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Influencer fala de paternidade gay: 'Nossa família é como qualquer outra'

Os influenciadores digitais Rafael César e Luke Vidal, e o filho Kauan de 8 anos  - Divulgação
Os influenciadores digitais Rafael César e Luke Vidal, e o filho Kauan de 8 anos Imagem: Divulgação

14/08/2022 04h00

Os influenciadores digitais Rafael César e Luke Vidal são um sucesso na internet. Só no TikTok, o casal já acumula mais de 4 milhões de seguidores que acompanham vídeos de piada e relatos de sua rotina - principalmente, sobre como é a paternidade de Kauan, de oito anos, o "patrãozinho".

Juntos há 13 anos, o casal adotou Kauan quando ele tinha cinco anos e dez meses. "Quando decidimos adotar tudo aconteceu da forma mais linda possível para que o Kauan chegasse em nossa família", diz Luke em entrevista a Universa. O encontro da família foi um misto de emoções traduzida na música que compôs para o filho, chamada "Montanha Russa". "Ela fala sobre esse sobe e desce de todo o aprendizado que é a parentalidade", diz.

Para Luke, o melhor da paternidade é poder estar presente em todos os momentos. "Acompanhar a evolução e estar presente em todos os momentos possíveis. Desde uma apresentação na escola até mesmo um dente que cai. Essa construção do relacionamento parental é lindo", diz.

Preconceito se enfrenta de cabeça erguida

Abrir a porta de casa e expor a vida da família nas redes sociais significa também deixar um espacinho para opiniões - sejam elas bacanas ou não. E quando o foco das gravações é um casal homoafetivo, os palpites podem ser ainda piores.

Luke afirma que ele e o marido Rafa costumam se posicionar de maneira muito natural e com humor. "Chegamos na casa das pessoas de forma muito tranquila por isso elas aceitam essa diversidade. Queremos mostrar que o nosso casamento e família é como qualquer outra, com coisas boas e ruins, alegrias e tristezas", diz.

Luke e Rafa estão juntos há 13 anos e adotaram o Kauan quando ele tinha 5 anos  - Divulgação - Divulgação
Luke e Rafa estão juntos há 13 anos e adotaram o Kauan quando ele tinha 5 anos
Imagem: Divulgação

Para isso é necessário coragem e força. E nunca abaixar a cabeça. "Todos os comentários ofensivos nós mandamos para os advogados e vamos processar, sim, as pessoas envolvidas que possam nos ofender digitalmente ou de forma presencial", diz Luke. Mas ele, o que choca mesmo, são aqueles comentários direcionados ao Kauan.

"Já perguntaram se nós o aceitaremos se ele for heterossexual. Estão comentando a sexualidade de uma criança de oito anos. Isso me deixa abismado. Mas como Kauan não tem acesso a redes sociais nós o blindamos das ofensas", diz Lule.

Educação com dois pais

Homofobia é crime, mas não impede que as pessoas preconceituosas se acham no direito de destilar ódio naqueles que amam uma pessoa do mesmo sexo. Se para os adultos se deparar com esse tipo de comportamento já é difícil, para as crianças é ainda pior. "Falamos sobre preconceito com nosso filho, mas ensinamos sempre que ele nunca deve baixar a cabeça e deixar que alguém fale o que bem entender sem que receba uma resposta", explica Luke.

Segundo o pai, Kauan tem resposta para tudo. "Ele sabe o que dizer se falarem que ele tem dois pais, sobre ele ser um menino negro, sobre ser filho adotivo. São vários preconceitos que podem acontecer com ele", diz. E a preocupação maior é com a escola, que é um ambiente onde eles não conseguem controlar as reações.

Apesar de muito bem acolhido pelos amigos e funcionários, o que aconteceria se ele fosse estudar em outra instituição? "Nosso medo é sempre externo. Quando ele for adolescente e começar a sair vamos ter outras preocupações. Mas hoje o medo é a escola e o acolhimento que ele terá", diz Luke.

Recentemente, um vídeo do casal viralizou no TikTok e foi parar nos sites de notícias. Nele, Kauan pedia para pintar as unhas. Rafa chegou a se emocionar na gravação por receio do que poderia acontecer com ele, mas sem achar certo negar o pedido da criança.

@eurafacesar A felicidade dele é a única coisa que importa pra nós! #filho #amor #fy #fyp #foryou ? som original - Rafael César

"A gente expos a unha para mostrar que era normal. Depois que ele pintou, um monte de criança foi para a escola com a unha pintada. É isso que queremos mostrar: é só uma tinta no dedo", diz Luke.

Kauan ainda não conhece o termo homofobia

Um vídeo publicitário para uma loja de brinquedos gravado por Luke e Rafa gerou muita repercussão. Nele, eles diziam que brinquedos não tinham gênero e o conteúdo chegou a ser retirado do ar devido a reação negativa do público. "Esse ódio vem de um grupo específico de pessoas conservadoras que acham que têm a capacidade de opinar sobre a vida e educação alheia. Se para o seu filho brincadeira tem gênero, tudo bem. Não vou falar que isso está certo ou errado. A minha opinião é sobre as coisas que faço com meu filho", diz Luke.

Ele garante que eles enfrentam esses preconceitos sem se abalarem ou esmorecer, mas que, às vezes, é necessário pedir o respaldo da lei. "A gente se estressa e entra na justiça para fazer valer a lei. A internet não é terra de ninguém", diz Luke. O influencer garante que não sente nada pelas pessoas que se posicionam assim, nem pena e nem raiva. "Ódio gratuito vem de pessoas infelizes e ponto", completa.

Muito jovem, Kauan ainda não conhece o termo homofobia, por exemplo, mas sabe que tem pessoas que acham errado o relacionamento de seus pais. "Já falamos para ele que tem quem pense que não podemos amar e ser felizes, mas ele mesmo faz uma réplica, dizendo que isso está errado, que o importante é o amor. Ele não tem ideia do que é homofobia porque não é um termo que abordamos com ele. Falamos disso de forma mais sucinta", diz Luke.

E toda essa exposição nas redes já ajudou a mudar a opinião de algumas pessoas. "Recebemos um feedback de uma mulher que dizia que a mãe era muito conservadora e que nos ama e hoje fala que o preconceito está na cabeça, que não há nada de errado. Nós propomos trazer a naturalização da nossa família. Não somos duas pessoas do mesmo sexo, somos apenas uma família como qualquer outra", finaliza.