Topo

Evangélica, 'mãezona' e cheia de amigos: quem é a diarista agredida em SP

Andressa foi se isolando aos poucos dos amigos depois que se casou com o homem suspeito de tê-la agredido - Arquivo Pessoal
Andressa foi se isolando aos poucos dos amigos depois que se casou com o homem suspeito de tê-la agredido Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para Universa

29/07/2022 14h15

A diarista Andressa dos Santos Freitas, 26, que foi encontrada desmaiada e com marcas de agressão em uma viela de um conjunto habitacional no bairro Santo Antônio, em Guarujá, no litoral de São Paulo, sempre foi uma jovem alegre e cheia de amigos, segundo familiares. Internada em estado grave no Hospital Santo Amaro desde domingo, ontem ela deixou a UTI. A família relata que o marido de Andressa, que estava com eles no hospital, desapareceu (leia mais abaixo).

Filha mais velha entre cinco irmãos, Andressa sempre foi a "mãezona" dos mais novos. Seu irmão, Richard Farias, 21, conviveu com ela todos os dias enquanto ela ainda morava com a família em um pequeno apartamento no conjunto habitacional do bairro.

Até que conheceu o jovem que se tornaria seu marido. "Ela se apaixonou por ele. Eles pareciam um casal normal, sabe? Desses que não brigam, que têm uma vida certinha. Ninguém imaginaria o que haveria por trás dessa paz. Só a minha mãe sentia que algo não estava certo. Sabe como é, coração de mãe não se engana", disse Richard, em entrevista a Universa.

Andressa sempre teve muitos amigos, desde a infância. Evangélica, gostava de frequentar os cultos com a família. Mas também não deixava de exercer o seu lado "baladeira". Gostava muito de frequentar bailes e festas, principalmente se rolasse muito música sertaneja e funk.

Ela é muito querida, sempre soubemos disso. Quando eu fiz um post falando que ela havia sido agredida, que estava no hospital, recebemos tantas mensagens lindas, de apoio, de suporte. Várias pessoas vieram nos visitar, se colocaram à disposição para a ajudar. Minha irmã é uma mulher muito especial. Até que conheceu esse cara.

Após alguns meses de namoro, Andressa e o namorado resolveram morar juntos. Alugaram uma casa a poucas quadras do apartamento da família de Andressa. A partir daí, segundo familiares, a jovem, antes alegre, comunicativa e baladeira, foi mudando seu comportamento.

A jovem engravidou e, com o tempo, foi se tornando cada vez mais retraída. Deixou de bater papo com os amigos, de interagir nas redes sociais e suas postagens foram diminuindo. Ela só não deixou de se relacionar com a família, que morava perto dela. Mas seu isolamento foi se tornando cada vez mais perceptível.

"Minha mãe desconfiava que tinha algo errado. Eu mesmo desconfiei também quando ele a obrigou a desfazer amizade com um irmão que ela tem por parte de pai. Mas a gente não sabia o que acontecia na intimidade. A gente não tinha ideia de que ele podia ser tão violento", disse o irmão, citando que o marido era controlador e possessivo.

Andressa não chegou a concluir o ensino médio, por escolha. Desde muito jovem, seu foco era no trabalho. Ela preferia trabalhar a estudar.

"Ela queria atingir uma independência financeira, ter o cantinho dela, as coisas dela. Quando ela conheceu o marido, foi a chance que ela teve. E eles pareciam estar mesmo se dando bem. A casinha arrumada, o bebê com tudo do bom e do melhor. Ela trabalhava como diarista para ajudar na renda. Trabalhar era com ela", contou Richard, que também gosta muito de trabalhar e atua como garçom em um restaurante da cidade.

O dia da agressão

Andressa foi encontrada desmaiada e com marcas de agressão na porta do prédio onde a família mora. Richard estava dormindo, por volta das 8 horas, quando escutou os gritos das tias que moram no apartamento com ele.

"Foi uma coisa horrível quando eu desci as escadas e me deparei com a minha irmã lá, caída, toda machucada, gemendo. A gente gritava o nome dela, mas ela não respondia. Estava inconsciente", contou o irmão.

"Quanto ao marido, ele chegou minutos depois, dizendo que não tinha chegado com ela no prédio. Que ele chegou e viu ela caída, que não sabia o que tinha acontecido. Mas fomos saber depois, pelos vizinhos, que ele chegou com ela num Uber. E a vizinha que chamou a polícia e o Samu viu quando ela estava sendo agredida por um homem. Só podia ser ele. Eles tinham ido a uma festa no sábado e isso aconteceu na manhã de domingo".

O marido foi junto com a família de Andressa até o hospital. Os médicos, percebendo que se tratava de um caso de agressão, chamaram a polícia. O rapaz foi levado para depor na delegacia "Mas eles disseram que as provas eram insuficientes e soltaram ele", contou Richard.

Bebê foi devolvido

A primeira coisa que o suspeito fez, segundo os familiares, foi ir até o apartamento da família de Andressa buscar o filho do casal, de um ano e meio, que estava sob os cuidados das tias enquanto o casal estava na festa. "Ele sumiu com a criança. Levou para a casa da avó dele. Mas aí ela ligou para o pai dele e o pai dele ligou para a minha mãe. Foi quando resolveram devolver, para não dar conotação de sequestro", afirmou Richard.

A partir daí, o suspeito desapareceu, segundo a família. Universa entrou em contato com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) para confirmar a identidade e questionar por que o suspeito foi liberado, se a polícia tem informações de seu paradeiro, mas até o momento o órgão não havia respondido ao e-mail enviado.

"Queremos que seja feita Justiça. Não é possível que esse crime fique impune. Ele foi muito sangue frio, mentiu para todo mundo, enganou a gente esse tempo todo. Ele tem que pagar", declarou o irmão de Andressa. "E a minha irmã, agora que saiu da UTI, temos fé que vai voltar a ser a mesma mulher sorridente, alegre de antes. E vamos fazer de tudo, tudo mesmo, para que ela nunca mais volte a ver esse homem novamente".

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.