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Eleitoras de Bolsonaro criticam machismo, mas se dizem 'mulheres princesas'

Luiza Damascena nas manifestações de 7 de Setembro em São Paulo  - Camila Svenson/UOL
Luiza Damascena nas manifestações de 7 de Setembro em São Paulo Imagem: Camila Svenson/UOL

Hysa Conrado e Luiza Souto

De Universa, em São Paulo e no Rio

07/09/2022 15h29

Embora Jair Bolsonaro tenha, com orgulho, se autointitulado "imbrochável" em discurso neste 7 de Setembro, apoiadoras que estiveram nas manifestações do Rio e de São Paulo criticaram o teor machista de sua fala em Brasília. Apesar disso, a definição de "mulheres princesas" usada pelo presidente encontrou eco nas eleitoras, que seguem exaltando os valores da família tradicional e se posicionando contra o aborto e a identidade de gênero.

"Eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que estão cansados de ser infelizes: procurem uma mulher, uma princesa, se casem com ela para serem mais felizes ainda!", disse o presidente.

A dona de casa Luciara Melo, 45 anos, esteve na manifestação que ocupou a avenida Atlântica, no Rio, e disse que considera, sim, as declarações de Bolsonaro "um pouco machistas". Ainda assim, afirma que prefere o presidente a algum candidato com "pensamentos extremos".

"Acho, sim, Bolsonaro um pouco machista, mas entre alguém extremo e outro com ideias retrógradas, prefiro esse", afirmou ela. Mãe de Sofia, 7 anos, Luciara defende ainda que a mulher ande com arma para sua segurança. E é a favor do aborto somente nas primeiras semanas de gestação.

Já Vera Regina Gil, 58 anos, foi à manifestação em apoio a Bolsonaro na avenida Paulista. Ela afirmou que a declaração do presidente sobre "mulheres princesas" é "ótima". "A mulher de provérbios 31 é uma mulher sábia e que edifica o lar. A tola destrói, e a sábia edifica. É isso que ele quis dizer", afirmou a bancária, citando a Bíblia. Ela ainda afirmou que o STF ameaça a liberdade do Brasil.

7 de setembro: mulheres são maioria em atos pró-Bolsonaro em SP e RJ

A professora de educação infantil Luiza Damascena, 21 anos, disse que foi à Paulista para mostrar que as mulheres "também têm força e voz na política". "Não somos segundo plano. Temos opiniões, e elas devem ser ouvidas tanto quanto as masculinas."

Luiza, no entanto, não se identificou tanto com o discurso do presidente. "Não é com toda fala do presidente Bolsonaro que eu realmente concordo. Mas não concordo 100% com o que nenhum candidato fala. 'Imbrochável' acho que não é [um termo apropriado] para um ato político. O que ele falou é algo que deve ser dito entre amigos, e não em um dia tão importante."

Ela apoiou, no entanto, o que Bolsonaro disse sobre "mulheres princesas". "Acho que o que ele quis dizer é para procurar mulheres bem cuidadas, arrumadas, mas não que uma mulher fora desse padrão não mereça ser valorizada. Toda mulher é princesa, eu sou princesa, minha mãe é princesa, você, qualquer mulher que está aqui hoje é uma princesa."

Quem também disse se sentir princesa foi Luciane Boch, 51 anos, relações públicas. "Eu me sinto princesa, todas as mulheres são. Eu, como mulher, adoro o Bolsonaro. Não acho ele misógino. Ele deixou a esposa dele falar na posse, ela manda mais em casa do que ele. As pessoas não interpretam ele direito. Não é questão de ser princesa, é ser mulher. Votamos, conquistamos nossos direitos. Nós somos a favor do feminismo, mas não desse feminismo que não gosta do homem."

Direitos das mulheres

Muitas apoiadoras do presidente afirmaram que consideram que ele está fazendo um bom trabalho com relação aos direitos das mulheres.

"Esse dia é para preservar a liberdade, principalmente a liberdade feminina, para que não nos calem. Estamos aqui para mostrar que estamos do lado da moral, dos bons costumes e da família", disse Viviane Cavalcante, 37 anos, reforçando que é contra o aborto.

A técnica de enfermagem Juliana Maria Souza, 39 anos, diz que Bolsonaro aprovou muitas leis que beneficiam mulheres, mas não as listou nem destacou a mais importante "porque eram muitas".

"Bolsonaro tem feito muita coisa pelas mulheres, aprovou muitas leis que estavam [havia] anos esquecidas pelos governos do PT, governo comunista. E esse papo de que ele é contra as mulheres é ação do povinho de esquerda."

A estudante Maria Eduarda, 18 anos, disse que o presidente faz para os homens o mesmo que faz para as mulheres. Ela se diz ainda "absolutamente contra matar uma criança dentro do ventre". Para ela, que estava com a mãe na manifestação de São Paulo, sua presença lá mostra que a mídia está completamente errada, pois as mulheres também apoiam o presidente.

Sobre algo que o presidente tenha feita e que a marcou, ela demorou a responder, mas por fim, concluiu: "Bom, ele vai contra tudo o que a gente já viu. É uma pessoa muito diferente dos outros políticos que a gente vê hoje em dia".

Homem com homem não pode

Ao lado da amiga Carmen, a advogada Sidineia dos Santos Sant'Anna diz que sempre defendeu a direita - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Ao lado da amiga Carmen, a advogada Sidineia dos Santos Sant'Anna diz que sempre defendeu a direita
Imagem: Zô Guimarães/UOL

A advogada Sidineia dos Santos Sant'Anna, 73 anos, esteve nas ações do Rio de Janeiro. Ela afirmou que sempre defendeu a direita e que acredita que o país "precisa recuperar os tempos em que tínhamos liberdade de nos expressar". "Só não pode essa coisa de ideologia de gênero", afirma, usando termo cunhado pela Igreja Católica para se referir a uma linha de pensamento que seria contrária à divisão da humanidade entre masculino e feminino. Nela, os gêneros são moldados de acordo com a estrutura cultural e social dos indivíduos. A ideologia é considerada pelos religiosos um perigo para o mundo.

Contrária ao aborto, ela concorda ainda que é preciso olhar mais pela vida das mulheres, mas também da família inteira, como discursa Bolsonaro. "Tem que acabar com feminicídio, com esses homens ciumentos."

A dona de casa Carmen da Silva Santos, 67 anos, destaca: "Tem que acabar com essa coisa de homem com homem e mulher com mulher".

Direito de escolha, mas não de fazer aborto

A aposentada Maria da Penha Resende, 72 anos, diz que vai às ruas desde 2014, quando começou a ficar insatisfeita com o rumo que o Brasil estava tomando. Hoje, defende o patriotismo e que todos sejamos iguais.

"Nosso direito de escolha precisa ser respeitado. E não é escolher fazer aborto, por exemplo, mas liberdade de se expressar ou de usar arma para se defender."