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Ex-Masterchef tem 2 filhos e 5 empresas: 'Dar conta de tudo é ilusão'

Izabela Dolabela, 33, participou da primeira edição do "Masterchef Profissionais", em 2016 - Divulgação
Izabela Dolabela, 33, participou da primeira edição do 'Masterchef Profissionais', em 2016 Imagem: Divulgação

Caroline Marino

Colaboração para Universa, em São Paulo

12/09/2022 04h00

A gastronomia entrou na vida da mineira Izabela Dolabela, 33 anos, na adolescência. Ela era atleta e marcou seu nome no cenário esportivo nacional ao ser campeã brasileira de triatlo em 2006, aos 17 anos. "Sempre gostei de comer e comecei a ter vontade de me alimentar de forma mais saudável. Na minha casa, as opções eram as mais básicas, como na maioria das famílias, e queria inserir mais legumes, feijões diferentes, arroz integral e, ainda, reduzir o consumo de carne", conta.

Izabela pesquisou o que podia fazer e, assim, deu os primeiros passos na área. Buscou cursos técnicos de culinária no Senac e, de lá para cá, a culinária tem sido a sua maior paixão. "Na época, há cerca de 20 anos, a gastronomia não era muito popular e, por causa dos meus pais, que estranharam minha escolha, cursei direito em paralelo", lembra. A profissão de advogada ficou apenas no diploma, e Izabela começou a trabalhar em restaurantes e a se especializar na área. Fez pós em gastronomia funcional e natural, além de vegetariana e vegana.

Em 2016, teve a oportunidade de participar da primeira edição do "Masterchef Profissionais", maior reality show de culinária do mundo. "Foi uma surpresa ser selecionada, pois via o programa como algo inatingível. Lembro que quando cheguei e vi o nível dos participantes, fiquei apavorada. Na turma, havia chef do Due Cuochi, do Buffet Fasano? E logo pensei: 'Meu Deus, vou fugir, voltar para BH correndo'", conta.

Izabela achava que não era tão boa quanto os outros participantes, mas com calma e humildade foi conquistando seu lugar na competição. "Percebi que era, sim, tão boa quanto meus concorrentes e merecia estar ali", diz.

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Izabela é sócia de cinco empresas: Nattu Restaurante; Lowko Sorvete; Artse Vinhos; It.buffet; e Compotas Ibá
Imagem: Divulgação

Apesar de não ter vencido, ela se destacou e outras oportunidades surgiram. "O Masterchef foi um divisor de águas para mim. Eu nunca tinha sido chef, e o programa fez com que eu pulasse de categoria na cozinha", conta Izabela, que começou a trabalhar como influenciadora para marcas com as quais sonhava, como KitchenAid, Le Creuset e Brastemp. Hoje, tem cerca de 276 mil seguidores.

Atualmente, ela é sócia de cinco empresas: Nattu Restaurante, de culinária orgânica e funcional; Lowko Sorvete, feito com ingredientes naturais e de baixa caloria; Artse Vinhos, marca de vinhos em lata; It.buffet, voltado para eventos corporativos; e, mais recentemente, da Compotas Ibá, de geleias orgânicas. O cardápio de todos os negócios é assinado por Izabela. E as empresas vão muito bem: a Lowko, por exemplo, já conta com mil pontos de venda e a perspectiva é, em breve, abrir mais dois mil.

Machismo na cozinha e fora dela

Um dos maiores desafios de sua trajetória foi lidar com o machismo, ainda tão presente na gastronomia. "A profissão que escolhi é muito machista e, geralmente, trabalhamos à noite e com muitos homens, tanto na cozinha quanto no salão. Isso faz com que tenhamos de trabalhar mais para nos provar. Lembro de uma vez em que cheguei para fazer consultoria em um restaurante e as pessoas não me respeitaram por eu ser mulher", diz.

Segundo ela, isso faz com que as mulheres precisem, primeiro, conquistar o respeito para depois conseguir mostrar o trabalho. E isso é bem desgastante", afirma. Mas ela ressalta que é muito tranquila e isso ajuda a lidar com essas e outras situações. "Brinco que não sou uma pessoa de números, sou péssima nisso, mas a inteligência emocional é uma característica muito forte em mim", diz.

'Aprendi com meus erros'

Outro ponto importante para crescer e se destacar é não paralisar com os problemas ou erros, pois eles fazem parte de qualquer trajetória. "Eu aprendi muito com meus erros". Ela lembra que, em paralelo a Lowko Sorvete, montou uma empresa de chocolate e não foi a decisão certa para aquele momento, pois trabalhava com um produto cuja matéria-prima era em euro e o valor da moeda só aumentava. "Aprendi que não devo focar em negócios que dependem de uma coisa só, pois se houver alguma variação de preço, é possível trabalhar de outra forma", diz.

Além disso, reforça que tudo tem o momento certo e é preciso ter tranquilidade para dar os próximos passos. "Eu queria ter vindo para São Paulo antes, queria ter ido para a Europa... Ainda bem que não fiz isso. Amadureci e busquei mudanças na hora certa. Meu lema é devagar e sempre", diz.

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Geleia de amora com cumaru da Ibá
Imagem: Divulgação

Izabela ressalta, também, que a rede de contatos e o trabalho pautado na verdade são pilares cruciais para se manter no mercado.

"Você tem que ser muito verdadeiro com o que você faz. Eu falo de cozinha, pois a gastronomia é parte do que sou. Hoje falo também de maternidade, pois estou vivendo isso. Trabalhar com aquilo que, realmente, você está fazendo no momento é muito importante. Às vezes, vejo influenciadores perdidos, sem saber para onde ir. O primeiro passo é se encontrar, saber do que você entende, como vai influenciar as pessoas. Você só pode influenciar com algo de que gosta e entende. Esse é o segredo: ser verdadeiro", afirma.

Ela conta, por exemplo, que teve a oportunidade de trabalhar com marcas que não faziam parte do seu dia a dia e nas quais não acreditava, e recusou. "Não pode ser uma escolha só pelo dinheiro", completa.

'Falar que dou conta de tudo seria uma mentira'

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Izabela sobre o 'Masterchef': 'Via o programa como algo inatingível'
Imagem: Divulgação

Para dar conta de todo o trabalho, a sociedade das cinco empresas, a atuação como influenciadora e o cuidado com seus dois filhos, Davi e Sara, Izabela ressalta que é essencial ter em mente que não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, e saber dizer não é essencial.

"Prezo muito o tempo com meus filhos. Terça e quinta tiro as manhãs para ficar com eles", conta.

É essencial também saber quando é hora de parar um pouco. "Oportunidades sempre aparecem, mas hoje falo: 'Olha, infelizmente, não vou conseguir pegar'. O pessoal fala do tal do burnout e eu falo de piripaque. E não quero ter."

Por isso, diz, ter foco é essencial. "Neste momento estou mais focada na Ibá, que é meu negócio novo. Em outro momento, se precisar mudar um cardápio, por exemplo, vou olhar para isso. Assim, vou dividindo meu tempo e meu dia no que precisa mais de mim", diz.

"Falar que eu dou conta de tudo seria uma mentira; não dou."

Nesse sentido, ela ressalta o trabalho colaborativo. "Todos os meus negócios contam com outros sócios. Se você não tem tempo para se dedicar 100%, é importante encontrar pessoas boas que possam te ajudar", finaliza.