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'Não tenho roupa': aluguel de peças casuais é saída para gastar menos

Paula Salum e Victória Scherer, fundadadoras da Não Tenho Roupa - Divulgação
Paula Salum e Victória Scherer, fundadadoras da Não Tenho Roupa Imagem: Divulgação

Hysa Conrado

De Universa, em São Paulo

13/09/2022 04h00

Olhar para o armário abarrotado e soltar a frase "não tenho roupa", vez ou outra pode funcionar como uma senha para validar a compra daquela blusinha que está há semanas na lista de desejos, só esperando o próximo impulso dar as caras.

Mas, e se fosse o contrário, e a expressão se tornasse sinônimo de consumo consciente? Este pensamento alugou um verdadeiro triplex na cabeça de Victória Scherer, 27 anos, ainda em 2018, enquanto ela rolava a tela pelo site de uma loja famosa e pensava no seu look de aniversário.

"Eram vestidos bem marcantes, que você olha e vê que vai usar duas ou três vezes, porque vai pensar que todo mundo já te viu com ele", conta Victoria.

Entre um "eu mereço" e um "mas eu já tenho muita roupa", surgiu a ideia de um lugar onde fosse possível alugar peças para eventos casuais, e não apenas para ocasiões especiais, como formaturas e casamentos. Assim nasceu a startup de moda Não Tenho Roupa, gerenciada entre amigos pela Paula Salum e Mario Cherubini, além da Victoria.

Não é o primeiro serviço deste tipo no Brasil, mas a loja acabou ganhando força no Instagram por sua estética anos 2000 e conteúdos que mais parecem uma conversa entre amigas.

"O Não Tenho Roupa é esse local como se fosse uma amiga confidente, dando dicas de leiga para leiga, porque a gente também sabia pouco sobre moda. Tanto que o nosso espaço físico é um quarto de fato, [como se fosse o] de uma amiga. É uma comunidade", afirma Victoria.

Nem todos os mais de 223 mil seguidores conseguem alugar as peças —que estão disponíveis apenas para Florianópolis (SC) —mas os posts com os temas "a patricinha respira aliviada quando" e "no tribunal da moda eu sou culpada", acabam movimentando debates entre o público conquistado na rede social.

No site da startup, uma bolsa que custaria R$ 889 na loja convencional pode ser alugada pelo valor de R$ 55, para ser usada por cinco dias. Também existe um plano de assinatura, no qual o aluguel das peças sai ainda mais barato.

"A porta de entrada para o aluguel costuma ser evento [casamento ou formatura], depois ela [a cliente] vai entendendo que pode ir pegando peças novas todo final de semana, ou durante a semana para o trabalho, então vira uma coisa mais casual", destaca Victoria.

Além de reduzir os gastos e evitar o acúmulo de roupas e acessórios que serão usados apenas uma vez naquele aniversário ou festival de música, por exemplo, a proposta do aluguel também vale para se jogar nas tendências mais polêmicas que nem sempre podem ser reaproveitadas com facilidade no dia a dia, como aquele blazer oversized pink que promete ganhar ainda mais força com a trend "barbiecore".

Não tenho roupa - Divulgação - Divulgação
O espaço físico do Não Tenho Roupa é como o quarto daquela amiga
Imagem: Divulgação

O blazer laranja, por exemplo, que está entre as peças do Não Tenho Roupa, é daqueles com grande potencial de ser usado apenas uma vez. Em uma loja a peça pode custar até R$ 1.095; já o aluguel sai por R$ 99.

"Tem cliente que aluga a mesma peça mais de uma vez, porque ainda vale mais a pena do que comprar um, sem contar que ela não precisou lavar, guardar e arrumar caso tenha acontecido alguma coisa", ressalta Victoria.

Segundo ela, as peças que costumam ser alugadas com mais frequências são as de paetês e strass —aquelas que poucos usam constantemente e, por isso, costumam ficam paradas no armário alimentando a frustração do "até tenho roupa, mas não sei o que vestir agora".

No maravilhoso mundo do usar sem precisar comprar, como a Não Tenho Roupa se define no Instagram, ainda não há peças que vistam todos os corpos. No momento, as roupas que podem ser alugadas variam entre PP e GG, vestindo até o tamanho 46 —detalhe que não costuma passar despercebido pelas seguidoras, que estão sempre cobrando numerações maiores.

"Ainda não temos plus size, mas está entre as nossas metas. A questão é que temos 250 peças, o que pode parecer muito, mas não é; um aluguel normalmente tem mil peças. No Instagram, temos um destaque mostrando pessoas provando as nossas roupas, pois há peças de tamanho M, por exemplo, que vestem pessoas de corpos diferentes", afirma Victoria.

Além de expandir o manequim, a Não Tenho Roupa também pretende chegar em breve a outros estados, os quais Victoria não quis revelar a Universa para poder surpreender as seguidoras. "Hoje, as formas que temos de consumir consciente é o aluguel, o brechó e comprar de uma marca local. Nosso marketplace é essa forma de apoio à marca local", afirma.

As peças do Não Tenho Roupa estão disponíveis apenas para Florianópolis, mas há serviços semelhantes com essa disponibilidade:

- Clorent: fica em São Paulo, mas entrega em todo o Brasil
É possível alugar peças avulsas ou fazer a assinaturas de planos. Há um pacote com até 12 peças ou sapatos diferentes, que podem ser usados durante 15 dias a depender da forma de aluguel.

- U STYLE, em São Paulo, também atende todo o país
É possível alugar de forma avulsa ou comprar os pacotes de créditos, com duração de um mês, e aplicá-los em quantas peças for possível; as roupas podem ser usadas por até 20 dias a depender da forma de aluguel negociada.

- A Roupateca, em São Paulo
Não é possível alugar de forma avulsa, mas a loja oferece planos os quais possibilita alugar apenas uma peça por vez; o período da locação é de até um mês. A Roupateca atende apenas em São Paulo, em um raio de 12km do espaço físico da loja, que fica localizada no bairro de Pinheiros

- WeUse, em São Paulo
A loja oferece apenas um plano, no qual é possível alugar até 16 peças por mês, sendo 4 peças semanais; cada uma pode ficar na posse do cliente por no máximo 14 dias. A WeUse atende apenas na região da grande São Paulo