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Policial de Delegacia da Mulher acusado de agredir ex: 'Vou fuder tua vida'

O policial civil Marcos André de Oliveira dos Santos, 50 anos, acusado de atacar a ex-companheira com tapas e de fazer ameaças - reprodução/ Redes sociais
O policial civil Marcos André de Oliveira dos Santos, 50 anos, acusado de atacar a ex-companheira com tapas e de fazer ameaças Imagem: reprodução/ Redes sociais

Colaboração para Universa, do Rio de Janeiro

26/07/2022 13h52

O policial civil e chefe de investigações da Delegacia Especial de Proteção à Mulher Marcos André de Oliveira dos Santos, 50 anos, está sendo acusado de agressões e ameaças de morte por sua ex-companheira. Marcos trabalhava na Deam em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público do Rio por lesão corporal, injúria, ameaça e violência psicológica.

Diálogos foram gravados pela vítima, uma advogada de 29 anos. Segundo ela, o chefe de investigações sentia muito ciúme e a teria afastado, inclusive, da família. Em depoimento, a vítima relatou tapas, empurrões e xingamentos, o que a fez gravar os diálogos com o então companheiro. A transcrição das conversas foi detalhada na denúncia pelo MP.

Em um dos trechos gravados pela vítima, ele puxa o cabelo dela e a ameaça:

Policial: "[...] Se pegar troço no teu celular, eu vou te meter porrada, tá escutando?".

Policial: "[...] Eu quero ver a conversa. [...ininteligível] Vai entrar na porrada. Eu vou fuder a tua vida".

Vítima: "Aiii!!! Solta. Solta meu cabelo".

Policial: "Eu não vou soltar porra nenhuma. Tu vai ficar assim, filha da puta. Vai ficar assim".

Em outro trecho gravado, ele diz que ela deve escolher:

Policial: "[...] Você escolhe: soco na cabeça, spray na garganta ou apneia, que é ficar um pouco sem respirar".

Vítima: "[...] Marcos, você prende quem faz isso. Como você está fazendo isso comigo?".

Vítima: "[...] Então, polícia pode bater em mulher?".

Policial: "[...] Pode, pô. Se a mulher merecer, pode".

Ciúme excessivo

Segundo a advogada, os dois se conheceram no ambiente de trabalho, quando ela foi à Delegacia da Mulher pegar a cópia de um inquérito, em fevereiro de 2021, e se relacionaram por cerca de um ano. De acordo com o que a vítima disse ao jornal "O Globo", as agressões começaram após alguns meses de relacionamento. Ele teria passado, então, a controlar suas roupas e proibir que tivesse amigos.

A denúncia do MP afirma que as agressões começaram em outubro do ano passado, quando ela quis terminar o relacionamento.

"A forma como agia constrangendo, ofendendo, manipulando e limitando a autodeterminação da vítima tornam evidentes por si só a presença de dano psicológico, uma vez que a submissão reiterada e constante por situações de violência inequívoca e comprovadamente ocasiona danos psicológicos. Com o tempo, o acusado ficou mais agressivo, passando a xingar, humilhar e desferir tapas no rosto e na cabeça da vítima durante as discussões, que em sua maioria eram motivadas por ciúmes", diz o documento.

Procurada por Universa, a Polícia Civil informou que o policial foi denunciado pelo Ministério Público após ser indiciado pela Corregedoria-Geral de Polícia Civil por crime de violência doméstica.

"Após apuração dos fatos em sindicância na Corregedoria, foi aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) que está em andamento. Vale ressaltar que o servidor foi preventivamente afastado do serviço na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Jacarepaguá, assim como não está exercendo a função em nenhuma unidade especializada neste tipo de atendimento".

Lesão corporal, ameaça, injúria e violência psicológica

A denúncia do Ministério Público detalha ao menos sete episódios que envolvem lesão corporal, ameaça, injúria e violência psicológica. Em um deles, Marcos diz: "Se sua irmã aparecer aqui, vou te furar, vou te matar e me matar depois". De acordo com a denúncia, as ameaças ocorreram no ano novo deste ano quando o policial não queria comemorar a virada e impedir que a vítima comemorasse com a família.

Em uma das gravações, em 19 de janeiro, ele diz:

"Se pegar troço no seu celular, eu vou te meter a porrada, tá escutando?"
"Eu vou f****a tua vida"
"Vou te matar filha da p***, eu vou te matar"
"Vou mandar uma mulher te dar uma surra"
"Não posso deixar você passar impune.
"Eu ia fazer pior, mas só vou mandar te dar uma coça e vai ser mulher."

A promotora, Isabela Jourdan, responsável pela denúncia, destaca que toda violência sofrida ocorreu pelo fato de o policial não aceitar o fim do relacionamento.

"Motivado por não aceitar o fim do relacionamento, o acusado passou toda a madrugada xingando, humilhando, ameaçando e agredindo fisicamente a companheira/ vítima".

Cuspe no rosto e imobilização

Em outro episódio, em 12 de fevereiro, a denúncia menciona que a vítima foi jogada ao chão, imobilizada e recebeu um cuspe no rosto durante mais um ataque de violência do policial. A ação aconteceu após a mulher trancar o apartamento onde estava e impedir a entrada de Marcos no local.

"Os diálogos foram gravados e periciados, evidenciando as ameaças e humilhações perpetradas pelo acusado", destacou o MP.

Cinco dias depois, a vítima chegou a ser novamente imobilizada, dessa vez, por três horas. O caso ocorreu no escritório da mulher. Uma testemunha prestou depoimento sobre o episódio e disse que foi retirada da sala principal e relatou ter presenciado outras atitudes violentas do policial.

"Você escolhe: soco na cabeça, spray na garganta ou apneia que é ficar um pouco sem respirar", ameaça o policial.

"O quê?", a vítima responde

"Marcos, você prende quem faz isso. Como pode você fazer isso comigo? (...) Polícia pode bater em mulher?, pergunta a vítima.

"Se a mulher merecer, pode".

No documento consta ainda que a vítima relatou tentativas de controlar as roupas que a mulher vestia e a proibi-la de estar com os amigos.

"Com o tempo, o acusado ficou mais agressivo, passando a xingar, a humilhar e desferir tapas no rosto e na cabeça da vítima durante as discussões que eram motivadas, na maioria das vezes, por ciúmes", diz a denúncia.

Procurado, o advogado do suspeito, Márcio Alexandre dos Santos, informou que os autos correm em segredo de justiça e criticou a divulgação da denúncia, "consequentemente, a ampla divulgação na mídia de conteúdo em segredo de justiça afronta dispositivos constitucionais. No mais, aguarda intimação da suposta denúncia para esclarecer os fatos alegados em juízo. Por fim, a defesa ratifica a total lealdade processual e respeito absoluto ao sigilo".