Mel Lisboa: 'Depois de Anita, quis voltar ao teatro e pôr os pés no chão'
Aos poucos, a vilã Regina foi se desenvolvendo de tal maneira na trama da novela "Cara e Coragem", da Globo, que deixou o público pensativo sobre como será o final da personagem. São sentimentos relativamente novos para sua intérprete, Mel Lisboa, que ficou cerca de 14 anos fora da TV, se dedicando ao teatro e outros projetos culturais. "Não sei explicar o porquê, mas logo depois que eu fiz televisão, meu primeiro trabalho, eu tive uma vontade muito grande de voltar pro teatro, porque foi onde eu comecei, é um lugar que me ensina muita coisa, me oferece recursos, põe meus pés no chão", declara ela, referindo-se à minissérie "Presença de Anita", de 2001, também da Globo.
Hoje, toda bagagem adquirida nos tablados, com peças como "Dogville", criada como uma adaptação do filme do diretor Lars von Trier, de 2003, a atriz revela que tem mais "recursos" na mão para brincar com uma vilã como Regina. "A personagem passa ser uma pessoa independente, mas mascara seus problemas e inseguranças. Existem muitas pessoas assim também", explica Mel.
Para o ano que vem, ela pretende remontar a peça sobre a cantora Rita Lee, personagem que encarnou nos palcos entre 2014 e 2015, além de continuar com a temporada da audiossérie "Paciente 63", na qual ela faz a psiquiatra Elisa; e estrelar o thriller sobre violência de gênero "Atena", cujo papel é de uma anti-heroína que faz justiça do jeito que bem entende.
Com tantas personagens femininas, ela diz que, aos poucos, vai pegando novas perspectivas sobre a evolução da liberdade das mulheres. Porém, prefere ser mais cautelosa ao dizer que estamos em constante evolução. "Quanto à questão da autonomia, olhando para um passado, já evoluímos e progredimos bastante, mas acho que também olhamos para bolhas, pois ainda existem realidades bastante complicadas."
Atualmente, ela está em um constante vai-e-vem entre São Paulo, onde fica a família, e Rio de Janeiro, onde são feitas as gravações da novela. "As semanas são um malabarismo, mas faço questão de explicar, mostrar e deixar claro para meus filhos como funciona a minha profissão e o quão importante ela é para mim", pontua Mel, mãe de Bernardo e Clarice, frutos do casamento com o músico Felipe Roseno. A seguir, confira trechos da entrevista.
UNIVERSA - Deu medo voltar para a Globo depois de 14 anos?
MEL LISBOA - Na verdade, é uma sensação muito boa porque tenho história, memórias e, depois de tanto tempo, também uma outra história que foi criada, minha carreira, cresci e amadureci. A relação com a TV também mudou.
Por que quis se afastar?
Não sei muito bem explicar o porquê, mas logo depois que fiz televisão, meu primeiro trabalho ["Presença de Anitta", em 2001], tive uma vontade muito grande de voltar pro teatro porque foi onde eu comecei, é um lugar que me ensina muita coisa, me oferece recursos, põe meus pés no chão. Então, desde aquela época, já fiz algumas opções que podem parecer diferentes do que se espera, mas, para mim, foi natural, é como se tivesse que ter sido assim. Foi, e está sendo, a minha trajetória, a minha história, preciso estar sempre no teatro, tenho essa necessidade.
Você diz que foi na contramão do que se espera. É por que a maioria prefere a fama e o dinheiro da TV?
Acho que isso é individual, cada um tem seus desejos, vontades e objetivos. É genuíno se uma pessoa quiser fama e dinheiro, por que não? Mas eu preciso estudar, e não só na minha área --até voltei pra faculdade [Mel cursa letras]. Tenho consciência de que isso é uma escolha que demanda tempo e paciência mas, ao mesmo tempo, que o resultado tem solidez. Então, prefiro colher os frutos um pouco depois, sabendo que ali eu tenho uma estrutura bem embasada.
Na novela, sua personagem se mostra independente, mas mascara suas inseguranças, pois na verdade é uma alpinista social que tenta manipular os outros. Você acha que existem 'Reginas' por aí?
Sim. Mais do que isso, a Regina tem essa coisa de usar uma máscara social. Ela se comporta de um jeito na frente dos outros e, por trás, tem outro comportamento, uma outra personalidade. Existem muitas pessoas assim também.
Qual a sua visão sobre o que é ser uma mulher independente?
Olhando para um passado, já evoluímos e progredimos bastante, mas acho também que olhamos para bolhas, pois existem realidades bastante complicadas ainda. Podemos evoluir bastante, e isso exige uma luta diária e um aprendizado diários. Vou aprendendo com outras mulheres, especialmente sobre as diferenças, meus privilégios, a luta de cada uma, de cada grupo.
Nos seus trabalhos recentes, suas personagens são mulheres cujas mentes caminham para lados profundos e obscuros. Como isso mexe contigo?
Vejo tudo isso como uma forma de pesquisar, e desenvolver ferramentas e recursos para que eu possa fazer esses trabalhos de uma forma satisfatória. Ou seja, cada personagem vai me oferecendo uma série de informações e de experiências, que me fazem crescer como artistas e como ser humano.
Como você avalia um projeto antes de dar o seu 'sim'?
Claro, há critérios, como um bom texto, a base de tudo. Também tem a questão da equipe, quem vai dirigir, produzir, com quem você vai dividir a cena. Uma novela é diferente, é uma aposta, você não sabe como vai terminar, então, não dá tanto para escolher nesse sentido de texto. Acho que a escolha também está atrelada a questões artísticas ou do momento, o que você precisa, qual o seu objetivo. Por exemplo, se questionar se quer dar mais enfoque no seu trabalho artístico ou está precisando de um trabalho mais comercial.
Em suas redes sociais, há muitos posts que poderiam ser considerados "militantes". Qual é a importância de, como artista, se pronunciar sobre assuntos políticos?
Muitas vezes, posto coisas porque acho que são importantes, porque, pra mim, são assuntos que me tocam e que eu gostaria de falar sobre, sem muito medo das críticas. Elas virão, né? Ainda mais nesse momento polarizado que a gente está vivendo, não só o Brasil, mas no mundo todo. Então, as discussões ficam muito acaloradas, mas existem muitas coisas que são questões individuais, se a pessoa acha que precisa falar sobre isso, ela fala. Se não acha, ela não fala, a minha questão é muito também do que me move.
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