Criança namora? Foto de filho de atriz beijando amiguinha gera discussão
Na tarde de terça-feira (3) uma foto postada pela apresentadora e atriz portuguesa Sofia Arruda causou polêmica nas redes sociais. A imagem seria um registro do "primeiro beijo" do seu filho, Xavi, que tem apenas três anos. Na legenda, Sofia ainda escreveu que havia "pintado um clima" e que conhecia os pais da menina e, por isso, estava "tudo certo".
A mãe foi acusada por seguidores de sexualização infantil. Segundo especialistas ouvidos por Universa não se deve, mesmo, falar de "namoro" quando se trata de crianças — além de crime, eles não têm maturidade para esse tipo de desejo e relação. Cabe aos pais, portanto, não incentivar esse tipo de comportamento.
"O excesso de estímulo e a precocidade sexual causam graves danos tanto no corpo quanto no emocional das crianças, reduzindo o tempo necessário para o pleno desenvolvimento físico, mental e emocional", fala Júlia Bárány, psicanalista e pedagoga Waldorf, mestre em psicologia transformacional.
Logo após as críticas, Sofia Arruda apagou o post mas comentou para os seus cerca de 575 mil seguidores que apagou a foto para não gerar polêmica nem "alimentar fofocas". "Se a internet está doente eu não compactuo com isso", finalizou a influenciadora.
Assim como Sofia, ainda é muito comum pais, cuidadores e responsáveis, acharem "graça" desse tipo de comportamento na infância, chegando até a incentivá-los. Porém, a recomendação é fazer exatamente o oposto, mostrando às crianças que há hora certa para tudo e esse momento ainda não chegou. Afinal, trata-se de uma postura precoce e as relações (bem como a atração sexual) não devem ser apressadas.
Criança não namora
Júlia explica que a atração por outra pessoa ocorre apenas com a puberdade, momento em que se inicia a produção hormonal e que marca as mudanças nos corpos de meninas e meninos. Portanto, antes dessa fase não é possível falar desse sentimento.
Mas é na primeira infância, que vai até os cinco ou seis anos, que os pequenos estão no pico de descobrimento do mundo em que vivem e testam limites —seus, dos pais e dos professores. Não à toa, também é nessa faixa etária que podem entrar em cena essas expressões infantis.
"Nessa fase, o que ela sente pelo amiguinho da escola é apenas afeto, e não se pode confundir com amor na forma erotizada. Existe a reciprocidade, a empatia com o outro, a pureza de sentimento", salienta a psicóloga forense Deise Cristina Gomes.
A profissional, que é especialista em TDHA e Ansiedade e, também, em microexpressões faciais, explica ainda que muito dessa atitude vem da reprodução de comportamentos adultos por parte da criança. Ou seja, ela começa a imitar a maneira como as pessoas mais velhas de seu convívio agem, como os próprios pais, irmãos maiores, entre outros.
Com isso, tendem a querer abraçar e beijar, assim como veem as pessoas com quem convivem. Nesse momento, os pais devem, com leveza, coibi-las e não estimulá-las. "A criança aprende por experimentação, imitação e orientação. Portanto, se o namoro é tido como algo desejável e até incentivado, a criança vai agir assim. A orientação que os pais e cuidadores deveriam dar para esta criança é explicar a diferença, e conduzir, não criticar nem incentivar", afirma Júlia.
Papel da escola
Como normalmente as principais relações das crianças são com colega da escola, o estabelecimento também deve agir e intervir. Segundo a pedagoga Angela Antunes, assim como os pais, os educadores não devem incentivar tal comportamento - às vezes, expressos por beijinhos, mãos dadas e abraços impróprios para a primeira infância.
O ideal é tirar o foco do namoro, deixando-o em segundo plano, e centrar a atenção dos pequenos em brincadeiras e atividades prazerosas.
Mas alguns sinais não devem ser ignorados. "Primeiro, deve-se conversar com as crianças para entender o comportamento, saber se há adultos incentivando e qual modelo estão reproduzindo. Isso se aplica quando há sexualidade exacerbada também", diz Angela.
Depois, o diálogo costuma ocorrer com os pais, buscando identificar se há o estímulo em casa, alertar sobre o ocorrido e, juntos, escola e pais promoverem ações que evidenciam brincadeiras e atividades --e não namoro.
Aos pais, a pedagoga é enfática ao aconselhá-los sobre o que fazer: conversar, conversar e conversar. É um bom momento para expressar o amor por familiares e amigos, deixando claro que isso é apenas gostar e não namorar. Assim, as crianças são apresentadas às formas de amar que não envolvem a necessidade de um namorado --afinal, ainda não é hora disso.
A psicanalista e pedagoga Júlia Bárány reforça também que educação sexual como um dos pilares, inclusive, de proteção infantil. "A educação sexual é precedida pela educação emocional, e pela educação moral, ou valores. Ensine a criança a identificar o que sente, e a lidar com o que sente. Acolha, não critique nem condene, afirma. Estabelecer um diálogo de confiança e respeito dá segurança para a criança e para os adultos cuidadores.
Procurada por Universa, a apresentadora e atriz portuguesa Sofia Arruda não respondeu as mensagens.
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