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Filho que não gosta de estudar e vai mal na escola? Veja dicas pra ajudá-lo

filho mãe estudo em casa - klebercordeiro/Getty Images/iStockphoto
filho mãe estudo em casa Imagem: klebercordeiro/Getty Images/iStockphoto

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, de São Paulo

30/08/2022 04h00

É fato: boa parte das crianças torce o nariz diante da "obrigação" de estudar. Na maioria das vezes, o protesto coincide com alguma situação pontual, mas há casos em que a queixa se torna permanente e rende desfechos negativos: o desempenho em sala de aula (e fora dela) piora e as notas despencam. A preocupação dos pais é óbvia. Nessas horas, a pergunta mais repetida é: o que fazer para ajudar?

De acordo com Ronaldo Rangel Crus, coordenador do curso de Psicologia da Estácio Curitiba, a princípio, é normal uma criança não gostar de estudar, já que ainda não desenvolveu o lado mais apurado da responsabilidade e da maturidade, fatores que evoluem com a idade.

A questão é entender até qual ponto esse não gostar está dentro do aceitável. Para a psicanalista Paloma Carvalhar, a resposta para essa questão é bastante subjetiva, já que é preciso entender se envolve todo o processo de estudar ou apenas uma ou outra disciplina.

Assim, a recomendação da profissional é compreender o todo e perceber o que pode estar motivando essa questão. Nesse sentido, ela destaca algumas hipóteses:

  • A falta de identificação com o ambiente escolar. Uma criança com perfil mais dinâmico pode perder a motivação pelos estudos se estiver em local mais conservador, por exemplo, e vice-versa;
  • Mudar de escola: em determinada fase, isso pode gerar processo de adaptação um pouco mais lento, comumente confundido com não gostar de estudar;
  • Questões fora do ambiente escolar: mudanças na rotina, conflitos na vida familiar ou excesso de atividades extracurriculares podem deixar a criança cansada e sobrecarregada;
  • Conflitos na escola: bullying, intimidação e conflitos sociais por parte de outras crianças ou até mesmo dos adultos também podem ser causas;
  • Questões emocionais e de autoestima: igualmente podem afetar o desempenho escolar.

Notas ruins

Será que a criança vai mal nas provas porque não gosta de estudar ou ela não gosta de estudar justamente por tirar notas ruins? Essa é uma dúvida frequente entre e os pais, afinal, parece haver uma ligação entre os dois comportamentos.

O psicólogo Ronaldo destaca que o gosto pelos estudos está ligado à motivação. "Quanto melhor os resultados, maior poderá ser o interesse em estudar. Do mesmo modo, quando os resultados negativos vão aumentando, menor será o interesse em continuar estudando ou elevando o nível de vontade em aprender".

Mas outros fatores também podem ser os motivadores desse comportamento, segundo a psicanalista Paloma. Entre as possibilidades, ela cita o cansaço físico de uma carga que não seja a da escola, questões psicológicas, conflitos familiares, autoestima e relacionamentos sociais.

Será que a culpa é da escola?

Ver o colégio como possível culpado pelo fato de o filho não gostar de estudar é uma possibilidade que deve ser considerada e investigada. Ainda assim, é bom ter em mente que nem sempre o problema é este e, desta forma, é preciso estar aberto as outras possibilidades.

"É mais coerente entender que a educação e os resultados da criança são oriundos de um tripé: escola, família e a própria criança. A escola deve ofertar as melhores metodologias, ferramentas e professores, enquanto a família deve estimular, acompanhar e reconhecer a qualidade da educação e o esforço da criança", salienta o coordenador de curso.

Uma dica para entender se o problema está na escola é conversar com os responsáveis por outros alunos e entender se todos têm essa mesma questão ou se a origem disso está fora do ambiente escolar.

A psicanalista Paloma, por sua vez, levanta outros pontos a serem vistos, como o horário das aulas em relação aos hábitos da família, os funcionários da escola, a grade curricular, o relacionamento dessa criança com os amigos e até a didática pedagógica. Afinal, tudo isso pode influenciar no desempenho do aluno.

Tecnologia: culpada ou aliada?

Os recursos tecnológicos estão cada vez mais presentes nas escolas, enriquecendo os conteúdos e, sobretudo, a forma de dar aulas. No entanto, a tecnologia na sala de aula tende a ser uma faca de dois gumes, já que também é capaz de dispersar os estudantes. Até mesmo em casa, as telas podem atrapalhar os estudos.

"Superar o interesse por vídeos, séries ou redes sociais é muito desfiador. O melhor talvez seja aproveitar as tecnologias como ferramentas de apoio, estimulando pesquisas na internet, relacionando personagens com conteúdos e estimulando a criação de grupos que busquem solucionar desafios relacionados a conteúdos ou disciplinas", indica Ronaldo.

Como pais podem ajudar na prática

A seguir, especialistas sugerem atitudes que os pais podem adotar a fim de mudar o cenário em que o filho se encontra.

1. Acompanhe a rotina do seu filho

O acompanhamento vale mais do que as cobranças. "Mais do que apenas cobrar quando os resultados são ruins, os pais devem acompanhar de perto a rotina de estudo das crianças desde o início e de forma cotidiana", orienta Ronaldo.

2. Avalie a dinâmica da casa

Às vezes, é mais fácil procurar respostas para o problema do filho fora de casa quando a causa do desestímulo não atravessou o portão. "Observe como está a rotina da criança, a alimentação, as horas de sono dela, a organização do ambiente em que e a dinâmica familiar, assim como a saúde física e emocional do filho", pontua Paloma Carvalhar.

3. Adote estratégias para o estudo render

Pensar em novos métodos funciona, principalmente quando o ler e escrever não está dando conta do recado. Assim, por que não apostar em novas estratégias?

"Ao longo do ano letivo, os pais devem estimular a criança a estudar, relacionando os conteúdos com suas vidas práticas e possibilidades futuras. Eles podem ainda criar pequenas metas ou jogos que as estimulem a superar as próprias dificuldades", sugere o coordenador Ronaldo.

4. Fuja do conflito com gentileza

Mude a postura ao falar com a criança. "Entrar numa disputa de poder só traz desconforto", diz Tathiana Machado Rodrigues, psicopedagoga e orientadora educacional do Colégio Presbiteriano Mackenzie.

Em vez de mandá-lo fazer algo ou negar um pedido, seja gentil. "Diga: 'você poderá brincar assim que terminar de estudar'. Substituir os termos 'só quando eu quiser' ou 'não vai brincar porque…' por 'assim que demonstra limite de uma forma mais respeitosa", ressalta a educadora.

5. Dê abertura para a conversa

Supondo que haja algum motivo externo para esse aluno não gostar de estudar e ele precise falar sobre isso, é fundamental existir uma relação de confiança e abertura para esse papo acontecer.

"Converse e se conecte com a criança, de modo que ela se sinta confiante e confortável para ser sincera sobre como ela se sente na escola e nas outras atividades da sua rotina", indica Paloma.

6. Estimule-o a agir sozinho

Para algumas crianças, ter os pais ao lado, mesmo que brigando para que a lição de casa seja feita, é uma maneira de garantir a atenção dos adultos - e a postura deles pode reforçar essa crença errada. Por isso, vale estimular que elas cumpram as obrigações sozinhas.

"Redirecione e envolva o filho em uma tarefa útil e deixe-o tentar executá-la. Diga: 'Eu amo você e sei que consegue fazer esse exercício sozinho. Vou fazer as minhas tarefas e já volto para ver o quanto se esforçou", sugere Tathiana. Vale ainda combinar sinais não-verbais para que perceba que, mesmo distante, o responsável está atento a ele.

7. Reconhecimento acima de tudo

Legitimar vitórias é superimportante e motivador. Justamente por isso, o reconhecimento não deve ficar restrito apenas aos grandes feitos, mas também às pequenas conquistas.

"Comemore com a criança as conquistas menores e evoluções durante o processo, aliviando a pressão e mostrando que ela pode atingir seus objetivos aos poucos. Nosso cérebro gosta de recompensas e um elogio pode significar muito, auxiliando na sensação de prazer, de modo a criar memórias afetivas e associações positivas sobre os estudos", argumenta a psicanalista Paloma.

8. Exemplos de superação

Para um aluno da segunda série, por exemplo, uma multiplicação pode parecer um desafio enorme. Já para um adulto, aquelas contas para pagar no fim do mês, também. Logo, se você conseguiu resolver, a criança também será capaz e ela deve saber disso.

"Exponha com cuidado algumas das suas vulnerabilidades e crie um espaço de confiança entre vocês, mostrando que se você conseguiu superar um desafio no trabalho mesmo achando difícil, ele também vai", finaliza Paloma.