Vítima de anestesista fala pela 1ª vez: 'Ele me disse pra ficar tranquila'
Um mês após ser estuprada na sala de parto, a vítima do médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra falou pela primeira vez sobre o caso neste domingo (14) em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo. Ela contou que soube havia sido vítima de estupro, na sala de parto, logo após dar à luz, por meio da irmã.
"O diretor do hospital não deixou eu sair do hospital sem saber. Ela falou: 'O anestesista abusou de você'. Imaginei tudo, menos que eu ia ouvir isso, que eu fui abusada", disse em entrevista à repórter Lília Teles.
"Em vez de eu sair pela porta da frente, com meu filho no colo, eu saí pelos fundos do hospital, escondida, com vergonha. Aquela alegria de vestir ele ao sair da maternidade, eu não tive isso"
Relembre o caso
O médico anestesista, de 32 anos, foi preso em flagrante na madrugada do dia 11 de julho após estuprar a mulher, que estava inconsciente, no Hospital da Mulher Heloneida Studart, na Baixada Fluminense. Ele foi flagrado, com auxílio de um celular escondido em um armário de um dos centros cirúrgicos do hospital, colocando o pênis na boca de uma gestante durante um parto.
O aparelho foi colocado por enfermeiras da unidade que avaliavam algumas atitudes do funcionário suspeitas — entre elas, a sedação total das gestantes durante o parto.
O médico foi indiciado por estupro de vulnerável cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão. Nas imagens gravadas, a mulher aparece deitada e totalmente sedada durante o parto, o que é um procedimento considerado desnecessário. Do lado direito do lençol, sempre usado em cesarianas, o médico aparece colocando o pênis para fora e introduzindo o órgão na boca da mulher. O ato dura dez minutos.
A equipe do hospital decidiu colocar o celular no armário depois de suspeitarem da postura do médico durante outras cirurgias realizadas na unidade. Na entrevista, a mulher diz que está grata às mulheres que filmaram e denunciaram o caso. "Se elas não tivessem tomado essa decisão, eu seria só mais uma e isso poderia estar ocorrendo agora com outra", disse.
O marido, que acompanhava a mulher na entrevista dada ao "Fantástico", disse que foi informado pelo anestesista que deveria deixar a sala.
"Eu estava no quarto, aguardando, e veio a delegada até mim, mais o oficial. Eu fiquei espantado, sem saber o que estava acontecendo", contou o marido. "Foi quando ela se dirigiu pra mim e disse pra mim que minha esposa tinha sido violentada."
'Ele me disse para ficar tranquila, que estava me monitorando'
A mulher disse que Giovanni foi o primeiro médico a falar com ela e que havia sido atencioso. "Ele falou para mim que ia falar tudo que ele ia fazer e explicar todo o procedimento", relata.
Ela disse que informou ao médico que estava se sentindo mal. "'Alguém falou: ela teve uma hipoglicemia'. Eu fiquei várias horas em jejum. Antes da anestesia, eu falei que estava me sentindo um pouco enjoada. Aí ele tirou minha máscara, eu estava com uma máscara de tecido, e me colocou no oxigênio. Ele falou que estava tudo bem, para eu ficar tranquila, que ele estava me monitorando."
A mulher conta que não se lembra de nada após fazer uma foto com seu filho após o parto. "Eu lembro só do bebê no colo dele e não me lembro de mais nada. Me sentia fraca, minha mão estava sem força, nos partos anteriores eu não passei por isso. Fiquei preocupada, mas não achei que seria nada demais."
Quando acordou, ela conta, a "sensação estranha" ficou ainda mais forte. "Percebi que tinha algo na minha boca, alguma coisa, um líquido meio gosmento. Pensei 'isso aí não é vômito' porque não tem gosto de vômito. Eu tentava cuspir, mas eu não conseguia porque quando eu disse que estava enjoada, antes do parto, o anestesista colocou gaze do lado esquerdo, para se eu quisesse vomitar, mas, quando acordei, não tinha nada ali."
A gaze foi encontrada no lixo e foi recolhida para perícia, como prova do crime, assim como os frascos de remédios usados para sedação. Giovanni já é réu por estupro de vulnerável, mas a Polícia Civil ainda conclui dois inquéritos, sobre os riscos da sedação e de outras cinco possíveis vítimas do médico.
A delegada Bárbara Lomba, da DEAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de São João de Meriti, que deu voz de prisão ao médico ainda dentro do hospital, afirma que "tudo indica que era um criminoso em série".
Anestesista permanece preso no Complexo de Bangu
Giovanni está preso preventivamente no Complexo de Bangu, no Rio, em uma cela individual, por ter curso superior, e isolado dos outros detentos, por questão de segurança. Ele também está impedido de exercer a medicina enquanto corre, em sigilo, a sindicância aberta pelo Conselho Regional de Medicina.
Pelo menos dois advogados desistiram do caso. A pedido de Giovanni, a defesa dele vai ser feita pela Defensoria Pública, que não quis se pronunciar sobre o caso.
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