Por que o 'positivo' nunca vem? Veja fatores que podem dificultar gravidez
Menstruação monitorada, calendário seguido à risca, muito "treino" na cama e, mesmo assim, a segunda linha do teste de gravidez nunca aparece. Além de ser frustrante para quem está tentando engravidar, essa situação pode estar associada a algumas doenças e condições que precisam ser investigadas.
Só que não adianta se apressar. Larissa Silva e Silva, ginecologista do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista, ressalta ser recomendado pesquisar as causas de tal dificuldade após um ano inteiro de tentativas malsucedidas. Se a mulher tiver a partir de 35 anos, a orientação muda: depois de seis meses tentando, vale a consulta com um especialista.
A investigação é importante e pode levar a diferentes respostas. A seguir, a especialista Larissa e o ginecologista Mauricio Abrão, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), apontam o que pode impactar o sucesso de uma gestação.
Doenças dificultam a gravidez
Endometriose
É quando um tecido semelhante ao revestimento uterino se implanta fora do útero, acometendo outros órgãos. A endometriose corresponde a cerca de 50% dos casos de infertilidade feminina pela distorção anatômica das trompas, que reduz sua mobilidade e dificulta ou até impede o transporte e encontro do óvulo e espermatozoide.
Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
A SOP cursa com uma série de alterações hormonais e metabólicas, incluindo o aumento da insulina (resistência insulínica). Por essa razão, é responsável pela ausência das ovulações ou pela má qualidade delas, levando à irregularidade menstrual e até dificuldade para engravidar.
A síndrome e a resistência costumam ser alterações interligadas, em que o alto nível insulínico interfere na maturação dos folículos ovulatórios.
Adenomiose
É caracterizada pelo crescimento anormal do endométrio no miométrio (outra camada do útero), que inflama durante a menstruação. Com isso, o embrião não consegue se fixar adequadamente.
Miomas uterinos
No caso dos miomas, a dificuldade para gestar vai depender do tamanho e da localização desses tumores benignos. É que, dependendo dessas características, deformam a parte interna do útero, dificultando a fertilidade.
Moléstia inflamatória pélvica
Com origem na vagina, essa infecção se estende às tubas uterinas (conhecidas também como trompas de Falópio) e à pelve feminina. As bactérias responsáveis pela doença são de IST's (Infecções Sexualmente Transmissíveis), capazes de causar danos nas tubas e levar à infertilidade.
Endometrite
Apesar de o nome lembrar a endometriose, nesse caso, há uma inflamação do endométrio por bactérias - de IST's. Esse quadro dificulta a implantação do embrião no endométrio.
Alterações hormonais
O hipotiroidismo (disfunção da tireoide), o aumento da prolactina (hormônio que só deveria estar alto na amamentação) e a menopausa precoce (caracterizada pela perda da função ovariana antes do tempo) são exemplos de doenças e distúrbios hormonais que desregulam e até impedem a ovulação e, consequentemente, a menstruação, afetando a fertilidade.
Malformações uterinas
Anormalidades na anatomia do útero costumam interferir na implantação do embrião, momento decisivo para a gestação. Além disso, caso ele consiga se implantar, as malformações podem provocar aborto.
Fatores variados
Além da dificuldade para engravidar, outras ocorrências devem ligar o alerta de que alguma coisa não vai bem. Entre elas estão: ciclos menstruais irregulares, ausência de menstruação (https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2022/08/24/alem-de-gravidez-o-que-mais-pode-causar-atraso-na-menstruacao.htm) por mais de três meses consecutivos (amenorreia), ganho excessivo de peso, cólicas fortes e/ou dor pélvica durante as menstruações, sangramento vaginal anormal e abortos de repetição.
Não é doença, mas também dificulta
Outras possibilidades devem ser consideradas na investigação e algumas delas não são consideradas patologias. Os especialistas apontam as seguintes condições como possíveis causas:
- Baixa reserva ovariana: a mulher já nasce com uma quantidade pré-determinada de óvulos, que diminui significativamente após os 35 anos, se compromete aos 40 anos e deixa de existir aos 50 anos. Contudo, essa baixa reserva pode acontecer antes do esperado, devido à endometriose, tabagismo, genética e até cirurgias ovarianas. Com a ovulação comprometida, a gestação se torna mais difícil.
- Idade: com o passar dos anos, as chances de gravidez vão diminuindo e as taxas de abortamento, aumentando.
- Sequela de doença inflamatória pélvica: ao ter lidado anteriormente com tal problema, é possível que um processo infeccioso assintomático possa ter acontecido e gerado aderências, alterações de mobilidade e obstrução das trompas.
- Obstrução tubária: é quando a tuba uterina é obstruída decorrente de cirurgias pélvicas, por exemplo;
- Hábitos prejudiciais à saúde: tabagismo, alcoolismo e consumo excessiva de cafeína podem causar alterações no organismo feminino.
- Infertilidade masculina: é importante lembrar que a infertilidade deve ser uma causa conjugal, ou seja, nunca responsabilidade apenas da mulher. Isso significa que a saúde do parceiro também deve ser analisada.
Doenças não se tornam risco
Nem toda doença impede a gestação de uma forma irreversível. Pelo contrário, grande parte pode - e deve - ser tratada, até mesmo para melhorar a qualidade de vida da mulher. Sendo assim, se uma condição apenas dificulta a gravidez, não quer dizer que ela não ocorra, em nenhum momento da vida.
No entanto, a gestação costuma vir acompanhada da preocupação em ter engravidado com o diagnóstico de uma patologia, o que não justifica o desespero. Nem todas as condições citadas acima vão atrapalhar esse momento ou causar algum perigo.
"A endometrite tem mais chances de causar abortamento no primeiro trimestre e sangramentos no terceiro trimestre. É importante manter esse acompanhamento e seguir todas as orientações do médico, como a ingestão de medicação, consultas e exames de imagem, para que a gravidez corra sem problemas", considera Mauricio, também coordenador do Setor de Ginecologia Avançada da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP).
Outros possíveis riscos são lembrados por Larissa: a SOP e a resistência à insulina aumentam o risco de diabete gestacional; os miomas podem levar ao parto prematuro ou abortos; o hipotireoidismo, quando descompensado, é capaz de interferir no desenvolvimento do feto; e o tabagismo, assim como alcoolismo e uso de drogas, impacta no crescimento fetal e pode causar insuficiência placentária.
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