamington Spa, na Inglaterra, e está grávida de 9 meses