Na 3ª tentativa de abrir empresa, ela achou caminho e vai faturar R$ 8 mi
Nem sempre a primeira aposta no empreendedorismo é a que vai vingar. A trajetória da paulistana Juliana Duarte, 38, exemplifica bem isso. Antes de fundar a SetYou, plataforma de personalização de vitaminas, minerais, fitoterápicos e suplementos que, recentemente, recebeu um aporte de R$ 3,5 milhões, ela teve outras experiências. Além disso, precisou aprender a lidar com a famosa síndrome da impostora.
Formada em administração e com MBA pela Booth School of Business da Universidade de Chicago, ela atuou em processos de fusões e aquisições em grandes bancos, como Credit Suisse e HSBC, e depois teve a oportunidade de receber apoio do Rocket Internet, fundo alemão que investe em pessoas para torná-las empreendedoras e executar ideias de negócio que funcionam em outros países. Assim, fundou a Tricae, site de artigos infantis que chegou a faturar R$ 200 milhões.
"Eu tinha 28 anos, era co-CEO de um negócio que faturava milhões e ainda me pegava pensando: 'Será que mereço estar aqui?', 'Será que sei o que estou fazendo?'", lembra. Na época, ela não sabia que estava lidando com a síndrome da impostora, uma situação comum a muitas mulheres que as faz duvidar da própria competência e causa muita dúvida e sensação de inadequação.
O negócio acabou passando por uma fusão, Juliana ajudou em toda a integração mas decidiu sair da empresa, pois passou a ter uma atuação mais corporativa e não empreendedora, que era o que queria. Foi então que resolveu aproveitar essa experiência e lançar outra marca, dessa vez de calçados para crianças. "A primeira fábrica que fazia os calçados quebrou e, na segunda, tivemos outro problema. Acertamos só na terceira tentativa. Porém, depois de ficar grávida e ter minha filha, vi que ainda não era aquilo que eu queria fazer", conta Juliana.
Pesquisa e foco no cliente
Em uma mudança de rota, a empreendedora decidiu criar, ao lado de Murillo Vianna, a healthcare SetYou. "Nos encantamos pela área da saúde por poder conseguir passar mais informações para as pessoas sobre prevenção e empoderar, de fato, o paciente. Pesquisamos o mercado do Brasil e do mundo e começamos com a personalização de vitaminas e suplementos", conta.
A empresa iniciou sua trajetória em setembro de 2020, durante a pandemia de covid, um período em que a busca por suplementação para melhorar a imunidade estava alta. O setor de suplementação foi um dos que mais cresceram durante a pandemia: dados do Euromonitor apontam que o mercado mundial de vitaminas e suplementos alimentares representa quase US$ 110 bilhões.
Já passaram pela SetYou mais de 80 mil usuários e aproximadamente 4.000 clientes. Com o aporte, a meta é dobrar o número de colaboradores nos próximos seis meses, além de aumentar a receita em até sete vezes, em comparação a 2021. Até o final do ano de 2022, a previsão é faturar R$ 8 milhões, além de fisgar mais 10.000 novos consumidores.
Ajuda da inteligência artificial
Para atender essa demanda, a startup conta com a ajuda da inteligência artificial. Em uma consulta automatizada, o usuário responde perguntas rápidas e objetivas via chatbot. O teste inclui questões sobre hábitos alimentares, exercícios físicos e complicações com a saúde e medicamentos.
A plataforma capta esses dados e recomenda uma suplementação personalizada de acordo com o que o organismo precisa naquele momento. São mais de 60 ingredientes, 200 critérios e milhares de fórmulas criadas por um time multidisciplinar de saúde.
A empresa conta, por exemplo, com profissionais como farmacêuticos, nutrólogos e endócrinos, além de um grupo de sete médicos —todos investidores-anjos do negócio. Recentemente, a empresa também fechou uma parceria com a Pague-Menos. A ideia é que a SetYou seja uma ferramenta de prescrição nos consultórios farmacêuticos da rede.
Segundo Juliana, a construção de um negócio de sucesso parte de alguns pilares. O primeiro é ter os pés no chão e dar um passo de cada vez, sem atropelar os processos na sede de crescer. Dessa forma, fica mais simples planejar o caminho da empresa a curto, médio e longo prazos.
"A primeira coisa que fizemos foi desenvolver um protótipo do serviço apenas com os recursos necessários para validar a ideia e, com o feedback dos clientes, realizar os ajustes e aprimorá-lo. Só depois fomos atrás de investimento-anjo para, aí sim, construir a empresa de forma mais estruturada", explica.
No primeiro mês da SetYou, 2.000 pessoas realizaram o teste da plataforma, entre médicos e clientes interessados. De acordo com ela, para conversar com investidores, além dos números, é crucial fazer um boa história ligada à empresa e ter muita clareza de onde se quer chegar.
Mas a empreendedora ressalta que não foi um caminho fácil.
"Batalhamos muito e tivemos de aprender a ouvir 'não' sem desanimar", afirma. Nesse sentido, a resiliência é fundamental. "Você vai ouvir muito 'não' durante o percurso e isso é difícil. O segredo é não levar a negativa para o lado pessoal, nem achar que significa que a empresa não é boa. Simplesmente não era para ser aquele investidor", diz.
Ela ressalta, inclusive, a importância de buscar fundos e investidores-anjos que tenham a ver com o negócio e possam ajudar a estruturar a empresa. "Por exemplo, não tínhamos o background de saúde e sabíamos que era importante. Por isso, buscamos médicos que eram investidores", afirma.
Sobre a síndrome da impostora, Juliana conta que ela ainda aparece. Mas, hoje, ela sabe lidar com isso. "Driblei essa voz com muito trabalho e alcançando resultados. Quando ela aparece, mando embora e digo a mim mesma que sou capaz", completa.
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