Para transar e fotografar: arquiteta projeta suítes de motel instagramáveis
Os motéis sempre fizeram parte do imaginário da arquiteta paulistana Fabiola Fera, 48 anos: ela cresceu em uma região de São Paulo com grande concentração de estabelecimentos do tipo e, mais tarde, jovem adulta, costumava recorrer a eles porque a família não era muito permissiva em relação a dormir em casa com o namorado. O que ela não sabia, até então, é que faria carreira justamente projetando estes espaços —desde 2010, ela já assinou mais de 150 em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Miami, nos Estados Unidos.
Fabiola começou no início da última década, período em que os motéis passavam por transformações: deixavam de se "esconder" para virar espaços descolados, quase objetos de desejo. A arquiteta —que ainda é uma das poucas mulheres projetando motéis no Brasil— impulsionou esse movimento, criando suítes com cenários bem instagramáveis. A ideia era que "as pessoas tirassem foto nesses cenários e dessem check-in no motel, sem vergonha de serem vistas ali".
Além disso, ao identificar que o público dos motéis era majoritariamente formado por casais em relacionamento estável e quem escolhia a suíte era quase sempre a mulher, ela ajudou a derrubar o conceito antiquado de que os motéis eram espaços para o público masculino, e passou a substituir quartos com uma estética "agressiva" —com muito vermelho e preto, algema e chicote— por espaços mais lúdicos, com experiências de descompressão, que deixam à vontade tanto homens quanto mulheres.
Nova geração de motéis
Quando começou, Fabíola encontrou uma nova geração de donos de motéis, muitos deles herdeiros dos estabelecimentos dos pais e que estavam dispostos a mudar um pouco a imagem do setor.
"Antigamente, uma pessoa nunca falava que era dona de um motel. Com o sexo sendo discutido e os tabus diminuindo, as novas gerações da motelaria entraram no mercado querendo ter orgulho do trabalho que fazem, da experiência que oferecem", percebe.
A proposta que Fabiola começou a desenvolver partiu especialmente de dois dados: a maior parte do faturamento dos motéis vem de casais fixos e quem escolhe a hospedagem é quase sempre a mulher. "Com essas informações, essa visão antiquada, de que o segmento é uma coisa mais masculina, caiu por terra".
Ela achava a estética dos motéis, em geral, um tanto agressiva: "Você entrava e já via a imagem de uma mulher nua na parede, uma linguagem toda voltada para o masculino porque, até então, havia uma cultura de que a satisfação sexual era um assunto masculino. Tudo que falava de sexo, falava com o homem. Era como se o motel fosse um lugar aonde ele levava uma presa".
Ao mesmo tempo, os estabelecimentos que tentavam mudar essa imagem optavam por uma espécie de apartamento decorado, muito elegante, mas frio, impessoal, sem muito apelo à sexualidade, lembra a arquiteta. "Tem motéis que não têm nada de agressivo, mas parecem uma clínica".
Suítes instagramáveis e erótico 'fora do comum'
A solução foi recorrer ao lúdico e à psicologia das cores e das formas para garantir que as suítes de motel fossem um lugar de "descompressão" para os casais e que, tanto o homem quanto a mulher, se sentissem à vontade no local —sua criações usam de cores vibrantes e luzes néon, por exemplo, mas tudo "fora daquele senso comum do que é erótico, aquela estética vermelha e preta, chicote e algema".
"Tentei propor uma linguagem estética que fosse libertadora, que fizesse as pessoas se sentirem à vontade, mais confiantes. A ideia é que o casal, mas especialmente a mulher, não se sinta intimidada pelo motel, mas curiosa", fala.
Entre os motéis mais conhecidos projetados por Fabiola estão o Lush e o Classe A, ambos na zona leste de São Paulo.
Neles, merecem destaque a suíte Céu, do Lush, toda revestida com estampa de nuvens e espelhos, com nicho ideal para tirar foto; e a Super Luxo, do Classe A, com uma área externa toda em tons de rosa, inclusive banheira e piscina, e parte da letra da música "A cor é rosa", do cantor Silva, adesivada na parede.
"Começou aquela onda de todo mundo dar check-in em todo lugar [no Instagram], e meu sonho era que as pessoas tirassem fotos nesses cenários e dessem check-in no motel, no sentido de não terem vergonha de serem vistas ali —a ideia era que, aos poucos, as suítes fossem virando objeto de desejo", fala Fabiola.
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