'Tomei cusparada na rua por jogar búzios', diz vidente famosa nos anos 90
O ano era 1994 e Monica Buonfiglio, hoje com 59 anos, deu sua primeira entrevista ao programa "Jô Soares Onze e Meia", no SBT, sobre o livro "Anjos Cabalísticos", que estava lançando,. Ela tinha impresso apenas mil exemplares, com dinheiro do próprio bolso, depois de ser rejeitada por mais de uma editora.
No dia seguinte, seu telefone não parou de tocar com pedidos. Um ano após essa aparição na TV, Monica possuía não uma, mas duas de suas obras figurando nas listas dos livros mais vendidos no país. Entre os de não ficção da Folha de S. Paulo, por exemplo, constavam "Anjos Cabalísticos" e "A Magia dos Anjos Cabalísticos". O consagrado Paulo Coelho fazia companhia a ela nesse grupo de autores best-sellers. Nos anos seguintes, Monica, que é vidente, taróloga, astróloga, mãe de santo na umbanda e candomblé, virou referência temas que despertavam muito interesse naquela época, que muitos chamavam de "Nova Era".
A jovem mística que poucos anos antes havia comparecido a uma entrevista na Band, descalça e maltrapilha, se tornou uma estrela. Além do quadro "Abracadabra", no Dia a Dia, na Band, virou figura fácil em vários outros programas de TV e voltou a ser entrevistada pelo próprio Jô Soares algumas vezes. Monica também continuou escrevendo seus livros. Entre suas obras estão "Tarô dos Anjos", "Salmos" e "Alma Gêmea: Aprendendo a Identificar o Amor da Sua Vida", todos best-sellers.
Hoje, quase 30 anos depois de seu estouro, Monica mora em chácara, em Mairinque, interior de São Paulo, e segue fazendo previsões para famosos e anônimos, agora online. A espiritualista, porém, passou por um período afastada da fama, mas em 2018 duas que essas previsões que a colocaram de volta sob o holofotes.
No dia 23 de dezembro daquele ano, Monica Buonfiglio fez previsões para o ano seguinte, no programa que apresentava, na Rádio Mundial. Entre elas, que havia a possibilidade de ataques a grupos por pessoas armadas. "Principalmente no mês de março e abril, a gente tem que ter muito cuidado em escolas", comentou a espiritualista, em gravação que foi exibida em seu canal. Mais adiante, nessa mesma ocasião, ela disse que "o que aconteceu em Mariana também está propenso a acontecer, com outros desabamentos". Ela se referia ao rompimento de barragem, na cidade mineira, em 2015.
Coincidência ou não, o fato é que em 25 de janeiro de 2019, a cidade de Brumadinho (MG) foi palco do rompimento de mais uma barragem, que ceifou, pelo menos, 270 vidas. E em março, um massacre cometido por dois ex-alunos terminou com cinco estudantes e dois funcionários de uma escola em Suzano (SP) mortos. Um dos assassinos matou comparsa e se suicidou em seguida. No caminho para a escola, a dupla já havia matado outro homem.
Recentemente, ela também previu o acidente do ex BBB Rodrigo Mussi. Uma semana antes do BBB 22 (Globo) estrear, ela relatou que algum participante sofreria graves machucados nas regiões da cabeça. Rodrigo sofreu um acidente de carro no final de março, na Marginal Pinheiros, e chegou a ficar de coma por 29 dias.
Ainda engatinhando no mundo das redes sociais à época, a espiritualista sentiu que essas previsões a tornaram mais conhecida para os que não sabiam que ela havia sido uma das autoras mais lidas dos anos 90 e também uma figura presente na telinha. Mas sua vida é repleta de superações e algumas delas ela conta a seguir.
Relação problemática com a mãe
"Minha experiência com a espiritualidade começou aos 8 anos. Em uma festa infantil eu vi espíritos em volta das crianças e elas formaram uma fila querendo que eu falasse sobre isso. Com 12 anos, jogava búzios por intuição. Uma madrinha minha, a Sila, que foi cangaceira de Lampião e era minha avó do coração, disse que eu precisava me desenvolver e me levou para umbanda.
Fiquei dois anos e, depois, fui para o candomblé. Fiz todo o rito e, em determinado momento, quando quis sair, o responsável pelo terreiro me falou que, se saísse, ele prenderia meu anjo da guarda. Apavorada, procurei uma senhora que me acalmou e disse para não me preocupar pois tinha um anjo muito forte. Fiquei encantada com essa ideia e passei a estudar sobre anjos, cabala e tarô.
O resultado desse estudo foi o livro "Anjos Cabalísticos", que ofereci para oito editoras e ninguém quis. Rodei esse livro numa garagem, fizemos mil exemplares e um caiu nas mãos do Jô Soares. Ele me chamou para fazer o programa e, da noite para o dia, acabei ficando na lista dos mais vendidos na Veja, Estadão, Folha de S. Paulo. Esse boom foi de 1994 a 1998.
Fiz meu orixá com 17 anos, meu pai saiu de casa quando tinha 18. Eu mantinha a casa com os búzios e fui segurando as contas assim. Minha mãe culpava minha vida espiritual por meu pai ter saído de casa, embora ele já tivesse filhos com a outra mulher.
Quando contei para a minha mãe que havia conhecido um senhor, presidente de uma associação, e que ele tinha me convidado para fazer um programa, ela me mandou procurá-lo de novo.
Porém, houve outra passagem antes, quando entrei em casa e havia um coroa negociando com ela para eu passar uma semana ao lado dele. Ele a pagou, não fui e ele ficou p... da vida. Ela achava que só com sexo eu conseguiria ser alguém, mas queria também me castigar por causa do meu pai."
Encontro com um anjo
"Esse homem que minha mãe me mandou procurar me deu o equivalente a R$ 150 mas não quis nada comigo porque viu meus olhos inchados de tanto chorar. Acho que ficou com pena. Na outra semana, minha mãe mandou de novo ir atrás dele.
Imagina eu, num orelhão, aos 18 anos, chorando para marcar outro programa com aquele homem. Uma mulher atrás de mim me cutucou e quis saber porque estava daquele jeito. Contei e disse que não queria fazer isso. Ela me perguntou: 'O que você sabe fazer?'.
Respondi que lia búzios e a moça me falou de uma livraria que tinha um bar nos fundos, no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, e que procurava pessoas para leitura de oráculos. Ela ainda me deu o dinheiro para pegar o ônibus e fui contratada. É inacreditável, né? Para mim, foi um anjo.
Ganhava o equivalente a R$ 150 por dia. Veja que mudança: meu pai era empresário de artistas, foi diretor em emissora de TV. Nós vivíamos um padrão de vida espetacular e, em pouco tempo, não tínhamos nada."
Terreiro invadido
"Apesar de não ser mais praticante porque não tenho centro, não existe ex-mãe de santo. Em outubro completo 45 anos de vida espiritual na umbanda e candomblé. E já sofri muito preconceito. Tive terreiro destruído, no Brooklin, zona Sul de São Paulo.
Íamos dar um curso e um grupo estava de tocaia. Quando a porta foi aberta, entraram e quebraram tudo. Fomos muito perseguidos. Em 1987 o fato de eu ter um terreiro foi motivo para me denunciarem por vadiagem. Queriam me forçar a sair dali.
Mas logo fui convidada para trabalhar na Band e pararam. Até hoje, quando produzo conteúdo sobre religião africana, sobre meu livro "Tarô dos Orixás", as pessoas saem do meu canal e perfis nas redes sociais. Já tomei cusparada nas rua por causa dos búzios.
Marcia Saad, que era diretora do programa Dia a Dia, me concedeu um quadro chamado Abracadabra, na atração, em 1989. No meu encontro com ela cheguei maltrapilha e descalça. Ela conta isso numa entrevista que deu para a Veja.
O chinelo que eu usava estourou. O dinheiro que recebia dava todo para a minha mãe, senão ela esperneava. Só fui me libertar dela em 1990. E quem me ajudou nisso foi o Urbano, pai do meu filho, Victor."
Consulta para famosos
"Em 1995, Patrick Swayze veio divulgar um filme sobre anjos, no Brasil e, na ocasião, eu estava bombando. A revista Manchete intermediou o encontro e fui para Rio. O encontro que seria de 15 minutos durou mais de duas horas. Não joguei cartas, usei a vidência e fui fazendo previsões.
Vi vidas passadas dele, a ligação com os indígenas americanos e perguntei quem era pig, porque havia visto um porco rosa. Ele deu uma sonora gargalhada. Era assim que chamava a companheira dele no filme Dirty Dancing, porque ela atrapalhava muito o ensaios da dança. Também falamos da possível depressão que ele tinha. Foi um dos encontros mais lindos. Muitas pessoas famosas me procuram, mas não posso revelar pois me pedem sigilo."
Paixão por escrever
"Moro em uma chácara que construí, há três décadas, em Mairinque (SP). Escrevi 60 livros e, durante 25 anos, vivi da venda deles e da astrologia, que estudei profundamente. Entre essas obras que escrevi, há a história de mulheres importantes como "Imperatriz Leopoldina - O Anjo da Independência do Brasil". Consegui ter acesso às cartas que ela trocava com a irmã, Maria Luisa, esposa de Napoleão Bonaparte. Nelas estão relatadas, entre outras coisas, suas dúvidas com D. Pedro I. Se tivesse mais tempo, escreveria sobre outras mulheres tão maravilhosas.
Desde 2018, após a previsão de Brumadinho, minha agenda está lotada. Mas claro que erro. Não achei que o Arthur (Aguiar) ia ganhar o BBB22 e fui massacrada. Achei que a Linn da Quebrada ia ganhar. Mas, entre erros e acertos, tenho uma média boa de acertos ou não estaria com agenda lotada até fevereiro do ano que vem. Faço consultas astrológicas por Skype que duram 35 minutos. O trabalho com a astrologia me consome o dia inteiro. Também dou cursos online, na Casa do Espiritualista, que reúne 20 profissionais."
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