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'Cinco anos após divórcio, casei novamente com meu ex'

Janaina Cruz, em depoimento a Ed Rodrigues

Colaboração para Universa, do Recife

30/07/2022 04h00

Voltar com ex é furada? Muita gente pode avaliar que sim. Quem já passou por toda a descoberta das qualidades e defeitos de um companheiro e percebeu incompatibilidades que tornam o relacionamento inviável, certamente não apostaria em uma reconciliação. O que acontece é que as pessoas mudam. Em São Paulo, por exemplo, observar o amadurecimento, a mudança de postura e o início de uma admiração mútua levou uma psicóloga a reatar um casamento terminado havia cinco anos.

Janaina Cruz, 43 anos, contou a Universa que houve muitas brigas em seu casamento, e que os desentendimentos culminaram na separação. No entanto, anos depois, as incompatibilidades sumiram. O ex mudou. Ela mudou. E eles começaram a se entender, ter um convívio mais próximo e se "reapaixonaram", com o perdão ao neologismo. Essa reaproximação deu nova chance ao casamento e viralizou nas redes sociais após a psicóloga contar aos internautas essa "pegadinha do amor" em sua vida. Veja abaixo a história de Janaina.

"A maior superação que vivi, até esse momento, foi no meu relacionamento amoroso. Me casei em 1999 com Fernando Franzoi, engenheiro civil nascido em Penápolis, interior de São Paulo.

Nos conhecemos da forma mais improvável, no ano de 1998, em uma concessionária onde eu trabalhava como vendedora de acessórios. Na época, eu tinha 20 anos e a última coisa que eu queria era me casar, pois todas as experiencias de namoro anteriores tinham sido frustrantes. Tinha determinado que viveria uma vida de solteira por pelo menos dez anos, mas nem tudo é como a gente pensa que é.

@janaina_cruz Responder @andreiaferraz14 demorou mas consegui resumir a nossa historia que foi tao intensa! #casamento #casal #divorcio #perdao #aprendizado #relacionamentos #fy ? som original - Janaina Cruz

Fernando tinha 27 anos, vinha de um relacionamento de oito anos, totalmente desgastado, sobrevivendo aos trancos e barrancos a uma distância de 450km. Ele fala que naquele momento escolhia se dedicar e colocar foco na carreira profissional, deixando a vida amorosa correr o fluxo da zona de conforto.

Logo que nos vimos pela primeira vez, sentimos uma profunda ligação e atração um pelo outro. Fui aceitando as investidas diárias dele, com ligações demoradas, aparições repentinas no meu trabalho, bilhetes e flores com pedidos de namoro.

Eu fui bem resistente porque não acreditava que alguém poderia se apaixonar tão rápido, ainda mais com nossa diferença de idade. Me sentia muito imatura para começar algo sério e ele, muito agradável e divertido repetia: 'Eu não quero ficar com você, quero namorar. Então, não teremos nada além de uma amizade até que você tenha uma resposta definitiva.' Confesso que essa fala dele me deixava cada vez mais interessada e apaixonada.

O primeiro casamento de Janaína e Fernando aconteceu em 1999 - Acervo pessoal - Acervo pessoal
O primeiro casamento de Janaína e Fernando aconteceu em 1999
Imagem: Acervo pessoal

Depois de um mês começamos a namorar, em um ano estávamos casados e nasceu nossa primeira filha. Tudo foi acontecendo muito rápido e de forma intensa.

Aos 26 anos, eu já estava com meus três filhos, morávamos na cidade de Lins, interior paulista, e eu não conhecia ninguém lá. Não tinha muita perspectiva profissional. Me sentia totalmente sozinha, insegura e incapaz, tomada pelos afazeres domésticos e cuidado com meus filhos.

As brigas, ciúmes e desentendimentos só aumentavam e, com muita insistência, decidi que queria estudar. Não queria ser apenas mãe, queria ter mais autonomia, me sentir útil. Para além da maternidade e do nosso núcleo familiar, eu queria expandir como pessoa no mundo.

Com muita coragem enfrentei o vestibular e comecei a faculdade de psicologia no ano de 2006. Não era nada fácil cuidar dos três filhos pequenos, administrar a casa e fazer faculdade, mas eu fui fazendo meu melhor.
Em 2007, voltamos a morar em São Paulo, e nossos desentendimentos aumentaram muito porque tive que recomeçar o processo da faculdade do zero, administrava o cuidado e a educação dos meus filhos e Fernando trabalhava mais de 14 horas por dia.

Fomos nos distanciando emocionalmente um do outro. Nos anos que se seguiram, muitas transgressões aconteceram, principalmente mentiras e traições. A gente não tinha mais diálogo, toda conversa acabava em briga. Tínhamos uma dependência emocional importante dos nossos filhos e da convivência familiar, mas não tínhamos coragem de assumir que era o fim do nosso relacionamento.

Nossa parceria se reduzia cada vez mais, ao cuidado dos filhos e nosso amor e admiração um pelo outro foi se diluindo pelas situações difíceis do dia a dia. Na época, entre 2011 e 2012, fizemos várias tentativas para salvar o casamento: terapia individual, terapia de casal, benzedeiras, orações, enfim... tentamos todos os recursos que conhecíamos, e que faziam sentido para gente, mas nos distanciávamos cada vez mais um do outro.

Em 2014, eu me apaixonei por um cara e decidi que o rompimento definitivo era o mais correto a ser feito e assumido. Decidi que não aceitaria mais aquele padrão de mentiras, traições e brigas que estávamos imersos e não fazia sentido permanecer tentando segurar uma relação que já tinha acabado.

Entendemos que continuar daquele jeito só iria ferir ainda mais nossos filhos e o restinho de amizade que ainda podíamos conservar um com o outro. Escolhemos o divórcio.

Nos separamos e um verdadeiro inferno começou. Foi muita briga por um ano até conseguirmos definir os acordos e a pensão alimentícia das crianças porque eu ainda não tinha condições financeiras sólidas. Voltei a morar na casa dos meus pais, junto com meus três filhos.

Vivendo o luto de 14 anos de casamento aos trancos e barrancos até que comecei a namorar o cara por quem tinha me apaixonado. Um homem extremamente abusivo com quem fiquei por três anos, emocionalmente frágil e refém.

Nesse tempo da separação, Fernando namorou algumas mulheres, mas nunca se firmava com nenhuma delas. Tentávamos manter o respeito e a educação um pelo outro, mas como saímos muito machucados de todo o processo de divórcio, nunca tivemos conversas profundas. Falávamos somente assuntos que diziam respeito a decisões sobre nossos filhos e algumas situações familiares.

Em 2018, após a morte do meu pai, começamos a nos reaproximar e nos entender melhor. Na época, eu já estava solteira havia quase um ano. Fernando saía com uma mulher, que aliás foi uma das namoradas dele que eu mais gostei, e conseguimos conviver em paz nesse tempo.

A admiração mútua foi voltando pelas mudanças de postura e atitudes, no geral, diante dos nossos filhos e um para com o outro. No fim daquele ano, minha filha mais velha, preocupada com o fato de que eu passaria as festas de fim de ano sozinha, começou a propor que eu viajasse com eles, para a casa dos pais de Fernando, já que a paz estava reinando e uma amizade tranquila se sustentava havia pelo menos oito meses.

Foi então que viajamos juntos em dezembro de 2018, e aquela atmosfera familiar totalmente renovada e transformada pelo tempo, por todos os enfrentamentos, tempestades, experiências e vivências difíceis estava gostosa e admirável.

Ali tanto eu quanto ele percebemos que algo muito profundo tinha sido transformado e que éramos absolutamente as mesmas pessoas, só que muito melhoradas e trabalhadas pelo tempo, pela disponibilidade que tivemos em aprender com ele e com as experiências que escolhemos viver. Retomamos o relacionamento depois de muita conversa, em fevereiro de 2019, e estamos juntos até hoje.

A nossa história nos permitiu entender que outro relacionamento era possível para nós dois, que nossa família merecia outra chance e que já havíamos nos perdoado por não termos tido sucesso, nem maturidade, na primeira tentativa.

No nosso caso, a separação foi um tempo necessário para muita cura que nos proporcionou desenvolver recursos de enfrentamentos, nos tornando pessoas mais reais e resilientes.

Com isso, concluo que não escolhemos quem amar, mas que podemos, sim, escolher com quais defeitos queremos lidar e como podemos transformar isso em uma verdadeira história de amor, superação e resiliência." Janaina Cruz, 43 anos, é psicóloga e moradora de Osasco, São Paulo.