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Charlotte chora no funeral da rainha: como falar de morte com crianças?

Princesa Charlotte no funeral da Elizabeth II - Leon Neal/Getty Images
Princesa Charlotte no funeral da Elizabeth II Imagem: Leon Neal/Getty Images

De Universa, em São Paulo

19/09/2022 14h52

A princesa Charlotte, filha do príncipe William e princesa de Gales, Kate Middleton, chorou durante o funeral da bisavó, a rainha Elizabeth 2ª, nesta segunda-feira (19), em Londres.

A menina de 7 anos se emocionou no momento em que o caixão da monarca, morta em 8 de setembro, foi colocado dentro do carro para ser transportado para o Castelo de Windsor, na capela da Igreja de Saint George.

Ela e o irmão, o príncipe George, de 9 anos, foram os mais jovens membros da realeza a acompanhar a cerimônia reservada.

Os pais das crianças disseram que "estavam tentando manter algum senso de continuidade para [os filhos] na escola e manter as coisas o mais normal possível", mas a presença de George e Charlotte foi sugerida por "conselheiros seniores do palácio"

Universa conversou com a psicóloga Ana Lucia Naletto, especializada em luto, para reunir dicas sobre como falar com as crianças sobre morte e luto.

A especialista afirma que cada criança tem uma fase e entendimento do que está acontecendo. Mas é importante falar sobre o tema com todas as faixas etárias.

"Para qualquer idade, orientamos a dizer a verdade porque a criança sente um clima ruim e que algo estranho está acontecendo na família. Ela precisa entender naquele momento que não tem nada a ver com ela, o que é a morte e que ela não tem culpa, que as pessoas não estão chateadas com ela, até para aliviar a culpa", diz.

"O príncipe Harry, em um documentário, diz que só agora com quase 40 anos está revendo a experiencia de luto da mãe", diz. "O luto fica interrompido. É bom falar mesmo que seja algo que só vai ganhar mais sentido lá mais para frente, para que eles possam processar um pouco o que foi a morte daquela pessoa. Os bisnetos, vendo a cena, talvez não compreendam a dimensão daquilo, mas depois vão ressignificar isso."

Converse o mais cedo possível

Ana Lucia recomenda falar com as crianças o mais breve possível. É possível — e bastante positivo — criar um ambiente seguro para a criança, mas é importante contar logo o que está acontecendo.

"Ela precisa de alguém que tenha segurança para dar a notícia. Às vezes, se essa morte abalou muito os pais e são eles quem vão conversar com a criança, eles podem estar muito desorganizados e querem esperar chegar em casa, criar um ambiente propício. Já vi situações em que o hospital chamou os pais na madrugada para notificar a morte da avó de uma criança, que foi para escola normalmente na manhã seguinte e, quando ela voltou, os pais estavam mais preparados."

Mas no caso de mortes públicas, como da rainha Elizabeth 2ª ou mortes que vão ganhar mídia, como um crime ou acidente, isso não é recomendado. "Muitas vezes a família tenta poupar até o momento de dar notícia, mas nesse caso a orientação é falar o mais breve possível porque elas vão receber a informação de alguma forma."

Fale de maneira direta e sem eufemismos

A forma de contar é a mais simples possível, diz a psicóloga. "Ela precisa da palavra concreta 'morreu'. Não se pode tratar com eufemismos como 'virou estrelinha', 'foi morar com papai do céu' ou 'foi dormir' porque e a criança vai compreender isso de forma real e se questionar, por exemplo, 'por que o meu pai foi morar com papai do céu e não quis mais morar com a gente?'. Morrer é a melhor palavra para as crianças", diz.

Depois de contar, você pode perguntar para a criança se ela sabe o significado disso. "Às vezes ela fala coisas como 'quando o coração para' ou 'quando fecha o olho e nunca mais abre'. Os adultos podem se valer do que ela pensa e complementar a explicação dizendo como 'o coração para de bater e ela não consegue mais estar viva, ela parece que está como dormindo, mas não acorda mais'."

Rituais fúnebres: explique o que está acontecendo

Depois da notícia, é preciso contar para a criança quais são os próximos passos — seja em casos de rituais fúnebres e longos, como o da monarca, ou de velórios mais simples e rápidos.

"Você pode explicar coisas como 'o corpo dela vai colocado numa caixa que se chama caixão e é como se ela vai estar deitada e é como se ela estivesse dormindo, mas ela não vai acordar, e as pessoas vão se despedir dela'", diz.

É importante ouvir se a criança deseja participar do momento — mas a especialista recomenda incentivar a participação das crianças nestes momentos.

"Quando eles são mais velhos perguntamos se eles querem ir, mas se eles dizem não é importante encorajar, perguntar qual é o medo, que é uma forma de se despedir. A decisão é respeitada, porque é um mecanismo de defesa contra alguma angústia que ele acha que vai sentir ali."

Respeite os limites da criança

Em casos de funerais demorados e rituais longos, é importante respeitar as respostas da criança. "A sugestão é que elas participem dentro do que elas aguentam participar, nada muito pesado ou longo, respeitando sua idade", diz Ana Lucia.

O apoio nesse momento também é fundamental. "É importante ter alguém aberto do lado deles e que possam sanar dúvidas que vão surgir como 'por que todos estão vestindo roupa preta'. A curiosidade natural da criança não é preconceituosa, ela vai perguntar porque está todo mundo chorando, por exemplo, e é legal tratar com naturalidade o assunto."