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Antes de separar, você tentou mesmo salvar a relação? Terapeutas dão dicas

Moyo Studio/Getty Images
Imagem: Moyo Studio/Getty Images

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, de São Paulo

27/08/2022 04h00

Decidir pela separação nunca é um processo fácil, afinal, implica terminar uma relação em que você apostou suas fichas e dedicou sentimentos e energias. Justamente por ser uma decisão tão difícil, talvez valha uma reflexão antes de pôr fim ao relacionamento: será que você tentou mesmo salvar seu casamento?

Para início de conversa, vale entender o sentimento que está envolvido. De acordo com a terapeuta de casais Mônica Campelo, a neurociência explica que o amor passa por diferentes fases. O começo da convivência, por exemplo, é o período da paixão, em que todo o foco está voltado para a outra pessoa. Isso acontece devido ao encantamento e à sensação de uma certa dependência emocional.

"O processo da paixão promove a idealização do parceiro: perfeito, sem defeitos, sem falhas e sem a menor possibilidade de cometer erros ou ter comportamentos indesejáveis", comenta a especialista. E, segundo ela, é justamente na comparação entre as fases da paixão e do amor real que os casais partem para a ideia da separação.

Ainda vale investir na relação?

Na opinião do psicólogo Saulo Velasco, professor na The School of Life Brasil, é comum - e tentador - pensar que um novo parceiro resolverá todas as questões pendentes do relacionamento atual. Contudo, o melhor caminho não é esse.

"Em vez de procurar um parceiro 'perfeito' que vai nos curar de toda nossa insatisfação, é importante reconhecer a inevitabilidade dos conflitos e das respostas imperfeitas daqueles que amamos. Além disso, é importante refletir sobre o papel que desempenhamos em alguns desses problemas", aponta o profissional.

Ele diz ainda que um par de verdade não é aquele que resolve tudo magicamente, mas uma pessoa que também permanece ao nosso lado quando as coisas não estão bem. Além disso, vale se convencer de um fato importante: é desafiador para (quaisquer) duas pessoas compartilharem a vida juntas.

"Precisamos avaliar também se ainda existe afeto e respeito mútuo, se ainda possuem valores, interesses e projetos em comum, se ainda experimentam momentos felizes juntos e, o mais importante, se fizeram o suficiente para comunicar as necessidades de mudanças", acrescenta Saulo.

Uma dose de certeza

Se ainda restam dúvidas sobre tentar ou não salvar a relação, o terapeuta João Ribeiro, consultor de casais da INTT, recomenda um exercício bastante prático para ter uma dose a mais de certeza sobre o que fazer: "Imagine receber um telefonema informando que seu par acabou de falecer. Qual seria sua reação? Sentir paz, alívio ou indiferença com a 'notícia', é sinal de que o casamento realmente acabou", aponta.

Nesse caso, provavelmente o relacionamento ainda exista por algum interesse comum, como o financeiro, ou por medo da solidão, por exemplo. "Mas se sentir dor e angústia por não poder dizer o tamanho do amor que você sentia pelo outro, mesmo com brigas ou problemas no relacionamento, isso é um sinal de que ainda vale a pena lutar, pois existe sentimento", afirma o terapeuta.

8 dicas para salvar o casamento

Ao perceber que ainda existe uma chance - e vontade - de prosseguir com a relação, algumas dicas profissionais podem ajudar não só o processo de reconciliação, mas também o novo momento da vida a dois. Confira as recomendações dos especialistas a seguir:

1. Avalie o dia a dia

Para a especialista Vera Cristina de Freitas, três avaliações são importantes: note se ainda há respeito, confiança, conexão e reciprocidade; perceba se há disposição de ambos para salvar o casamento; e observe, principalmente, a existência de sonhos e projetos comuns.

"Estão engajados em um projeto de vida a dois ou seguem projetos individuais sem que o outro esteja incluído? Casais engajados possuem maior chance de superação de crises", lembra.

2. A famosa DR

Antes de tudo, tenha em mente que discutir a relação não significa brigar nem jogar erros, um na cara do outro, ok? João Ribeiro ressalta que muitos casais têm dificuldades em se comunicar, sobretudo pela dinâmica da rotina corrida, mas que a comunicação é essencial para um casamento feliz.

"A ideia é conversar. Isso precisa ser feito em um local público, como restaurante, onde é possível sentar e conversar tranquilamente. Nesse tipo de lugar é mais tranquilo, pois ninguém vai gritar ou brigar", indica.

3. Aceite as imperfeições

Pensar que, em algum lugar, existe uma pessoa perfeita faz parte do ideal romântico. Mas isso é um grande erro para as relações duradouras, viu? Afinal, a vida real é repleta de imperfeições.

"O amor é uma escolha, uma habilidade construída diariamente, um compromisso de tentar viver ao lado de alguém que, como nós mesmos, possui inúmeros defeitos. Aceitar imperfeições, permite ao casal construir uma jornada de aprendizado mútuo", ressalta o psicólogo Saulo Velasco.

4. Revisite seu passado

Depois de entender as dores do relacionamento com uma boa DR, é hora de regressar ao passado para se lembrar das conquistas e desejos idealizados pelo casal, lá no comecinho do namoro.

"É bom pensar em um novo sonho. Pode ser uma viagem, um bem material ou até mesmo abrir uma sociedade. Quando o casal sonha junto, ele fortalece a união", defende o consultor de casais João Ribeiro.

5. Busque sua independência

Para o interesse entre duas pessoas acontecer, é bem comum a busca por interesses iguais, que as conectem. Entretanto, isso não exime a necessidade da individualidade dentro de um relacionamento, sobretudo no que diz respeito a se fazer feliz - já que isso não deve ser delegado exclusivamente ao par.

"Um relacionamento saudável deve permitir a cada um possuir e nutrir interesses e atividades próprios, ou seja, independentes da outra pessoa", argumenta Saulo Velasco.

6. Demonstre seus sentimentos

O que você sente não precisa ser guardado em caixinha, sabia? É fundamental expor os sentimentos ao par, bem como descobrir a melhor maneira para isso. A terapeuta de casal Mônica observa que o conceito do livro "As Cinco Linguagens do Amor", do americano Gary Chapman, validado pela psicologia, deve ajudar.

"Se o amor é necessário, pressupõe que existem diferentes formas de demonstrá-lo e interpretá-lo, então, o casal precisará também se deparar com mais essa descoberta", aponta.

7. Volte a namorar

Aquele frio na barriga de quando estavam se conhecendo pode voltar, viu? Assim, caso os dois estejam empenhados em salvar essa história, a prática de relembrar o namoro pode dar certo.

"Retome os olhares, a paquera, aquele clima de início de namoro, toques, beijos e abraços. O beijo precisa ser aquele intenso; nada de selinho. A ideia é voltar a segurar na mão, beijar em público e ter jantares românticos", instrui João Ribeiro.

8. Terapia de casal

Segundo a psicóloga Vera Cristina de Freitas, especialista em psicoterapia psicanalítica, todo casamento vale o investimento, desde que exista uma relação viva.

"A terapia de casal se propõe a reparar e não a criar um vínculo onde não exista. Um casal na fase da tentativa de reparação é um casal fragilizado e vulnerável, porém, um casal sem a presença do vínculo é um casal inexistente", considera. Assim, se ainda houver uma ligação, pode ser bom investir nas sessões.