Topo

Marquezine se achou assexual por não querer transar: o que significa?

Bruna Marquezine relembra fase em que estava sem "energia para transar" - Reprodução/Youtube
Bruna Marquezine relembra fase em que estava sem 'energia para transar' Imagem: Reprodução/Youtube

De Universa, em São Paulo

14/09/2022 10h35

A atriz Bruna Marquezine, 27 anos, afirmou, durante entrevista ao podcast "Quem Pode, Pod" na terça-feira (13), que pensou ser assexual durante uma fase da sua vida. "Era uma época que nem tinha energia pra transar. Quem dirá para suruba. Tive essa fase que eu achava que era meio assexuada".

Não ter o menor interesse por sexo não significa ser puritano ou celibatário, algumas pessoas simplesmente nascem sem o desejo de manter relações sexuais e, em alguns casos, nem amorosas. Para os assexuais, comer um bolo, doce que é símbolo da comunidade assexual, pode ser bem melhor que transar. A psicóloga, terapeuta sexual e colunista de Universa Ana Canosa explica que a assexualidade faz parte de uma vivência em que a sexualidade se expressa a partir do reconhecimento das atrações. "Há quem não se atraia sexualmente por outras pessoas, há outros que só transam quando há conexão afetiva forte, há quem tenha atração emocional, mas não sexual, dentre outras variações", afirma.

"Ace" é o termo curto para assexuais, pessoas que na maior parte de suas vidas não sentem atração sexual por outras, ou só em situações bastante especificas, como no caso dos demissexuais, quando ela ocorre somente quando há vínculo emocional estabelecido ou dos frayssexuais que são o oposto: a atração sexual só acontece enquanto o vínculo não se formar.

Vale destacar que assexual é a forma correto para se referir a quem se identifica com a assexualidade. O termo assexuado ou assexuada é usado para caracterizar seres vivos que se reproduzem sem a troca de gametas, portanto é pejorativo usar este termo para o contexto da sexualidade.

Ainda durante a entrevista, Marquezine afirmou que começou a se questionar se era assexual quando ouviu da amiga Manu Gavassi que "sexo é superestimado". "Aí eu entrei nessa onda de que eu nem curtia muito transar, e daí eu percebi um pouco depois que era exagero, que depende do parceiro, do momento que você está", afirmou.

Ela contou, também, que chegou a ser cobrada por amigas que a questionavam sobre a pausa na vida sexual. "Umas até me cobrando 'pelo amor de Deus, se eu tivesse a sua idade, o seu corpo, eu ia tá dando para meio Rio de Janeiro' e eu falava 'gente, não quero mesmo'", lembrou.

Esta cobrança acontece porque, segundo Ana Canosa, o modelo dominante de sexualidade é focado na relação sexual penetrativa, e a falta de interesse no sexo pode causar um estranhamento nas pessoas que se consideram sexualmente ativas. "A pressão é mais externa, do que interna, como um sentido de inadequação diante de um mundo tão sexualizado. Já que está todo mundo falando tanto de sexo, gozando pelas orelhas, como assim não ter interesse na relação sexual com outra pessoa?", fala Ana.

O que define o assexual

Ser assexual é uma questão de identidade que, longe de ser uma escolha ou fase, está mais próxima de orientações como a hetero ou a homossexualidade.

"É uma forma de viver a sexualidade caracterizada pelo desinteresse sexual, que pode vir acompanhada ou não do desinteresse amoroso", explicou a pedagoga brasileira Elisabete Regina de Oliveira, autora do doutorado "Minha Vida de Ameba", em reportagem para TAB UOL. Durante quatro anos, ela estudou a vida de 40 assexuais, de 15 a 59 anos, e hoje é figura central quando se trata do tema no Brasil.

O norte-americano David Jay, fundador da AVEN (Rede de Visibilidade e Educação Assexual) —grande primeira comunidade assexual online. Fundada em 2001, a AVEN, que no começo era apenas um fórum na internet, hoje é uma entidade que luta pelos direitos dos assexuais nos EUA e possui cerca de 90 mil membros ao redor do mundo. O site tem versões traduzidas em mais 15 países.

Ana Canosa ressalta que a assexualidade não é doença apesar de poder ser confundida com o desejo sexual hipoativo, caracterizado pela queda na libido, o que transforma o quadro em um tipo de disfunção sexual. "A sutileza no entendimento das assexualidades é justamente porque muitas pessoas assexuais chegam ao consultório achando que estão com algum problema, mesmo que não sintam falta de uma libido direcionada a alguém".

Para pensar em qualquer tipo de intervenção, seja a psicoterapia, terapia sexual, fisioterapia pélvica ou tratamento medicamentoso (ou sua associação), segundo Ana é importante levar em consideração o fator sofrimento e o prejuízo que uma condição sexual pode provocar na vida da pessoa ou dos que estão à sua volta.