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No Brasil, Viola Davis fala de preconceito: 'Mulher negra no fim da lista'

Viola Davis  - Stephane Cardinale - Corbis/Getty Images
Viola Davis Imagem: Stephane Cardinale - Corbis/Getty Images

De Universa, em São Paulo

20/09/2022 04h00

"Eu tenho valor. (...) Não me importa se não sou loira, se não uso 36. Eu ainda assim tenho valor". Essa é apenas uma das frases impactantes ditas pela atriz Viola Davis durante a coletiva de "A Mulher Rei" que aconteceu ontem (19) no Rio de Janeiro. O longa conta a história de um exército de mulheres guerreiras, as agojies, que fez com que Viola destacasse o quanto é difícil a vida das mulheres negras dentro e fora da ficção.

Com mais de 20 anos de carreira, Viola já ganhou Oscar, Emmy e Tony, tornando uma dos 24 artistas do mundo a conseguir a coroação tripla. Entretanto, ela diz que já ouviu que ela não era ideal para o papel de protagonista, talvez para uma melhor amiga. Ela chegou a escutar um questionamento do tipo: 'você sabe que não é bonita, né?', sem que houvesse qualquer tipo de contexto ou punição.

Viola Davis na coletiva de A Mulher Rei  - Foto: Agnews/Marcelo Sa Barretto - Foto: Agnews/Marcelo Sa Barretto
Viola Davis na coletiva de A Mulher Rei: atriz veio ao Brasil para divulgar novo longa-metragem
Imagem: Foto: Agnews/Marcelo Sa Barretto

"O racismo está impregnado na gente, infelizmente. E as mulheres pretas estão no fim da lista. Quando a sua pele é escura, você sempre está no fim da lista. E o racismo é o último preconceito aceitável no mundo", diz a atriz.

Ela destaca, por exemplo, que quando vê uma mulher preta atuando sempre quer saber mais sobre ela, mas não dá tempo. Antes de terminar o questionamento ela não está mais nas imagens e se torna quase impossível de localizá-la.

"Somos advogadas e médicas sem nome, personagens com frases engraçadas, muito fortes ou mães que estão chorando sob o corpo de um filho que morreu em um tiroteio. É assim que nos classificam (...). Para mim, já chega. quero ver mulheres negras humanizadas como as outras pessoas. Esse é o primeiro passo para a inclusão, diversidade e erradicação do racismo. É entender que somos da raça humana, e não uma metáfora", diz.

O longa, para Viola, se tornou algo importante porque ela conseguiu se ver na personagem - e espera que a produção possa inspirar as meninas mais jovens. "É muito importante para as mulheres pretas que elas sejam protagonistas de filmes de sucesso, sem que precisem de um homem ou um personagem branco para isso", conta.

Viola Davis interpreta a general Nanisca em "A Mulher Rei" - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
Viola Davis interpreta a general Nanisca em "A Mulher Rei"
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

Viola também foi questionada sobre o nome do filme. Em vez de rainha, sua personagem, a Nanisca, é intitulada como rei. "Acho que as pessoas estão apegadas demais à palavra. No filme, minha personagem diz muito 'sou general e eu mereci'. Eu acredito que o 'rei' sugere que há algo nessa história que a tornou merecedora de ser uma mulher no topo, liderando. Não a parceira, não a segunda no comando", diz. Para ela, isso é importante porque as mulheres pretas estão sempre em segundo lugar.

"Ver alguém como eu, em um poster, com a palavra 'rei' sugere algo muito poderoso'', completa Viola.