O que o time LGBTQIA+ de 'Queer Eye Brasil' quer ensinar para as mulheres

Como no original americano, o Queer Eye Brasil, que estreia nesta quarta-feira (24), na Netflix, em cada um dos seis episódios da primeira temporada um homem ou mulher recebe os Cinco Fabulosos - Rica Benozzati (estilo), Yohan Nicolas (beleza), Luca Scarpelli (cultura), Guto Requena (design) e Fred Nicácio (bem-estar) para fazer transformações em sua vida.

Nessa primeira leva de programas, três homens e três mulheres passam por transformações para que se reconectem consigo mesmos, aprendendo sobre autoestima e o autocuidado. "Para se cuidar, você precisa estar bem", disse Yohan Nicolas, em entrevista a Universa. "É como dentro do avião, você cuida da sua própria máscara de oxigênio antes de colocar a do outro."

Os cinco abordam os heróis e heroínas de um lugar de empatia e escuta para entender como cada um chegou na posição em que está. "São muitas imposições de uma sociedade machista, racista, homofóbica, gordofóbica", disse Fred Nicácio.

"A gente encontra pessoas que têm histórias lindas, extraordinárias, mas estão machucadas, feridas e deixaram de se olhar em algum momento. O bem-estar vai por água abaixo. Porque dá muito trabalho ter de sobreviver diante dessa sociedade."

Luca Scarpelli lembrou que muitas pessoas sentem-se atropeladas pela vida, diante de tantas demandas e correrias. Participar do programa é uma oportunidade de parar e olhar o que está acontecendo. "Antes mesmo de a transformação visível acontecer, acontece uma transformação sutil, porém muito importante, que é a pessoa parar e pensar sobre a própria vida", diz.

Para Fred Nicácio, contar para os fabulosos sobre suas vidas já dá um pontapé inicial na mudança. "Quando você verbaliza, tem de organizar aquilo para que outra pessoa entenda."

'Queer Eye Brasil' quer ensinar o autoamor a mulheres

Logo na primeira semana de gravação de Queer Eye Brasil, Luciana, a "heroína", como são chamados os personagens da atração, demonstrou preocupação com Yohan Nicolas, que estava tendo de resolver um probleminha para poder gravar. "Era uma mulher que estava ali para ser cuidada, mas estava preocupada com o nosso dia", disse Rica Benozzati, em entrevista a Universa.

Era um exemplo claro do que costuma acontecer com muitas mulheres: preocupar-se primeiro com o outro e deixar-se em segundo, terceiro, quarto ou quinto plano. "A mulher tende a se esquecer com mais facilidade por naturalmente ter de cuidar mais das coisas. Eu não acho que deveria ser assim, mas infelizmente é a sociedade em que a gente vive", disse Nicolas.

Sobrecarga é a palavra-chave para entender a condição das mulheres brasileiras, na opinião de Luca Scarpelli. "É sobrecarga de cobranças, com um modelo de mulher perfeita que é propositadamente inatingível. É sobrecarga de culpa, de achar que você nunca está fazendo o bastante, por mais que tenha jornadas duplas, triplas, quádruplas para dar conta de tudo."

E isso é uma coisa que todos poderiam fazer. "Ninguém vai conseguir mudar a autoestima, melhorar o trauma, ou ser uma pessoa melhor, sozinho", disse Requena.

A rede de apoio, de empatia, de conexão é fundamental. Pedir ajuda, também. E é aí que os Cinco Fabulosos entram.
O autocuidado, porém, não pode virar mais um peso, uma tarefa, uma pressão, que as redes sociais acabam estimulando.

"Quando você fala sobre amor-próprio, está falando sobre um processo que não tem fim. É um novo olhar que você tem de ter para si mesmo de se acolher", disse Luca Scarpelli. "Tá tudo bem se hoje você não cumpriu a dieta. Tá tudo bem se hoje você não conseguiu arrumar sua casa. O primeiro passo é você se abraçar e dizer tá tudo bem."

Ele acha inclusive que precisamos nos propor a sermos ruins nas coisas. "Estou com quase 32 anos e decidi que queria aprender a andar de skate e a surfar. Eu me permiti ser péssimo nisso. Eu vou lá andar de skate e sou literalmente humilhado por crianças de 6 anos. E tá tudo bem."

Para Fred Nicácio, o chamado autocuidado é um conjunto de ferramentas. "É um cardápio de autoamor", afirmou. "Tem de ser por mim, porque eu quero fazer, porque acho que isso vai me ajudar. Precisamos ter consciência de que todos nós estamos em processos de melhoria, de aprendizado, de evolução."

Ou seja, não de reinvenção, mas de redescoberta. "A moda e a indústria toda colocam a mulher nesse objetivo de que a cada temporada, a cada seis meses, você precisa se renovar", disse Benozzati. "Mas se reinventar é como partir do zero. Na verdade, temos de continuar a partir do hoje."

Dicas dos Cinco Fabulosos para melhorar sua vida

"Tenha plantas em casa. Muitas plantas. Você vai ser mais feliz."
Guto Requena

"Hidrate sua pele, seu cabelo, proteja-se do sol, olhe-se no espelho e fale: Eu te amo."
Yohan Nicolas

"Roupa boa é roupa que dá para usar naquele momento. Se não usa a roupa há seis meses porque está esperando que algo aconteça - que vai emagrecer, que vai engordar -, essa roupa precisa ser colocada a favor da sociedade como um todo. Troca, doação, limpeza e organização no armário para saber o que funciona para você para ter uma vida mais ágil, mais divertida. E não tenha medo de experimentar outras coisas."
Rica Benozzati

"Pesquisem sobre respiração. Existe um segredo milenar, que vem da África, que ensina sobre respirar. Entender, parar, estar no momento presente: a respiração nos proporciona isso. É o ar entrar e sair, e você prestar atenção em cada processo da sua respiração."
Fred Nicácio

"A hora em que a gente para de aprender é quando começa a morrer. Permita-se ser ruim em coisas novas. É muito legal esse processo e te traz vida."
Luca Scarpelli