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'Prefere sacar a Lei Maria da Penha ou uma pistola?', diz Bolsonaro no RS

Franceli Stefani

Colaboração para Universa, em Novo Hamburgo (RS)

03/09/2022 12h30Atualizada em 04/09/2022 12h07

A plateia formada majoritariamente por mulheres brancas que entoavam "mito, mito, mito" antes do início do evento intitulado "Mulheres Pela Vida e Pela Família", em Novo Hamburgo, a 40 quilômetros de Porto Alegre, na manhã deste sábado (3), preenchia só metade das 6,6 mil cadeiras de plástico dispostas no pavilhão da Fenac.

O candidato à reeleição presidencial, Jair Bolsonaro, assim como a primeira-dama Michelle, chegou ao local ovacionado pelo público participante. O evento foi organizado pela ala feminina do PL e tem como uma das organizadoras Denise Lorenzoni, mulher do ex-ministro e candidato ao governo do Rio Grande do Sul Onyx Lorenzoni (PL).

No telão, antes da fala de Michelle, foi exibido o vídeo que tem sido veiculado na TV, onde a primeira-dama enaltece uma obra da transposição do Rio São Francisco, dirigindo-se às mulheres nordestinas, justamente a região onde o candidato tem menos aceitação.

Michelle começou agradecendo a presença do público, "na terra da minha afilhada", porque segundo ela, "o presidente não dorme com a vovozinha''. "Sou madrinha [de casamento] de Heloísa e Eduardo", diz, referindo-se à mulher do terceiro filho do presidente. A primeira-dama disse que o evento com a presença de pessoas cristãs, com Deus no coração, é focado na vida, na família e na liberdade. "Temos presidente forte e corajoso, para que o Brasil não perca a sua liberdade."

Mulheres, muitas envoltas a bandeiras do Brasil, participam do evento com Michelle e Jair Bolsonaro - Franceli Stefani - Franceli Stefani
Mulheres envoltas a bandeiras do Brasil participam do evento com Michelle e Jair Bolsonaro
Imagem: Franceli Stefani

Em seu discurso, a primeira-dama falou sobre comunismo, relembrou o atentado sofrido por Bolsonaro nas eleições presidenciais passada e da suposta perseguição que até hoje o marido enfrenta. Pontuou também que há quem "fala que mulher deve estar onde quiser e depois tenta calar outra mulher", fazendo menção a Simone Tebet, mas sem citar seu nome —nesta semana, a candidata do MDB entrou com uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra a campanha de Bolsonaro por causa da participação de Michelle na propaganda partidária acima do tempo permitido. Michelle enfatizou: "Vamos lutar pela família, vamos declarar que essa nação é do senhor e vamos orar". "Pedimos que a igreja desperte e tenha ideia da guerra espiritual."

Bolsonaro foi chamado para seu pronunciamento logo depois de Michelle. Recuperou seu histórico, desde a época em que decidiu ser candidato e relembrou a facada que sofreu em 2018, dizendo que quem o salvou foi a "mão de Deus".

Ao pontuar que há um candidato que afirma que "vai transformar os clubes de tiro em biblioteca", perguntou: "Prefere sacar da bolsa a Lei Maria da Penha ou uma pistola?". Para ele, arma é uma garantia para não ter violência dentro de casa. Feita a pergunta, o público respondeu, em uníssono: "Pistola!".

Abraçado a Michelle, enfatizou que não há como um homem ou uma mulher ser útil se não houver respeito e entrega entre ambos. "Eu tenho essa voz em casa", falou. Ele destacou também que não tem sábado, domingo, feriado e raramente vai ao Guarujá, no litoral sul de São Paulo. Sobre seus passeios de moto por Brasília, disse que é seu momento de liberdade, embora a primeira-dama tenha sido contrária. "Falo para ela que quando for da bronca em mim, dê em libra."

Após cerca de 45 minuitos, Michelle Bolsonaro encerrou o evento com a citação bíblica de Eclesiastes 10:2: "O coração do sábio o inclina para a direita, mas o coração do tolo o inclina para a esquerda".

"Precisamos de homens com testosterona, masculinos"

O misto de campanha política com evento religioso teve abertura feita por Denise Lorenzoni, mulher do candidato a governador do Rio Grande do Sul e presidente do PL Mulher do Rio Grande do Sul, junto com a candidata a vice-governadora do Estado, Cláudia Jardim. Com oração conduzida por Denise, ela enalteceu o candidato Bolsonaro, que é considerado um "homem que tem nos dado segurança de caminharmos em paz pelo Brasil".

A primeira palestra foi proferida por Dirce Carvalho, da Comunidade das Nações, "esposa, mãe, empreendedora" e idealizadora do Movimento Moderadas. Ela afirmou que é preciso espalhar pelo país a ordem e o progresso. "Eu não vou fazer greve para meu marido, se estiver chateada. Vou levantar e vou preparar o café, não vou deixar louça na pia."

Jair Bolsonaro e Michelle participam de evento para mulheres no Rio Grande do Sul - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Jair Bolsonaro e Michelle em evento para mulheres em Nova Hamburgo (RS)
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Ela ainda afirmou que é necessário adestrar o cérebro para o Brasil dar certo. "Não vamos fazer do Brasil o melhor lugar do mundo para morar. Estamos aqui para apoiar homens e mulheres fortes, para implantar a ordem e o progresso." Ela salientou que a "mentalidade do valor e do crescimento" é necessária.

A pastora e cantora gospel Fernanda Brum usou trechos bíblicos para se dirigir ao público. Afirmou que "Deus dará uma vitória em nome de uma mulher". Ao finalizar, disse que cuida há mais de 15 anos dos "irmãos perseguidos". De acordo com Fernanda, os seres humanos são livres, já que a liberdade de expressão é permitida do Brasil. "Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós", disse ela, antes de exibir um vídeo que mostra que há cerca de 360 milhões cristãos perseguidos no mundo.

Logo depois, foi a vez de Heloísa Bolsonaro, mulher de Eduardo Bolsonaro, discursar. Apresentada por Denise como "gente nossa, referencial para mulheres, natural de Novo Hamburgo, mãe, psicóloga, participante de tiro esportivo", começou entoando o hino de Novo Hamburgo, sua cidade natal. Ela afirmou que "nós precisamos de homens com testosterona, masculinos" e que o termo "mulher empoderada" serve a ideologias e não deve ser usado.

Heloísa disse que "não existe pessoa que não seja submissa" e com falas incisivas, disse que a prioridade é a sua família e que a chegada da Geórgia, sua filha com Eduardo Bolsonaro, transformou a sua vida. Ela, inclusive, mostrou o vídeo do momento do parto ao lado do marido.

A bispa Lúcia Rodovalho, da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, afirmou que Deus já criou a mulher empoderada. "Homem sozinho não consegue ter uma família, por mais que ele tente. Não é o plano de Deus".