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Além de gravidez, o que mais pode causar atraso na menstruação?

Nem sempre menstruação atrasada é sinal de gravidez - iStock
Nem sempre menstruação atrasada é sinal de gravidez Imagem: iStock

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, de São Paulo

24/08/2022 04h00

A menstruação atrasada é considerada o principal e, em boa parte das vezes, o primeiro sintoma da gravidez. Por isso, basta o sangramento não ocorrer um ou dois dias dentro do previsto para que muitas mulheres, sobretudo as tentantes, já recorram aos testes de farmácia para confirmar a gestação.

Mas se a segunda linha não aparece mesmo com a diferença no calendário, o que pode ser? Há outras condições por trás disso.

De acordo com os ginecologistas e obstetras Geraldo Caldeira, do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana; e Karen Rocha de Pauw, especialista em videoendoscopia ginecológica, tal situação pode ter outras causas atreladas. São elas:

Ovulação tardia

É quando a ovulação não acontece na data esperada, ou seja, ocorre um atraso dessa fase. O previsto é que se suceda na metade do ciclo, lá para o 14° ou 15° dia. Entretanto, algumas mulheres costumam ovular ainda perto do 20° dia do ciclo. Só depois disso vem a fase lútea, fixa, de 14 dias, em que o folículo que sai do óvulo se transforma em corpo e há maior quantidade de progesterona e estrogênio.

Prolactina alta

A glândula hipófise produz prolactina para a amamentação, ou seja, quando a concentração do hormônio está elevada, costuma ser para produzir o leite e a mulher amamentar. Contudo, níveis altos também podem ser registrados devido ao uso da pílula anticoncepcional e isso tende a causar distúrbios menstruais.

Hipotireoidismo

Trata-se do funcionamento inadequado e ineficiente da tireoide, glândula que estimula todas as outras células do corpo. Por isso, essa condição causa cansaço, sonolência, indisposição, fraqueza e, em pacientes com casos mais severos, também pode ocorrer disovulia (dificuldade em ovular) ou anovulação, que é a ausência da ovulação. Consequentemente, ocorre o atraso da menstruação.

Cisto no ovário

Embora a maioria dos cistos ovarianos seja benigna (decorrente de um cisto de ovulação que cresceu e ficou no ovário sem romper), existem cistoadenomas, tumores benignos que aumentam de tamanho e exigem acompanhamento médico. E se algum cisto do ovário ainda estiver produzindo hormônios, ele consegue afetar o ciclo menstrual.

Estresse muito grande

O estresse faz com que algumas substâncias sejam liberadas, como adrenalina e cortisol, por exemplo. Com isso, esses hormônios podem causar uma alteração na parte folicular do ovário e até no endométrio, fazendo com que a menstruação surja antes do previsto ou inibindo a ovulação - e, consequentemente, o período menstrual.

Desregulação hormonal

Os implantes hormonais, popularmente conhecidos como 'chips', têm hormônios em sua composição - como testosterona, progesterona, estrogênio e gestrinona - que podem causar o atraso. Por isso, embora recomendado em alguns casos, é importante entender qual a finalidade do uso e, sobretudo, o que há em sua composição.

Doenças hormonais

Além do hipotireoidismo, outras condições hormonais conseguem atrasar o ciclo, como doenças da suprarrenal (devido ao aumento de hormônios atuantes nessa parte); doenças centrais, do cérebro (como do hipotálamo e hipófise), capazes de criar outros tipos de hormônio e causar alterações; e doenças próprias do ovário, em que os hormônios são liberados diferentemente do esperado, inclusive pela presença de um tumor.

Medicina popular

Outra causa para desregular os níveis hormonais são as garrafadas. Normalmente, são usadas para "forçar" a menstruação a acontecer, mas é possível encontrar fórmulas para as mais diversas questões. O grande problema é que suas composições não são bem esclarecidas e essa mistura de compostos - incluindo até hormônios - afeta o organismo.

Mas, afinal, o que é considerado atraso?

Relatar estar "atrasada" depende totalmente do ciclo individual. Isso porque é preciso fazer um cálculo básico para entender o que é atraso para o organismo de cada pessoa que menstrua.

Segundo a ginecologista Karen Rocha de Pauw, uma conta prática é avaliar a duração de quatro dos ciclos menstruais e identificar a mais extensa delas. "Dessa forma, se o período mais longo for de 29 dias, teoricamente, qualquer dia além disso já é considerado atraso", exemplifica.

Contudo, se a menstruação demorar um ou dois dias para aparecer, não é preciso alarde. Isso pode acontecer sem nenhuma causa grave, apenas fruto de uma variação hormonal. Só se o sangue não der as caras após 48 horas do esperado, é hora de começar a entender o que pode estar acontecendo.

Se você estiver tentando engravidar, o especialista Geraldo Caldeira recomenda fazer um exame para pesquisa de gravidez, conhecido como Beta HCG, depois desse período de dois dias. Descartada a hipótese de gestação, Karen diz que, se não descer dentro de uma semana a partir do dia esperado, a investigação deve começar junto a um profissional da área, buscando entender se foi apenas uma questão emocional, como no caso do estresse, ou decorrência de alterações hormonais e até doenças.

Sintomas além da demora

Causado por diversas razões diferentes e nem sempre ligado a doenças, o atraso menstrual, por si só, não é um grande problema. Assim, é válido ficar de olho em outros sinais do corpo, que ajudarão a identificar o que, de fato, está acontecendo com o organismo, causando tais alterações.

De acordo com Karen, a auto-observação fornece respostas bastante úteis para compreender o caso. É importante avaliar se houve ganho de peso, se o aspecto ou textura da pele mudou - era seca e está oleosa ou com acne, por exemplo -, se há alterações na urina ou na função intestinal e, também, se as mamas doem.

Junto do atraso, qualquer sintoma diferente deve ser relatado ao especialista que faz o acompanhamento ginecológico, para que a investigação seja iniciada.

Ciclos irregulares dificultam identificação

Perceber que a menstruação atrasou parece ser uma tarefa simples, porém, para as mulheres de ciclos irregulares, identificar o atraso é quase uma missão impossível.

"Se a paciente menstrua um mês com 30 dias, depois 40, depois 25, por exemplo, fica muito difícil saber a data certa. Por isso, nesses casos, recomendamos fazer um ultrassom e também uma dosagem hormonal", finaliza o obstetra Geraldo.