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Ciro não menciona mulheres (nem a própria vice) no JN. Por quê?

Jornal Nacional: Ciro Gomes foi o segundo candidato a presidência entrevistado no jornal - Reprodução/TV Globo
Jornal Nacional: Ciro Gomes foi o segundo candidato a presidência entrevistado no jornal Imagem: Reprodução/TV Globo

De Universa, em São Paulo

24/08/2022 11h06

O ex-governador Ciro Gomes (PDT), candidato à presidência, foi o segundo sabatinado pelo Jornal Nacional, na noite de ontem, terça-feira (23). Embora seja um dos únicos presidenciáveis homens a indicar uma mulher como vice — a vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos—, William Bonner e Renata Vasconcellos não fizeram uma única pergunta em relação às mulheres ou a políticas de igualdade de gênero —na noite de segunda, quando o sabatinado foi o presidente Jair Bolsonaro, os âncoras do telejornal também não mencionaram o assunto e o termo "mulheres" foi dito uma única vez.

Nesta semana, Universa vai analisar com foco nas questões de gênero —como violência doméstica, insegurança alimentar e saúde sexual e reprodutiva— as sabatinas do Jornal Nacional aos quatro pré-candidatos melhor avaliados nas pesquisas: Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Lula (PT) e Simone Tebet (MDB). Acompanhe.

O que Ciro disse sobre mulheres

Nada. Ciro Gomes não foi questionado diretamente sobre políticas de gênero e não mencionou as mulheres uma única vez em 40 minutos de sabatina.

Leia a entrevista na íntegra.

Ciro Gomes foi o segundo entrevistado no Jornal Nacional - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

O que gostaríamos de questionar

Universa reuniu alguns temas relevantes para as brasileiras que gostaríamos que fossem questionados aos presidenciáveis em debates ou entrevistas:

  • Violência contra a mulher

Desde 2015, os governos brasileiros vem fazendo cortes em políticas públicas para mulheres, que norteiam, por exemplo, programas de ajuda a vítimas de violência doméstica —desde 2019, no governo Bolsonaro, "instituiu-se um movimento de desmonte" das políticas para a população feminina, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ao mesmo tempo que os índices de feminicídio e violência contra a mulher não param de crescer.

Como o candidato pretende enfrentar este quadro e proteger as mulheres brasileiras da violência doméstica?

  • Pobreza e insegurança alimentar

A fome e a desigualdade social foram, de longe, o principal assunto abordado por William Bonner, Renata Vasconcelos e Ciro Gomes durante a sabatina: o presidenciável mencionou seu programa de renda básica e taxação de grandes fortunas, por exemplo, mas não mencionou as mulheres, de longe as mais afetadas pela pobreza.

Para se ter uma ideia, segundo estudo do Centro de Políticas Sociais da FGV Social, 47% das mulheres brasileiras vivem sem saber se vão poder comprar comida no dia seguinte —entre os homens, o percentual é bem menor, de 26%.

A única menção se Ciro que se aproximou de um recorte de gênero, mas de forma bastante rasa, foi quando, ao descrever a situação de pobreza no Brasil, falou em "mães de família que estão vendo seus filhos dormir hoje com fome", e finalizou: "Isso me dói o tempo todo".

  • Representatividade e papel das mulheres em novo governo

Entre os quatro sabatinados nesta semana pelo Jornal Nacional - Bolsonaro, Ciro, Simone Tebet e Lula— Ciro é o único homem a apresentar uma mulher como candidata a vice: Ana Paula Mattos (PDT), atual vice-prefeita de Salvador. O ex-governador, no entanto, sequer mencionou o nome da vice durante a entrevista.

Ele também não foi questionado e nem falou sobre o papel que mulheres e outros grupos minorizados, como negros e pessoas LGBTQIA+, terão em seu governo, caso eleito.

Em outras entrevistas recentes, como ao Roda Viva, da TV Cultura, há duas semanas, ele apontou para sua candidata à vice, Ana Paula, e disse que ela é um sinal de que ele pretende "empoderar o máximo que puder as mulheres". mas não assumiu o compromisso de compor um primeiro escalão 50% feminino ou de ter um número considerável de negros entre os ministros, por exemplo.

Ciro, aliás, também tem feito declarações lamentáveis a respeito de questões identitárias: chamou de "papo furado" questões de mulheres, negros e indígenas, em entrevista ao "Valor Econômico", e disse que "interesses identitários não representam o interesse nacional", à CNN.