'Fiz bariátrica e tive depressão. Hoje, realizo meu sonho de ser modelo'
A modelo e criadora de conteúdo goiana Tuane Dias, 32, foi escolhida Miss Brasil Plus Size na noite de sexta-feira (16). Nos holofotes e de bem com sua aparência, Tuane conta que sua infância e adolescência, porém, foram marcadas por bullying e briga com a balança.
Ela já chegou a fazer dietas restritivas para emagrecer buscando um manequim mais próximo do padrão estético vigente e fez também uma cirurgia bariátrica. Ao ganhar novamente os 35kg que perdeu após o procedimento, passou a sentir vergonha de si e acabou entrando em depressão —hoje superada.
Gostar de si não aconteceu do dia para noite, mas foi e continua sendo um processo. "Olhar para mim com carinho, me sentir bem e não achar que meu peso me faz pior do que as outras pessoas é algo que cultivo diariamente", diz. Ela contou sua história a Universa. Leia abaixo.
"Queria ser modelo, mas não se cogitava uma mulher gorda em casting"
"Desde criança, gostava de tirar fotos, dançar, cantar, sempre tive um lado artístico bastante aflorado. Fiz dança de salão, dança do ventre e aulas de axé durante anos e uma coisa que sempre me doía era nunca ser chamada para se apresentar num evento. Como eu dançava muito bem, entendi que era por causa do meu peso.
Isso me marcou, fora todo o bullying que uma criança gorda sofre. Entre a adolescência e o início da vida adulta, comecei a ir também em agências de modelos em Goiânia para tentar fazer um book de fotos.
Naquela época, ainda não havia o conceito de moda plus size, e ter uma modelo gorda no casting nem era cogitado. Muitas vezes, até pegavam o meu dinheiro para fazer o book, mas depois sumiam, iam me enrolando, ficava sem o material e nem era chamada para trabalhos. Fui percebendo desse modo que o mundo costuma se fechar para pessoas fora do padrão.
"Fiz cirurgia bariátrica, mas engordei tudo novamente"
No afã de emagrecer e chegar mais perto de um corpo magro, fiz muitas dietas restritivas e, em 2016, quando estava com 105kg, decidi passar por uma cirurgia bariátrica. Com a realização do procedimento e seguindo rigorosamente depois todo o protocolo de alimentação e exercícios, consegui eliminar 35kg.
Mas, ao contrário do que muita gente pensa, passar por isso não é fácil. É muito cansativo, mina suas energias e acabei, por causa desse esgotamento, relaxando com os protocolos. Resultado? Engordei tudo novamente. À medida que fui ganhando peso, passei a me olhar no espelho e me sentir muito envergonhada. Com sentimentos de culpa, frustração e tristeza, desenvolvi uma depressão nesse período.
Depois de um tempo, porém, passei a refletir que mesmo não estando em minha melhor versão, precisava me amar. Foi aí que começou o meu processo de autoaceitação.
Não é uma questão de culto à obesidade nem de negligenciar a saúde, mas de entender que cuidar de si também tem a ver com se valorizar e se respeitar.
Desde então, tenho feito um exercício diário de autoestima, de não ter vergonha do meu corpo, de não ficar preocupada com o que as outras pessoas acham, com o julgamento do outro.
Assim, com esse exercício e aproveitando a abertura do mercado para a moda plus size, em 2017, finalmente me tornei modelo, comecei a desfilar para marcas locais, shoppings e fazer trabalhos com empresas de cosméticos em Goiânia. Esse início também, porém, não foi fácil. Mesmo marcas voltadas para pessoas gordas não queriam modelos com barriga saliente. Lembro que uma marca vendia roupas com numeração até o 60 mas, na hora do desfile, dava preferência a modelos com no máximo manequim 48.
"Como miss, quero inspirar outras mulheres"
Trabalhando como modelo plus size, nunca tinha pensado em ser miss. Até porque, depois de sofrer bullying, ouvir coisas como 'você é tão bonita, por que não emagrece?' e, muitas vezes, perceber as pessoas olhando primeiro para minha barriga do que para o meu rosto, acredito que beleza é algo único: não deve ser comparado.
Mas quando surgiu a oportunidade do concurso para Miss Plus Size Goiás, decidi participar, pensando na exposição, em ser divulgada e ganhar visibilidade. Quando ganhei e recebi a faixa, chorei de emoção.
Na etapa nacional, fui para representar o meu estado e nem imaginava ganhar. Estava ali simplesmente curtindo o momento e foi uma surpresa quando anunciaram meu nome.
O preconceito dói na alma e, hoje, sei que é preciso sabedoria para lidar. Por isso, ganhar esse título representa um grito de liberdade, uma mensagem de esperança e inspiração para outras mulheres, de que é possível ser bonita e se amar. Ser miss tem a ver com muita coisa além de beleza, é sinônimo de força, de garra, de encarar os desafios que encontra pela frente. Essa é a mensagem que quero espalhar por aí."
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