Feminismo e sangue: o que esperar da 5ª temporada de 'Handmaid´s Tale'
Taí uma série que reverberou muito no Brasil nos últimos tempos: "The Handmaid´s Tale" ("O Conto da Aia"). A história da tela conversou, durante esses cinco anos em que os episódios foram ao ar, com um discurso de submissão e violência contra mulheres que vinha aparecendo com força por aqui. A ponto de algumas se fantasiarem com o clássico vestido vermelho das aias em manifestações e até no Carnaval.
Agora, a saga de June, vivida pela espetacular Elisabeth Moss, está perto de chegar ao fim: o primeiro episódio da 5ª temporada estreia neste domingo (18) ao Paramount+ —também pode ser vista no UOL Play— e Universa já assistiu pra te contar o que está por vir. Essa seria a última, mas, a poucos dias da estreia, o serviço americano de streaming Hulu, criador da série, afirmou que haverá mais uma. De qualquer maneira, estamos perto do fim.
Atenção! O texto contém spoiler.
Menos feminismo e mais sangue
Se no começo a série foi celebrada pela alegoria que fazia da objetificação do corpo feminino, levando à violência de gênero normalizada, o rito final deve se concentrar no desfecho da história de June.
Ou no fim de Gilead, que pra quem não sabe é a nação criada após uma epidemia de infertilidade frear a natalidade dos Estados Unidos, que então capturou as poucas ainda férteis e as transformou em aias. Elas viviam na casa dos casais de Gilead e faziam as vezes da esposa no ato sexual: eram estupradas pelos homens para que engravidassem pela família. Tudo com base em trechos da Bíblia.
June era uma dessas aias e fez acontecer uma revolução após diversas tentativas de fuga. Conseguiu asilo no Canadá e, depois de ter a notícia de que seu algoz, o comandante Waterford, que a estuprava e humilhava, não seria preso pela polícia canadense, armou um plano para matá-lo (olha o spoiler!). E assim acaba a quarta temporada.
No início da quinta, June aparece em grande parte do primeiro episódio com as mãos sujas do sangue dele, como se quisesse se lembrar e se orgulhar do fim dado a toda a desgraça que viveu em Gilead. Lá pelas tantas, decide lavar as mãos, o que não significa que o passado tenha ficado para trás. O que ela viveu foi trauma em cima de trauma, e as imagens do sangue, do assassinato de Waterford e de toda a violência a que foi submetida voltam com frequência a sua mente.
A partir desse primeiro capítulo, portanto, parece que as metáforas sobre machismo e misoginia devem dar mais espaço à história em si. June, que, como fica a dica no final do episódio, também deve virar alvo do governo de Gilead, ainda quer vingança, ao mesmo tempo que precisa lidar com todo o desequilíbrio e histeria causados por tudo que sofreu.
Por outro lado, vemos a loucura que dominava Gilead, baseada na fé cristã e na submissão feminina, chegando à sociedade livre e democrática do Canadá, quando Serena, mulher do capitão Waterford, presa no país por crimes contra a humanidade, é ovacionada por alguns cidadãos após a morte do marido. "Louvado seja", lhe dizem as pessoas com quem cruza na rua.
Rainha Elisabeth... Moss
Mas se há alguma certeza sobre o desfecho de "The Handmaid´s Tale", ela está na atuação brilhante da atriz Elisabeth Moss. O arco dramático alcançando pela personagem, cheia de nuances, que traz a personalidade do início da série misturada à figura de uma mulher completamente perturbada pelo passado, é de arrepiar.
Mesmo as cenas que se resumem a um enquadramento fechado no rosto da atriz são carregadas de incômodo: olhos se mexendo rápido, sobrancelhas sendo franzidas e desfranzidas freneticamente, o movimento das mãos, tudo ali fala sobre quem é June hoje.
O que pode salvá-la? Segundo o primeiro episódio da última temporada, a maternidade. Nichole, a filha que teve em Gilead fruto de um romance com um aliado seu, agora vive com ela no Canadá e é quem a traz de volta à sanidade. Assim como as lembranças de Hannah, sua outra filha, capturada pelo governo autoritário de Gilead e de quem June não tem notícias.
Assistir a "The Handmaid´s Tale" sempre me deu medo, repulsa, nojo. Entendo perfeitamente mulheres que não conseguem ver a série tamanha a violência de gênero retratada, mas foi ao escancarar o ódio e a objetificação às mulheres que se conseguiu levar uma mensagem poderosa pra todo mundo que assistiu: não importa o país, não importam os direitos já conquistados, o risco de que nosso corpo deixe de ser nosso é permanente. Esperando para ver se, pelo menos na ficção, isso vai ter um fim.
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