'Fui ao hospital achando que era apendicite mas estava grávida e parindo'
Criadora de conteúdo digital, maquiadora e designer de sobrancelhas, Laura Beatriz de Campos, hoje com 20 anos, é mãe da Alice, de 2 anos e 9 meses. A menina nasceu em 12 de dezembro de 2019, após nove meses de uma gravidez silenciosa. Laura menstruou normalmente durante todo o período, treinou, fez dieta (era vegetariana), curtiu praia, balada, formatura e até o carnaval na Bahia. Chegou a emagrecer 10 quilos durante a gestação e não teve nenhuma mudança comportamental.
A gravidez só foi percebida quando já estava em trabalho de parto e 39 semanas de gestação. "Pelas minhas contas eu engravidei em março e ela nasceu em dezembro. A descoberta e o parto foram juntos", conta a moradora de Americana, interior de São Paulo. Leia a história dela a seguir:
"Sem saber que estava grávida, saí para beber com uma amiga. No dia seguinte, minha filha nasceu"
"Alice nasceu em 12 de dezembro de 2019, após nove meses de uma gravidez silenciosa. Menstruei normal durante todo o período, treinei, fiz dieta - era vegetariana -, curti praia, balada, formatura e até viajei para Porto Seguro. Emagreci 10 quilos durante a gestação e não tive nenhuma mudança comportamental.
Pelas minhas contas eu engravidei em março e ela nasceu em dezembro. Eu tinha o sonho de ser mãe jovem, sempre planejei minha vida: queria ser mãe entre os 22 e 25. Até falava que, se até essa idade não tivesse filhos, não teria mais. Mas sempre usei preservativo, inclusive havia me relacionado utilizando a proteção. Acredito que era a hora de acontecer.
Descobri a gestação por um acaso. No dia anterior ao parto comecei a ter cólicas, nada absurdo, as mesmas cólicas que tinha no período menstrual e estava próximo de descer. Fui trabalhar normalmente, em uma academia. Só não treinei por causa da cólica. Depois do expediente, minha melhor amiga, que trabalhava como personal no local, me chamou para ir em um barzinho. Nós fomos, bebemos um pouco, cheguei em casa por volta das 23 horas.
Não me sentia muito bem, tanto que tomei uma dipirona para aliviar a cólica. Eu estava sem remédios específicos para o sintoma e foi até a minha mãe que orientou que eu tomasse esse. Me mediquei e fui dormir.
Acordei sem dor. Não senti nada, nenhum desconforto durante a noite. Despertei por volta das 6 horas, bem, mas sem sono. Nessa época, eu já havia concluído o ensino médio, então não estava mais estudando, só me preparando para as as segundas fases dos vestibulares. Um deles seria dali três dias, a segunda fase do processo de seleção para acesso na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
No entanto, duas horas depois, por volta das 8 horas, as dores voltaram. A cólica estava muito pior que no dia anterior. Fui tomar um banho quente (sempre faço isso quando tenho cólicas fortes) e a dor aliviou. Voltei pra minha cama e depois de um tempo, tudo novamente e, então, fui para o chuveiro mais uma vez. Fiquei nessa por um bom tempo até que a dor ficou tão intensa que eu não conseguia andar, nem levantar da cama.
Só nessa hora eu cogitei que talvez não fosse uma cólica menstrual. Lembrei de um primo que teve apendicite e ele disse que sentiu do mesmo jeito, então achei que fosse isso que estivesse ocorrendo comigo.
Nessa hora eu estava sozinha para ir até o hospital. Meu pai estava em São Paulo a trabalho; meu irmão, na faculdade e, minha mãe, no trabalho também (ela se deslocava com o veículo fretado da empresa).
Liguei para a minha melhor amiga, que morava perto. Ela levou em torno de 40 minutos para chegar na minha casa, pois estava atendendo uma aluna de personal. Eu estava tão fora do ar que nem vi o tempo passar. Para mim, pareceram 10 minutos. Logo que ela chegou, me vestiu e me carregou até o carro dela. Eu não tinha forças, não conseguia me mexer de tanta dor. Foi quando fomos para o hospital.
"Demoraram mais para saber o que eu tinha, do que o parto em si"
Na emergência me lembro de o enfermeiro perguntar o que eu sentia. Falei que estava com uma dor muito forte nas costas e na barriga, e achava que poderia ser apendicite. Expliquei que era uma dor que tinha picos, em alguns momentos ficava mais forte e outras, mais fraca.
Depois desse atendimento inicial, me encaminharam para a sala de emergência. Ela lotou de enfermeiros e de um médico. Ele conversou um pouco com os enfermeiros e a primeira coisa que realizou foi um exame de toque. Depois, olhou para os enfermeiros e falou "já está baixo", e saiu. Ninguém me falava nada.
Depois chegou outra enfermeira, com o aparelho de escutar o coração do bebê. Eu estava com tanta dor que não queria que ninguém encostasse em mim.
Lembro que ela encostou o aparelho e já tirou, e saiu todo mundo da sala. Ficou só uma enfermeira que segurou minha mão e disse: "você está em trabalho de parto, vamos subir você para a maternidade e você será atendida pelo obstetra e vai ter um neném".
Acho que só não caí dura naquela hora porque eu já estava deitada. [risos] Minha ficha não havia caído, pensava que o diagnóstico estava errado, que seria qualquer outra coisa. A partir desse momento, não pude mais levantar porque havia risco do bebê, literalmente, cair de mim. Quando cheguei na maternidade, colocaram a maca no consultório, e a minha amiga chegou.
Havia pelo menos umas oito enfermeiras e o obstetra, que foi extremamente grosso e despreparado para uma emergência como aquela. Lembro de ele perguntar se tinha dilatação e uma enfermeira dizer: "dilatação total e ainda diria que mais dois". O médico dizia para eu fazer força quando viesse a dor, mas eu não conseguia. Quando vinha a onda, eu travava. Só conseguia gritar, até que ele começou a gritar comigo.
"Meus pais ficaram assustados. Saíram de casa sendo pais e voltaram avós"
Lembro de ele falar "você não tem que gritar quando vem a dor, tem que fazer força, você não está se ajudando". Minha sorte foi ter a minha amiga comigo. Quando ele disse isso, ela rebateu: "eu trouxe ela aqui com dor, achando que era apendicite, e ela está tendo um neném que nem esperava. O mínimo que tem que ter com ela agora é paciência".
Ele não gostou e saiu da sala. No lugar dele, passei a ser atendida por uma médica superboazinha. Ela me acalmou e eu consegui fazer força.
Com três empurrões, nasceu minha filha. Parece que foram horas, mas eu entrei no hospital às 11h45min e a Alice nasceu 12h23min. Demorou mais para saber o que eu tinha do que o parto em si.
Meus pais ficaram assustados. Saíram de casa sendo pai e mãe, com uma filha vestibulanda e, antes do almoço, descobriram que a filha era mãe e eles, avós. A partir daí, minha casa vivia cheia porque minha família é gigante e todo mundo queria conhecer a nenê.
"A chegada dela mudou tudo"
Hoje, o maior amor e alegria dos meus pais é a Alice. E ela é um grude com eles —ainda moro com meus pais, então estamos juntos todos os dias. Se ela acorda e eles já saíram, fica perguntando, quer mandar áudio, foto e vídeo.
A chegada dela mudou tudo. Estava há três dias de prestar a segunda fase da Unesp, que era a minha primeira opção. Mirava o curso de Biologia Marinha, cujo campus é em São Vicente e já estava me organizando, inclusive, para mudar de cidade. Depois ainda veio a pandemia, todo mundo em casa. Foi um processo, precisei me reinventar, afinal, tinha uma vida dependendo de mim. Foi aí que comecei a produzir conteúdo para a internet, algo que nunca tinha cogitado.
Minha filha representa tudo para mim. Nasceu perfeita. Fez tudo quanto é exame quando nasceu e todos perfeitos. Ela só nasceu magrinha, mas bem formada e com 39 semanas de gestação.
A Alice é o sentido da minha vida, foi a virada de chave em tudo. Ela me ensinou a ser forte, me mostrou quem realmente estava ao meu lado, tirou aquela cortina da minha visão sabe? Me fez crescer, me mostrou o que é o amor. Ela trouxe cor para minha vida. Eu nem imaginava o quanto precisava dela, até ela chegar." Laura Beatriz de Campos, 20 anos, criadora de conteúdo, Americana (SP)
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