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'Grata por estar viva', diz jovem que perdeu olho por tiro de espingarda

 Raylla usa as redes para falar sobre suas próteses ocular  - Acervo pessoal
Raylla usa as redes para falar sobre suas próteses ocular Imagem: Acervo pessoal

Fernando Barros

Colaboração para Universa, de Salvador

06/08/2022 04h00

Durante as comemorações do Natal de 2018, a jovem paranaense Raylla Fachin perdeu o olho esquerdo após um tiro com uma espingarda de pressão atingir, acidentalmente, seu rosto. Ela passava os festejos de final de ano com a família do então namorado num sítio em São Lourenço do Oeste, no estado de Santa Catarina, quando um grupo de amigos brincava de tiro ao alvo com o equipamento (geralmente é utilizado para prática esportiva ou caça, com projéteis de chumbo impulsionados por ar comprimido, diferentemente das armas de fogo), quando um dos disparos acabou acertando o rosto da jovem.

Desde então, Raylla, que atualmente está no primeiro semestre do curso de medicina veterinária, usa as redes sociais para "Incentivar as pessoas a gostarem de si como são", conta, em entrevista a Universa. Moradora de Santa Isabel do Oeste (PR), a jovem que perdeu o olho esquerdo aos 14 e hoje usa uma prótese ocular compartilha sua história e reúne mais de 2,6 milhões de seguidores no TikTok e 434 mil no Instagram.

Nos seus perfis, ela responde com bom humor a curiosidades que surgem em relação ao seu dia a dia como, por exemplo, perguntas dos seguidores sobre "como é ter um olho só", "o que aconteceu", "se os outros a aceitam por causa disso", "se ela é feliz assim" ou "de que é feita a sua prótese".

Raylla conta que suas publicações ajudam na autoestima de muita gente. "Recebo comentários de pessoas que me veem nos vídeos sem a prótese e falam que passaram a se aceitar, que tinham medo de usá-la e decidiram experimentar ou que melhoraram de uma depressão'', afirma.

Raylla Fachin, 18 anos, perdeu um olho aos 14 e usa as redes para falar sobre o assunto  - Acervo pessoal  - Acervo pessoal
Raylla Fachin, 18 anos, perdeu um olho aos 14 e usa as redes para falar sobre o assunto
Imagem: Acervo pessoal

Projétil ficou alojado na cabeça e não pode ser retirado

"Lembro de na hora sentir muita dor de cabeça, mas num primeiro momento não percebi que estava enxergando de um olho só", recorda Raylla, que foi socorrida e levada imediatamente para um hospital de São Lourenço e depois transferida para Chapecó.

Mãe da estudante, Marilangela Fachin conta à Universa que, ao saber do ocorrido, viveu momentos desesperadores. "Estávamos a 320 km longe dela, meu esposo na época em recuperação de uma fratura na clavícula e, no caminho até o hospital, só fomos pedindo a Deus que a protegesse e que o pior não acontecesse".

Raylla ficou 11 dias internada e, posteriormente, passou por todo o processo de retirada do globo ocular atingido e tratamento da região. O projétil ficou alojado na cabeça da paranaense a 2 mm da meninge e sua mãe informa, que, segundo os médicos, não pôde ser retirado para não comprometer suas funções neurológicas.

"Se fossem retirá-lo, teriam que atravessar o cérebro e isso poderia afetar os movimentos e a fala dela", diz Marilangela. Para acompanhar a posição do projétil, até hoje, Raylla precisa fazer uma tomografia da cabeça uma vez por ano.

Já a sua primeira prótese ocular foi colocada em seu aniversário de 15 anos. Na época, a jovem teve a ideia de fazer uma vaquinha online para ajudar nos custos da confecção da prótese e, com essa iniciativa, a família conseguiu arrecadar o valor de R$ 11 mil.

"Quando olho para trás, eu me sinto muito grata por estar viva"

Por ser monocular, Raylla diz que precisa tomar alguns cuidados, como evitar poeira e lavar e higienizar bem a região do olho. "Eu também uso bastante óculos de sol para proteger e costumo ativar o modo noturno nas configurações do celular para o brilho da tela não me incomodar", conta.

Raylla Fachin já acumula quase 3 milhões de seguidores no TikTok  - Acervo pessoal  - Acervo pessoal
Raylla Fachin já acumula quase 3 milhões de seguidores no TikTok
Imagem: Acervo pessoal

Ao revisitar sua história e pensar em tudo que passou, a estudante nunca imaginaria que uma espingarda de pressão, que é facilmente encontrada em lojas especializadas em equipamentos de caça ou tiro esportivo, poderia oferecer tanto risco e gerar uma sequela para vida toda.

Por isso, Raylla e sua mãe acreditam que seja necessário um maior controle e cuidado no uso e manuseio desse tipo de equipamento por aí, a fim de evitar possíveis fatalidades.

Apaixonada por animais, principalmente cavalos, a agora influencer planeja para o futuro conciliar sua atuação na internet com a carreira em medicina veterinária. "Sinto muita gratidão por chegar até aqui e fico feliz em hoje poder ajudar outras pessoas a se aceitarem. Quero motivá-las a ser quem são".