Elas decidiram pelo explante de silicone: 'Não fazia mais sentido'
"Antes que todo mundo me pergunte, o motivo de eu ter tirado o silicone e não ter colocado outra prótese: foi porque eu quis."
Foi esta a mensagem que a servidora pública Ana Garcez, 50 anos, postou no seu Instagram, na semana passada, assim que se submeteu à cirurgia de remoção da prótese de silicone que carregava havia 14 anos. "Passei do sutiã 44 para 38 e fiquei muito satisfeita, um alívio no peito", contou a Universa.
"As pessoas ficam me perguntando se eu estava com algum problema, querendo saber os motivos. Existe uma pressão de todos ao redor, que falam coisas como 'você vai ficar sem peito', 'você fica mais sexy com silicone'. Mas eu simplesmente não queria mais ficar com a prótese", afirma.
Ana ainda está se recuperando da cirurgia de retirada de 305 ml, mas já diz estar segura da decisão, embora o procedimento deixe cicatrizes ainda maiores do que o de colocação da prótese.
"Existe essa ideia de que a mulher só é feminina e sexy com curvas, bunda, peito redondo. Mas estou muito feliz."
Mãe de uma menina, que amamentou por um ano e três meses, a decisão pelo implante de silicone veio quando sua filha já tinha 10 anos. "Meus seios caídos me incomodavam demais. Mas, passado um tempo da cirurgia, o formato da prótese foi se modificando, não estava mais legal. Eu não sentia dores, mas o peso me incomodava. Comecei a pensar em refazer a cirurgia, mas nesse processo, decidi retirar totalmente a prótese."
Ela conta que se inspirou em mulheres como a atriz Camila Queiroz, que sempre rebate as críticas de que deveria colocar silicone, e em celebridades que estão optando pelo explante. Neste domingo (24), a cantora Manu Gavassi revelou que passou por uma cirurgia de explante de silicone em uma entrevista à revista "Ela", do jornal "O Globo".
Este é um movimento crescente: em quatro anos, os procedimentos de explante cresceram 71% no Brasil. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, 14,6 mil cirurgias de retirada de silicone foram realizadas em 2018. Em 2020, o índice saltou para 25 mil.
Mudança de hábitos
Há dez anos, um acontecimento familiar fez Carolina Destro, 33 anos, rever seus hábitos: no período de um ano, seus pais foram diagnosticados com câncer. A partir dessa notícia, ela mudou completamente sua alimentação e seu estilo de vida. E sentiu que uma coisa não combinava mais com quem era: a prótese de silicone que havia colocado aos 20 anos.
"Foi uma questão estética. Tinha vontade de ter seios maiores, ficava preocupada ao usar biquíni ou sutiã sem bojo. Várias amigas mais velhas tinham feito a cirurgia e mal pesquisei, peguei as indicações delas e fui ao médico sem nenhuma informação", contou a Universa.
Em 2016, Carolina se tornou vegana. "A partir disso, questionei muitas coisas através da alimentação, da ioga, passei a usar métodos anticoncepcionais não hormonais. Esses processos pelos quais passei me fizeram ver quem eu era naturalmente. Fui gostando mais de mim, do meu corpo, da minha pele, do jeito que sou. E senti que o silicone não fazia mais sentido", conta.
A cirurgia para a retirada da prótese aconteceu em agosto de 2020. Mas ela não romantiza o processo. "Não me senti livre e ótima logo na hora. Tive um choque, achei super estranho. Eu nem me lembrava mais como eram meus seios. Fiquei sem me reconhecer, e a recuperação da cirurgia demorou uns seis meses. Mas, depois de um tempo, eu já estava curtindo ter meu peito natural, pequeno. Hoje uso biquíni achando bonito."
Assim como Carolina, a chef de alimentação Juliana Guitel, 48 anos, retirou seu implante em 2020, após mais de duas décadas com a prótese.
"Nunca tinha sonhado em fazer. Fui realizar um procedimento para estrias e o médico disse "já que você está aqui mesmo, porque não coloca silicone?'. Mas nunca fiquei confortável com isso", disse.
"Mas vivi uma mudança de estilo de vida que começou pela alimentação, me tornei vegana, tive mais contato com a natureza, e isso foi me direcionando a buscar mais naturalidade. Foi um reencontro comigo mesma. Parei de pintar meus cabelos, usar maquiagem e senti que o silicone, que coloquei aos 25 anos, era o próximo passo."
Juliana diz que nem sabia da possibilidade de realizar o explante —procedimento com o qual ela gastou cerca de R$ 25 mil.
"Uma conhecida fez um post contando que tinha tirado o silicone e senti naquele momento que era meu caminho. Mas levei um ano e meio pensando se não iria me arrepender em tirar 350 ml de peito. Hoje me sinto mais feliz com meu corpo, mesmo com a cicatriz. Fico confortável para ter relações sexuais, usar blusas decotadas", diz.
Doença do silicone
No processo de retirada da prótese, Juliana descobriu que tinha uma doença autoimune causada do silicone. De acordo com o cirurgião plástico Bruno Herkenhoff, esse é um dos principais motivos que faz com que mulheres busquem pelo procedimento.
Diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica do Rio de Janeiro, ele tem observado um aumento gradual pela procura por explante. "Acredito que se intensificou com a pandemia, mas tem se falado mais de quatro anos para cá, com mais informações", afirma.
O profissional aponta que a demanda ainda é maior por pacientes que sentem sintomas da Síndrome de Asia e da doença do silicone. "Elas têm os mesmos sintomas e são difíceis de distinguir. São 42 deles, como dores nas articulações, queda de cabelo e ganho de peso. Não existe um exame que comprove que os sintomas tenham origem no silicone. Concluímos pela sintomatologia, se a paciente melhorou após a retirada da prótese."
O médico observa que também há procura do procedimento por arrependimento ou mudanças de hábitos. "Tem um público que não quer mais ter um corpo estranho no organismo, não quer mais aparentar uma mama artificial e deseja uma coisa mais natural. Tem quem se arrependa também."
A professora e a criadora de conteúdo Larissa de Almeida, 38 anos, mantém no Instagram a página "Explante de Silicone", em que reúne informações sobre o procedimento e sobre as síndromes que podem ser desencadeadas pelo implante.
"Eu tinha silicone e contabilizei mais de dez sintomas que poderiam estar relacionados, mas não tinha informações a respeito. Quando entrei em um grupo no Facebook, li muitos artigos científicos. Achei que aquilo não poderia ficar restrito a um grupo fechado e criei a página com a intenção de ajudar a informar outras pessoas."
Pela sua percepção e contato com as seguidoras, a maioria busca a página por questões ligadas à saúde. "Mas acho positivo que também cresça este movimento de mulheres buscando naturalidade. Muitas colocaram sob pressão, sem saber os riscos. Precisamos olhar nosso corpo com carinho, admirá-lo por causa das nossas formas originais e saber que podemos ser sim muito bonitas naturalmente e sem danos a nossa saúde."
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