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'Meu filho adolescente está frio e distante': dicas para melhorar relação

fizkes/Getty Images/iStockphoto
Imagem: fizkes/Getty Images/iStockphoto

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, em São Paulo

25/09/2022 04h00

Com a chegada da adolescência é normal que a relação de filhos e pais mudem. Afinal, as crianças crescem e param de ser tão dependentes dos pais e faz parte do desenvolvimento humano conectar-se aos colegas e amigos por causa das afinidades e da compreensão mútua. "Os pais vão se tornando 'desnecessários' e o objetivo para a fase adulta é que o indivíduo se emancipe e parta para a construção de sua vida. Essa mudança é psicológica e hormonal", afirma a psicóloga Júlia Bárány.

Mas se a distância e a frieza se tornam incômodas, é bom investigar. Segundo a profissional, para a relação entre pais e filhos continuar saudável e firme durante o crescimento, deve ser cultivada desde o nascimento das crianças. Porém, essa conexão igualmente precisa de parâmetros, por meio de uma autoridade amorosa. "Pais permissivos não são respeitados; pais ausentes, também não", fala.

É distanciamento ou não é?

Para descobrir e estabelecer as melhores formas de lidar com a situação de o filho estar distante e, de certa forma, "frio", é importante descobrir o que está acontecendo de fato. Nesse sentido, o psicólogo Ronaldo Rangel Cruz, coordenador do curso de psicologia da Estácio Curitiba, chama atenção para um ponto importante: o adolescente está distante apenas da família ou se isolando de tudo?

"Neste segundo caso, é necessária maior atenção, porque pode ser alguma questão mais delicada. Já o simples fato de mal cumprimentar ou trocar poucas palavras - e ainda, por vezes, de forma ríspida ou desinteressada - por mais que incomode a família, é usual nesta fase", assegura o psicólogo.

Ou seja, ainda que não atenue o incômodo dos parentes, o comportamento pode não indicar nada sério. "Esta postura pode ter várias origens, podendo ser destacado o fato de que, nesta fase, adolescente passam a identificar-se muito mais com os seus amigos, bem como possíveis referências do mundo artístico", esclarece Ronaldo.

Como lidar

Apesar de serem características comuns à adolescência, como apontado pelo docente Ronaldo, adotar algumas estratégias no dia a dia costuma ser bastante eficaz para lidar com o novo jeito dos filhos, melhorando a convivência familiar. Por isso,

  • Respeite a fase, mas sem aceitar atos desrespeitosos ou agressivos. Afinal, o respeito é uma via de mão dupla, assim como o espaço concedido. Isso é importante para o adolescente perceber que existem limites;
  • Mostre abertura e disponibilidade aos diálogos e questionamentos dos jovens, buscando sempre ligação entre os pontos de vista;
  • Converse sobre os mais variados assuntos, mostrando que todos os temas trazidos pelo filho são importantes e relevantes à família;
  • Oriente e dê exemplos, sobretudo a partir dos seis ou sete anos. Vale ensinar sobre valores familiares e sociais já que, nessa fase, as crianças começam a se relacionar com o mundo.

Proteção X controle

"Muitos pais, na tentativa de proteger os filhos, acabam controlando-os e isso gera um desconforto, já que eles podem se sentir pressionados e vigiados, gerando conflito e distanciamento na relação. É como se se afastassem para provar independência e evitar as brigas cotidianas e o sofrimento emocional", salienta a psicóloga Lucy Carvalhar, especialista em terapia cognitiva comportamental.

Alguns fatores ligados ao controle podem acabar abalando a relação entre pais e filhos e levando ao distanciamento e à frieza. No entanto, nem sempre é fácil identificar esses comportamentos controladores, porque, na maioria das vezes, são colocados sob uma perspectiva de proteção paterna.

"Os pais podem ter uma aproximação dos filhos questionando porque o distanciamento aconteceu e isso acontece, muitas vezes, porque os pais não respeitam as escolhas dos adolescente, não confiando nelas. Há uma falta de diálogo com a imposição dos pontos de vista, que leva a um autoritarismo", considera a psicóloga.

Por se tratar de um cenário recorrente, é bastante relevante falar sobre isso e entender, principalmente, em quais pontos os adultos podem estar agindo de forma autoritária. A especialista destaca as seguintes situações que devem ser observadas e evitadas:

  • Controle financeiro: alguns pais escolhem controlar o filho financeiramente, provocando maior dependência e deixando-o praticamente sem autonomia;
  • Falta de confidencialidade: em uma posição autoritária, os responsáveis contam tudo aquilo que os filhos confidenciam para outras pessoas, gerando desconforto no jovem;
  • Contrariedade nos relacionamentos: seja por preconceito ou simplesmente por não gostar da pessoa que o filho escolheu afetivamente, os pais tendem a impor sua opinião sobre a relação, provocando um distanciamento, já que o adolescente se sente tolhido de escolher;
  • Críticas destrutivas: mais uma vez, em posição autoritária, os adultos criticam os filhos pelas mais diversas razões, abalando sua autoestima. "Assim, a confiança, um ponto importante para o relacionamento familiar e a desenvoltura da autonomia do jovem, acaba precisando ser revista", afirma Lucy.

Com tantas possibilidades por trás de tal comportamento, a especialista argumenta ser necessário olhar para a situação, sendo necessário, muitas vezes, recorrer à psicoterapia - para ambas as partes.

"Aconselho que os pais sempre busquem apoio e revejam tudo o que ocorreu na relação, pois muitas crianças sentem-se reprimidas e, quando crescem, querem fazer tudo 'ao contrário', num ato de rebeldia. É como se falassem 'agora eu vou fazer tudo diferente'", finaliza a psicóloga.