'Não monos também sentem ciúmes', diz psicóloga e adepta de relação aberta
Em entrevista ao podcast Sexoterapia, a psicóloga e sexóloga Adê Monteiro, dona de duas contas no Instagram sobre não-monogamia - "Reflexões & Conexões não Mono" e "Psis não Mono" - falou sobre as discussões em relação ao conceito de relacionamento aberto. Você pode assistir ao episódio na íntegra no vídeo acima.
Adê explicou que nos grupos de não monogamia dos quais participa, questiona-se a inclusão de adeptos do swing nessa categoria, por exemplo, já que esses casais estão abertos apenas a trocas sexuais, mas não amorosas, como os adeptos do poliamor. "As páginas mais críticas colocam que isso é uma monogamia flexibilizada, porque continuam todas as regras e todos os mecanismos de controle e cerceamento da liberdade, menos a parte sexual".
'Só vou transar com ele para o resto da minha vida?'
Adê contou também sobre a sua própria experiência com relacionamento aberto, alertando para a cilada de achar que é possível convencer o parceiro. "É bem complicada essa relação entre pessoas mono e não mono, porque fica um na ilusão de que vai converter o outro. No fim das contas, não rola".
Ela foi casada durante 15 anos, e o relacionamento que começou fechado virou não monogâmico algum tempo depois, por influência dela. "Meu parceiro se abriu, ele falou: 'faz sentido, não vou te prender, vamos viver isso'. Mas ele nunca se enfiou de cabeça, como eu me enfiei. Ele nunca teve muito interesse."
Agora, poucos meses após o divórcio, ela diz que ficou claro que, realmente, ele preferia a monogamia e topou viver um relacionamento aberto durante seis anos só para agradá-la.
"Foi doloroso ouvir isso, eu achava que ele realmente queria. Mas ele estava fazendo por mim. Fazer pelo outro é complicado, pode ser uma violência. A conta chega, porque você se sacrifica pelo outro e vai cobrar essa dívida. A pessoa tem que pensar muito bem e fazer isso não só pelo outro", diz.
"Pessoas não mono também lidam com ciúmes e inseguranças"
Adê ressaltou ainda que, assim como na monogamia, na não monogamia também existem dificuldades e questões difíceis para lidar. "Para ser monogâmico, a gente tem que abrir mão de um monte de coisas: tem que se privar, se podar, tem que focar o nosso desejo e o nosso afeto em uma pessoa. O não mono pode se abrir, pode experimentar afeto e sexo com outras pessoas. Mas vai lidar com ciúmes, com insegurança, com um monte de gatilho. Você tem que ver o que vale mais a pena", conclui.
A psicóloga ressaltou que existem vários conceitos problemáticos dentro da não monogamia, herança do início do poliamor, que surgiu nos Estados Unidos nos anos 1980 e 1990, porque muitos casais queriam abrir a relação, mas não queriam perder o status de prioridade um para o outro.
"Entre esses termos problemáticos estão: hierarquia de casal; relação primária e secundária; polifidelidade; e unicornização, que são os casais que buscam uma moça para ser a namoradinha, aquele unicórnio, aquele ser místico que vai apimentar a relação. Mas a gente está desconstruindo completamente isso".
Para Ana Canosa, a relação não monogamica pode ser para todos, desde que estejam dispostos a questionar valores, crenças e rever sentimentos de posse. "A ilusão de ser exclusivo, busca garantir um lugar especial na vida psíquica das pessoas, é quase entendido como uma prova de amor. Viver o amor em liberdade, respeitando desejos e afetos e aceitando a sua impermanência", afirma.
É difícil viver a monogamia e a não monogamia. Escolha o seu difícil, diz sexóloga
Ana Canosa ainda diz que na teoria seja positivo pensar na proposta não monogâmica e desconstruir a ideia de monogamia compulsória, não é todo mundo que está preparado e dá conta de viver essa experiência na prática.
"Escolha o seu difícil. É difícil viver a monogamia. É difícil viver a não monogamia, porque nós temos ainda uma estrutura de monogamia bastante forte. Essa estrutura tem, inclusive, base genética. A gente tem uma estrutura de romantismo, de patriarcado, é muita estrutura monogâmica para você, de uma hora pra outra, desconstruir isso", diz a sexóloga.
Sexoterapia é o espaço criado por UOL/Universa para falar de sexo e relacionamento. Você pode conferir o programa em plataformas de áudio como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music. No Youtube de Universa, o programa também está disponível em vídeo.
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