Cris Guterres: 'Racismo estrutural não me permite ter reação de Gio Ewbank'

Neste sábado (30), a atriz Giovanna Ewbank viralizou nas redes sociais ao defender os filhos de ataques racistas no restaurante Clássico Beach Club, na Costa da Caparica, em Portugal, onde passa férias com a família. Uma mulher que estava no local chamou seus filhos Títi e Bless de "pretos imundos", de acordo com testemunhas. Uma família angolana que estava presente também recebeu ofensas. A mulher saiu do local detida pela polícia, que foi acionada pelo ator Bruno Gagliasso, mas segundo informações do jornal português "Público", ela foi liberada.

No vídeo que circula nas redes, é possível ouvir Giovanna chamando a agressora de "racista nojenta" e que merece levar "socos e porradas". A atriz também teria dado dois tapas e cuspido no rosto da mulher, que não teve sua nacionalidade revelada. "Confirmamos, conforme vídeos que já circulam no Brasil, que Giovanna reagiu e enfrentou a mulher, enquanto Bruno Gagliasso, seu marido, chamou a polícia. Informamos ainda que Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank prestarão queixa contra a racista formalmente na delegacia portuguesa", disse comunicado da assessoria de imprensa da atriz.

Cris Guterres, colunista de Universa, mulher negra e mãe de um filho também negro, disse que, ao contrário da Giovanna, nunca poderia ter uma reação tão forte frente a ataques raciais, pois o racismo estrutural não permite. Em vez de só defender seu filho, ela diz, possivelmente os dois acabariam detidos se agredissem uma pessoa branca que teve uma atitude racista com eles.

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A seguir, Cris conta como é enfrentar uma situação racista envolvendo um filho, sendo uma mulher negra:

"Pelo o que vi nos vídeos e o que li nos comentários, parece que a Giovanna Ewbank e seu marido, Bruno Gagliasso, estavam em uma festa em Portugal com seus filhos, Bless e Titi, quando uma mulher teria dito 'tire esses pretos imundos aqui'. Giovanna ficou muito nervosa e teria cuspido na cara da mulher e dito que ela merece porrada, o que é possível ver em um vídeo. Não sei a nacionalidade da agressora.

O fato é que ficamos muito nervosas e, como mães, nos descontrolamos quando vemos nossos filhos vivendo situações de agressão. Giovanna é uma mulher que abraçou a causa racial, e ver nossos filhos serem agredidos dessa forma nos deixa sem controle.

Mas eu, que sou uma mãe negra de um menino negro, nunca conseguiria ter uma reação como essa. Como já não consegui ter quando uma situação de violência racial aconteceu com meu filho e policiais. Não pude ter a reação da Gio, porque o racismo estrutural não me permite. Eu teria saído daquela festa escorraçada, presa, e estaria na delegacia explicando porque fui violenta com essa mulher. Eu seria, provavelmente, obrigada a ouvir que me excedi, que não foi nada disso que aconteceu, que não foi racismo, que eu não entendi o comentário.

Esse é um privilégio de uma pessoa branca. Quando o movimento negro questiona o privilégio branco estamos falando até disso. Da possibilidade de agredir uma pessoa branca e sair sem ser preso ou questionado pelo ato, sem ser agredida fisicamente, como a Giovanna fez."

Em entrevista a Universa, Giovanna já falou que o prvilégio não previne que seus filhos sofram racismo. A atriz disse que Bless questiona mais a questão das pessoas terem "cores diferentes", já Titi ama sua cor e pergunta menos. "O racismo está ao lado, e eles já foram vítimas na internet. É preciso que falemos dele. Espero que eles estejam mais preparados e orgulhosos de quem são e de suas origens quando isso acontecer diretamente com eles, porque vai acontecer. Nossos privilégios não vão proteger nossos filhos do racismo", disse.

"Eu e Bruno [Gagliasso, marido de Giovanna e pai das crianças] damos nossas vidas para que estejam fortes e empoderados nesse momento. E amor. Muito amor, porque o amor é também sobre acolhimento."