Ana Hikari lança debate racial na Globo: 'Pessoas amarelas não são brancas'
A atriz Ana Hikari usou o Twitter, nesta sexta-feira (5), para se posicionar contra o que considerou preconceito contra asiáticos na novela "Cara e Coragem".
O comentário veio após Ana Clara e Bruno De Luca serem escolhidos como os protagonistas de um comercial inspirado na cultura oriental, que iria ao ar na trama.
A cena com os dois atores brancos foi exibida na novela das 19h na quinta-feira (4). Com roupas, maquiagem e adereços típicos, eles precisaram de dublês, que foram interpretados por Paolla Oliveira e Marcelo Serrado.
No texto, Ana Hikari comparava a foto de seu crachá ao emoji de um palhaço.
Mesmo com medo, a atriz manifestou sua indignação.
A comoção na internet foi tanta —inclusive com influenciadores amarelos, como Bruna Tukamoto falando sobre o tema— que a Globo chegou a cancelar a exibição da sequência da cena, que iria ao ar no dia seguinte.
Em entrevista a Universa, Ana reforçou que a sua crítica não era pessoal contra os atores escolhidos para a cena. "As oportunidades para pessoas racializadas no mercado audiovisual são escassas. Quando vemos a oportunidade de ter representatividade ali e você substitui por uma pessoa branca, está basicamente tirando a chance de trabalho de pessoas que têm poucas oportunidades."
Ana destacou que decidiu falar sobre o assunto porque sabe que existe um diálogo interno na emissora de acolher e escutar seus funcionários. "Se eu tive coragem de fazer esse tuíte é porque na empresa já me chamaram para conversar sobre esse assunto, me ouvem muito e ouvem também os outros funcionários amarelos, que não são poucos."
A atriz global ainda relembrou o nome desse tipo de discriminação racial: whitewashing (substituir um personagem racionalizado por um personagem branco) ou yellowface (substituir um personagem que é amarelo por uma pessoa branca e colocá-la com trejeitos, caracterização e figurino estereotipado de uma pessoa asiática).
"As pessoas têm que entender que pessoas amarelas não são pessoas brancas. E, a partir do momento em que você está em um sistema com hegemonia branca, as outras raças que não são brancas não podem ser estigmatizadas, estereotipadas nem discriminadas", completou a atriz.
Informar, para ela, é a solução para acabar com o problema, que ainda acontece muito. "Tem que entender quais raças temos no nosso país e que quem não é branco está em um lugar de opressão. O problema dentro audiovisual é que ele ainda é muito branco."
Ela afirma que é importante as empresas começarem a se questionar mais quando tratam de questões raciais e prestar atenção nisso. "Afinal, aquela cena passou por diversas equipes. Ninguém pensou que aquilo era a identidade racial de um povo e só tinham pessoas brancas interpretando. Ninguém questionou a cena porque a equipe é majoritariamente branca. Infelizmente, quem está em um lugar de privilégio não consegue ter a sensibilidade de questionar."
Abraçando a causa
A atriz conta que, quando se deu conta de que era a primeira protagonista asiática da emissora, entendeu sua responsabilidade de falar sobre o racismo amarelo. "A responsabilidade chegou ao meu colo com as muitas mensagens que recebi agradecendo por essa representatividade."
Segundo a atriz, é importante falar sobre o tema desde cedo com as crianças. "Falta educação nas escolas sobre identidade racial. A gente tem que entender, desde pequeno, que o Brasil não é uma democracia racial, como se prega. Também é muito falado que todas as raças são bem-vindas, que não existe racismo nem preconceito no Brasil, porque somos uma mistura. Isso é mentira. Mesmo antes da imigração japonesa já existia preconceito contra pessoas amarelas."
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