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Dor, eficácia, contraindicações e mais: esclareça dúvidas sobre o DIU

stefanamer/Getty Images/iStockphoto
Imagem: stefanamer/Getty Images/iStockphoto

Mariana Toledo

Colaboração para Universa, em São Paulo

12/09/2022 04h00

Dói? Tem efeitos colaterais? Posso engravidar quando tirar? Respondemos essas e outras dúvidas sobre o DIU

O DIU é um método contraceptivo eficiente. A eficácia do DIU de cobre é de 99,4%, e esse índice sobe para 99,7% no DIU hormonal. Também é um método reversível, ou seja, quando ele é retirado, a fertilidade volta imediatamente. E pode ser utilizado a longo prazo. Depois de colocado, ele tem validade de cinco a dez anos, dependendo do tipo. Entre suas principais vantagens está ainda o fato de que, diferentemente da pílula, das opções injetáveis e do anel vaginal, você não precisa lembrar de tomar ou usar. Após a inserção, que é feita por profissionais de saúde em consultórios ou no hospital, basta fazer um check up semestral.

Apesar dos diversos benefícios, ainda são poucas as mulheres que usam DIU: cerca de 14% no mundo e, no Brasil, apenas 2%, segundo estudiosos da saúde na Europa e no Canadá. A aderência relativamente baixa tem a ver com os mitos que ainda cercam esse método contraceptivo, especialmente relacionados a dores, efeitos colaterais e possibilidade de ele sair do lugar (o que prejudicaria a eficácia).

Universa conversou com médicas ginecologistas para esclarecer as principais dúvidas a respeito do dispositivo intrauterino, o DIU. Confira.

Quais são os tipos de DIU e como eu sei qual deles é o mais adequado para mim?

Os DIUs são divididos em dois grandes grupos: o hormonal e o de cobre. Os de cobre, que não possuem hormônios, são feitos de polietileno envolto em uma serpentina de cobre. Existe um tipo de DIU de cobre que ainda leva uma camada de prata. Nesses dois, o sistema de contracepção é o mesmo: ele libera o cobre, em pequena e lenta quantidade, de forma não-absorvível na circulação, ficando restrito à cavidade do interior do útero, a mesma onde se desenvolve a gestação. Ali, com essa liberação, o ambiente fica hostil ao espermatozoide, impedindo, assim, a gravidez. Já o DIU hormonal (há duas opções no mercado: o Mirena e o Kyleena) evita a gravidez por meio da liberação do hormônio em baixa quantidade, sendo 52 microgramas de levonorgestrel, e também pelo engrossamento do muco que é produzido dentro do útero, o que cria uma resistência para o espermatozoide se deslocar.

"O DIU mais indicado para você é aquele que mais tem a ver com a sua realidade. Antes de decidir, é importante levar em conta fatores como o tempo de contracepção que se deseja, se você tem cólicas, qual a intensidade do seu fluxo menstrual, suas condições de saúde e os custos", pontua Érika Mendonça, ginecologista, obstetra e sexóloga. Ela explica que se o desejo de não engravidar é algo mais a longo prazo, o DIU de cobre pode ser uma boa opção, uma vez que ele tem validade de dez anos contra cinco dos hormonais. Depois disso, tem que trocar. Agora, se a mulher tem um fluxo menstrual intenso e costuma sofrer com cólicas pré-menstruais, o cobre já não é o tipo mais indicado, pois pode aumentar o sangramento mensal e intensificar as cólicas.

Além disso, quem tem algum tipo de patologia ou está em fase de tratamento de doenças como endometriose deve fugir do DIU de cobre. Mesma coisa para quem deseja reduzir o fluxo ou até suspendê-lo, como estratégia de tratamento para reduzir as dores relacionadas, No hormonal, 70% das pacientes têm suspensão da menstruação. Mas vale destacar: nenhum deles altera o processo de ovulação.

Em relação aos custos, normalmente é cobrado um valor fixo pelo procedimento, que em clínicas e serviços particulares: cerca de R$ 1.500, mais o valor do dispositivo em si. O DIU de cobre custa aproximadamente R$ 150, e o o hormonal, R$ 1.000. No SUS, é possível conseguir o tratamento de forma gratuita.

Mayara Facundo, ginecologista e obstetra, reforça que a eficácia do DIU diz respeito apenas a evitar uma possível gravidez: "Para impedir a transmissão de DSTs e ISTS, o método mais indicado ainda é a camisinha".

O DIU pode ser colocado em hospitais ou consultórios médicos - pepifoto/Getty Images/iStockphoto - pepifoto/Getty Images/iStockphoto
O DIU pode ser colocado em hospitais ou consultórios médicos
Imagem: pepifoto/Getty Images/iStockphoto

Existe alguma contra-indicação, isto é, alguma condição que me impeça de colocar DIU?

"Nem todas as mulheres podem usar DIU. As com suspeita de gravidez, com doença inflamatória pélvica, com má formação uterina e com câncer uterino não podem utilizá-lo. Já os DIUs hormonais não podem ser usados por aquelas que já tiveram câncer de mama ou algumas doenças hepáticas", esclarece.

Como ele é colocado?

O DIU é colocado por médicos ginecologistas, no hospital ou no consultório. Antes do procedimento, é importante fazer uma bateria de exames básicos, como ultrassom abdominal e transvaginal, para checar se o corpo está pronto para receber o dispositivo. O procedimento é simples: a haste do DIU fica implantada dentro do útero, e um fio de nylon, ligado à sua extremidade inferior, é deixado dentro da vagina, cerca de 2 cm para fora do colo. O fio é bem fininho e fica bem próximo da saída do colo do útero, portanto, não pode ser sentido pela paciente. A finalidade do fio é servir ao controle do DIU e à sua retirada quando não mais desejado.

Cintya Shimada, ginecologista e obstetra, conta que, em mulheres que nunca engravidaram ou fizeram cesária, o processo é feito durante a menstruação ou no período fértil, pois o colo do útero está mais entreaberto. O procedimento dura entre 30 e 40 minutos.

Relações sexuais devem ser evitadas nas primeiras 24 horas após a inserção do DIU. Uma visita ao ginecologista e uma ultrassonografia são indicadas de quatro a 12 semanas após a inserção do DIU. A partir daí, é importante consultar o ginecologista semestralmente para avaliar se está tudo certo com o dispositivo.

O procedimento dói?

"A inserção é um pouco dolorosa, mas pontual, como uma cólica forte. São dois momentos: introduzir uma régua que mede a distância do colo até a parede mais funda do útero e, na sequência, a introdução do dispositivo com a ajuda de um cateter", conta Érika, que acrescenta que algumas médicas já optam por fazer anestesia do colo uterino a fim de reduzir os incômodos. É possível, ainda, tomar um relaxante muscular, mas é importante atender a orientação do médico. A recomendação é que, na hora do procedimento, a paciente vá acompanhada e bem alimentada. Após o DIU inserido, vida normal: no dia a dia, ele é imperceptível e não dói nada.

O DIU atrapalha a relação sexual?

A resposta é não. Nem a pessoa que usa nem a outra conseguem perceber que o DIU está ali. O fio de nylon que ele tem também não atrapalha e é seguro —não perfura a camisinha, por exemplo. Mas isso só é válido depois da primeira consulta de retorno após a inserção do dispositivo - é ali que o médico vai dar um OK a respeito do posicionamento correto e do perfeito funcionamento do DIU.

Ele pode prejudicar uma futura gravidez?

O DIU não interfere de forma permanente na fertilidade —assim que ele é retirado, a mulher já pode conseguir engravidar. No caso do DIU hormonal, a menstruação pode levar até três meses para voltar ao normal.

Quais são os efeitos colaterais?

De acordo com Mayara, os DIUs normalmente provocam menos efeitos colaterais do que outros métodos contraceptivos, como o anticoncepcional oral. Isso porque eles agem dentro do útero, e não de forma sistêmica. "Os DIUs hormonais podem, por vezes, provocar um pouco de inchaço no corpo e um leve aumento de acne, facilmente contornáveis. Já os DIUs não-hormonais podem provocar um aumento do fluxo e cólicas menstruais."

Cintya salienta que os efeitos colaterais mudam de paciente para paciente e dependem da adaptação de cada organismo —mas geralmente são brandos. Em relação à menstruação, pode haver escapes no começo, mas depois a situação tende a normalizar.

Quais são os cuidados que quem usa DIU precisa ter?

Mayara cita alguns. "Manter a saúde vaginal é essencial para evitar infecções uterinas com o DIU. Tratar corrimentos vaginais, fazer sexo seguro e prestar atenção ao uso de absorventes internos são itens que devem ser considerados." Ela diz também que é preciso ter cautela em relação ao uso de coletores vaginais, pois eventualmente podem deslocar o DIU.

Cintya ainda destaca a importância de manter o uso do preservativo pelos 30 primeiros dias após o procedimento e fala sobre a liberdade que o DIU dá à mulher: "Ele estando bem colocado, não tem nada que a paciente não possa fazer. É empoderador e libertador em muitos sentidos".

Posso ter complicações com o DIU?

As possíveis complicações —tais como infecções pélvicas, expulsão do DIU e deslocamento da cavidade uterina— são bastante raras. Para prevenir, basta estar com os exames e as consultas em dia.

É verdade que o DIU pode ser usado como contraceptivo de emergência?

Sim. "Se inserido imediatamente após a relação sexual desprotegida, o DIU pode ter uma alta taxa de contracepção, além de manter essa contracepção de longa ação. É uma alternativa à pílula do dia seguinte. Mas, para isso, é necessário procurar atendimento imediatamente", afirma Érika.