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Não é só pra grávida e melhora vida sexual: conheça a fisioterapia pélvica

nensuria/Getty Images/iStockphoto
Imagem: nensuria/Getty Images/iStockphoto

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa

21/09/2022 04h00

Entre as grávidas, fisioterapia pélvica não é um assunto totalmente desconhecido. Afinal, a série de exercícios que prepara a gestante para as mudanças corporais típicas do período, assim como o parto, é cada vez mais indicada.

A recomendação, entretanto, não é exclusiva para as futuras mães: qualquer mulher pode - e até deve - fazê-la. Existem indicações médicas por trás da fisioterapia pélvica, comuns em casos de disfunção da musculatura, como: incontinências urinárias e fecais, dores na hora de sexo ou provenientes do estreitamento do canal vaginal na menopausa e até cólicas, incluindo as provocadas por endometriose.

O assoalho pélvico - ou piso pélvico - é formado por um grupo de músculos que "fecha" o tronco na região inferior, partindo do osso do cóccix (na parte de trás do esqueleto) até o púbico (localizado na frente da bacia). Segundo Bruna Chamma, especialista da clínica Alira, esse tipo de fisioterapia previne e trata disfunções da região pélvica, "tanto estruturas que estão na região abdominal, quanto da região lombar, glútea, músculos da coxa e assoalho".

"O assoalho pélvico é uma das vias de parto, mas também tem funções sexuais. Ainda precisamos dele para urinar e evacuar", explica a fisioterapeuta Malu Freitas, especialista em Saúde da Mulher, da clínica Soie Pilates e Fisioterapia.

Nas sessões, além de promover autoconhecimento, fisioterapeutas costumam trabalhar três frentes principais, de acordo com a necessidade de cada paciente: relaxamento, fortalecimento e a percepção dessa musculatura.

De acordo com Malu, fazer fisioterapia pélvica sem um problema prévio também pode ser visto como tratamento preventivo e fonte de autoconhecimento, principalmente para saber se o assoalho pélvico é usado da forma correta.

Envolvendo todo o corpo

Como em qualquer fisioterapia, a especialidade voltada para o assoalho pélvico envolve uma série de exercícios focados na região, mas que se estendem ao corpo inteiro - incluindo postura, respiração e até a sola do pé, por exemplo.

Contudo, a definição de quais farão parte da rotina de determinada paciente depende, exclusivamente, de suas queixas. "Existem mulheres que estão com assoalho pélvico sobrecarregado e precisam relaxar, então, terão exercícios relacionados ao relaxamento. Já outras apresentam flacidez e precisam de fortalecimento", esclarece Malu.

Com relação ao tempo necessário de fisioterapia, não existe uma receita de bolo pronta. As indicações são profissionais e podem variar de meses até anos, dependendo totalmente do quadro de cada mulher.

"Entendemos fisioterapia como reabilitação. Então, quem não tem um assoalho pélvico habilitado, deve fazer até tê-lo e, depois, esses exercícios devem ser continuados em casa", diz a uroginecologista Lilian Fiorelli, especialista pela Universidade de São Paulo (USP).

Fisioterapia na gestação

Sendo uma das indicações mais recorrentes, a gravidez costuma ser o momento de contato da maioria das mulheres com a técnica. De acordo com a ginecologista Lilian, a indicação é absoluta para todas as grávidas, independentemente do tipo de parto a ser realizado.

"Durante a gestação, temos um aumento de peso na barriga. Então, todos os nossos órgãos pélvicos são forçados para baixo. Precisamos de uma contraposição, um suporte - é para isso que temos a musculatura do assoalho pélvico e é aí que a fisioterapia entra, principalmente para fortalecê-lo e sustentar esses órgãos", explica Lilian.

Ainda assim, a ginecologista expõe pontos importantes: mesmo fazendo a fisioterapia, não há uma garantia de que nenhuma disfunção ocorrerá durante ou depois da gestação - da mesma forma que não fazer os exercícios não significa que tudo vai dar errado.

"Se não houver outras tendências, pode não ocorrer nenhuma consequência. Mas pode ser que, ao não fazer a fisioterapia pélvica durante a gestação, associado a fatores de risco - como ganho de peso e genética -, ocorra incontinência urinária e até prolapsos de órgão genital", considera a uroginecologista.

Quando começar

Para as três especialistas, não é preciso esperar um problema ser diagnosticado para iniciar o tratamento preventivo. Detalhe: é esperado que todas as mulheres apresentem algum tipo de disfunção pélvica durante a vida, decorrente de hábitos cotidianos errados, como segurar o xixi, passar muito tempo sentada e até evacuar com a postura errada, situações que podem prejudicar a região e, assim, desgastá-la no processo de envelhecimento

Por isso, Lilian lembra a importância de não limitar a prática à gravidez ou à incontinência urinária, por exemplo. "A fisioterapia pélvica é também preventiva, melhora desempenho, protege. É saúde! Então, pode começar desde a primeira menstruação e manter isso até o fim da vida", indica.

Ainda que raramente, a prática pode ser contraindicada para algumas pacientes, mas tudo depende de uma avaliação individual. Entre as situações capazes de proibir ou postergar o início dos exercícios está o pós-operatório.

Por ser um momento de recuperação, tal condição pede mais cautela. Mesmo assim, não é uma sentença absoluta, cabendo ao médico responsável fazer essa avaliação.