De marido a namorado: como é a vida de casais que decidiram morar separados

A atriz Totia Meirelles queria seguir morando no Rio enquanto o marido, o médico Jaime Rabacov, preferia morar no sítio do casal, no interior do Rio de Janeiro. Já a terapeuta ocupacional Lígia Carvalho decidiu, depois de 26 anos e dois filhos criados, que queria um pouco de independência mas teve que convencer o marido, Fábio, que morar em casas separadas seria melhor para a relação.

No caso de Mariana e Arthur, a convivência intensa do período de isolamento da pandemia serviu para mostrar que o relacionamento deles era mais saudável se os dois não morassem na mesma casa. Só que foi preciso muita terapia —individual e de casal— para entender qual o modelo ideal para o casal. "A decisão nos fez amadurecer individualmente e como casal também", conta, em entrevista para Universa.

Seja por condição financeira, incompatibilidade de hábitos ou até mesmo objetivos de vida diferentes, alguns casais resolveram deixar de dividir as escovas de dentes e seguem o relacionamento em casas separadas. A diferença de retornar a condição de namorados é que eles continuam se considerando como marido e mulher. Quem toma essa decisão considera que esse é apenas mais um modelo de casamento com mais respeito a individualidade. Veja histórias de casais que optaram por esse modelo de relacionamento a seguir:

"Conquistamos a liberdade, não há desamor"

"Eu e Jaime casamos e moramos aproximadamente por um ano e meio no mesmo apartamento. A gente alugava uma casa em Miguel Pereira, na região serrana do Rio de Janeiro. Como gostávamos do lugar, acabamos comprando um terreno para construir um sítio e passar os finais de semana.

Depois de um tempo, o Jaime falou que iria morar lá. Nós sofremos um assalto no Rio e ele ficou muito estressado. Além disso, ele tinha o sonho de morar em uma região assim. Queria completar 40 anos de idade vivendo no interior. Respondi 'ok, acho lindo, mas eu não vou'. Não tinha a ver com meu estilo de vida, meu trabalho é no Rio.

O Jaime é médico, fechou o consultório no Rio, pediu transferência para um posto de saúde de Miguel Pereira e foi. Assim estamos morando não só em casas separadas, mas também em cidades diferentes, por quase 30 anos.

Começamos a nos adaptar, quando eu não estava trabalhando, ficava com ele no sítio. Se eu não tinha a possibilidade de ir, ele vinha e ficava comigo aqui. Se o trabalho dos dois apertava, os encontros eram só nos finais de semana. Na pandemia, como tinha que ficar isolada, fui para o sítio e ficamos juntos o tempo todo.

Tudo tem seu lado bom e ruim. O ruim é que às vezes a gente se sente muito solitária, quer chegar em casa e encostar o pezinho, conversar sobre o que aconteceu no dia mas, por outro lado, você também tem sua independência.

No casamento, acabamos abrindo mão de muitas coisas no cotidiano por causa da outra pessoa. No nosso caso, não há "desamor", conquistamos a liberdade em cima de muita confiança." Totia Meireles, atriz, 63 anos é casada com Jaime Rabacov, médico, 67 anos, são casados há 32 anos e moram separados há 30

"Depois de 26 anos queria ter o meu espaço"

"Nós casamos e dividimos a mesma casa por vinte e seis anos. Tivemos dois filhos. Chegou um momento que tomei a decisão de morarmos em espaços diferentes.

Primeiro, o Fábio não aceitou e não entendia o motivo. Ficamos seis meses separados mesmo, rompemos como um casal. Foi bem complicado, mas aos poucos ele viu que seria uma nova forma de nos relacionarmos e assim nos reaproximamos, voltamos a sair, ir ao cinema, namorar de novo. Deu certo e já estamos desse jeito há 18 anos.

Eu vejo mais vantagens do que desvantagens nesse formato de casamento. A gente vive a melhor parte do convívio de duas pessoas.

Somos totalmente independentes financeiramente um do outro, mas ficamos juntos sempre que é preciso. Eu operei o quadril e fiquei na casa dele, ele cuidou de mim. Quando nossos filhos necessitam estamos presentes, ajudamos um ao outro, somos unidos.

Não combinávamos em algumas questões e agora tudo fica mais simples, cuidamos de nosso espaço, cada um pode decorar como quer, organizar como deseja. Queria ter meu espaço e me sinto muito bem." Lígia Maria de Godoy Carvalho, 63 anos terapeuta ocupacional é casada com Fabio Bruno de Carvalho, 70 anos, aposentado, são casados há 26 e moram separados há 18

"Depois de muita terapia"

"Nós decidimos morar juntos após três meses de namoro, mas a decisão não foi uma daquelas românticas do "momento certo de juntar as escovas" e sim guiada pela prática para facilitar a logística das nossas vidas. Arthur, na época, estava recebendo familiares em casa e quase sem espaço para trabalhar. Acabava passando muito mais tempo no meu apartamento. Depois de alguns meses praticamente nessa rotina, resolvemos dividir as contas e ele trouxe o que faltava para se instalar de vez.

Foi dois anos e meio morando juntos, sendo um ano e meio durante a pandemia. Vários meses trancados em casa 24 horas por dia, sem ver ninguém além do um do outro. Perdemos emprego, familiares, passamos por vários momentos barra pesada. No meio de 2021, quando as coisas estavam começando a voltar ao normal, nós estávamos buscando coisas diferentes.

Arthur queria economizar, eu queria um apartamento maior, ambos sentiam a necessidade de ter mais espaço para as suas vidas pessoais e profissionais. Nenhum dos dois tinha vivido a experiência de morar completamente sozinho. Ser o único responsável pelas contas, pela faxina, pela comida e pelos perrengues.

A decisão não foi fácil. Depois de muita terapia (cada um com sua terapeuta e também juntos em terapia de casal), diálogo e 'será que é uma boa ideia mesmo?' nós optamos por morar em casas separadas. Hoje já estamos há mais de um ano vivendo nesse novo formato.

Nos primeiros meses já foi possível perceber mais produtividade no trabalho e uma relação amorosa muito mais saudável. Estávamos vivendo coisas novas como convidar o outro para jantar, para dormir na sua casa, sentir saudades. A decisão nos fez amadurecer individualmente e como casal também.

Nossa rotina consiste em muitas ligações ao longo do dia. [Risos] Para falar sobre trabalho ou só para fofocar durante o almoço mesmo. Nós trabalhamos juntos em vários projetos e também valorizamos muito a opinião do outro em nossos projetos solo, por isso quando não estamos reunindo online, estamos marcando um almoço, um café ou um jantar." Mariana Krüger, 33 anos, influenciadora digital é casada com Arthur Xavier, 31 anos, produtor musical há 3 anos. Eles moram em casas separadas há 1 ano