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'Cheiro bom'? Usar supositório de ácido bórico na vagina pode fazer mal

O ácido bórico é um remédio usado para tratar vaginoses e candidíase de repetição - iStock
O ácido bórico é um remédio usado para tratar vaginoses e candidíase de repetição Imagem: iStock

Karina Hollo

Colaboração para Universa, em São Paulo

25/09/2022 04h00

Rede social campeã em tendências controversas, o TikTok acaba de lançar mais uma: supositório de ácido bórico na vagina, para deixar um "cheiro bom". O perigo dessa moda é que ela pode fazer mal para a saúde íntima.

"O ácido bórico pode ser encontrado em alguns produtos como a água boricada, por exemplo, que é uma substância adstringente e antisséptica. Usá-lo para higiene ou após relação sexual deixa o pH vaginal instável e desregula a flora da região, podendo causar outras complicações, como vaginoses de repetição", alerta Fabiane Gama, ginecologista da Clínica Leger, no Rio de Janeiro.

Segundo especialistas, não é seguro usar o método por contra própria para combater problemas ginecológicos como a candidíase de repetição, podendo piorar o quadro. "Sem falar que o ácido bórico pode provocar sensação de queimação e corrimento exagerado", complementa Fabiane.

Outros efeitos colaterais são irritação, vermelhidão e ardência. "Quando usado em excesso, ele pode alterar o pH da vagina, que idealmente deve ficar entre 3,5 e 4,5. Quando o pH é alterado ocorre uma proliferação de bactérias patológicas que causam corrimento, irritação e até um odor diferente na vagina", fala Marianna Assumpção, ginecologista e obstetra de São Paulo.

Para que serve o ácido bórico?

O ácido bórico é um remédio usado para tratar vaginoses e candidíase de repetição. Acontece que, por ter ação antisséptica e antifúngica, mata todas as bactérias —inclusive as boas.

"O ácido bórico geralmente é utilizado na forma de óvulos vaginais, diretamente na vagina", fala a ginecologista especializada em saúde da mulher Viviane Monteiro, do Rio de Janeiro.

Ele não só é utilizado na prevenção, mas também de forma terapêutica, atuando tanto nas infecções bacterianas, principalmente na vaginose, quanto nas infecções fúngicas, como a candidíase. "A vaginose apresenta um tipo de corrimento característico, bolhoso, com odor fétido. Em contrapartida, quando se tem uma acidificação maior da vagina, há uma chance maior de candidíase, que leva a um outro tipo de corrimento, o de aspecto branco, em nata, com irritabilidade, vermelhidão e coceira", explica.

A cândida é um fungo que pode estar presente na flora vaginal e, em determinadas circunstâncias, pode se proliferar e levar a sintomas como corrimento branco, coceira, irritação, ardência e por vezes até dor para urinar e ao ter relação sexual.

"Quando a infecção por cândida ocorre mais de duas vezes no semestre, falamos em candidíase de repetição. E é nesse cenário que o ácido bórico entra para auxiliar na prevenção de novas crises. Porém, o uso prolongado não deve ultrapassar três vezes na semana, e sempre sob orientação médica", complementa Marianna.

No dia a dia, a vulva deve ser higienizada de forma adequada, mas não exageradamente. Já a região intravaginal, em hipótese alguma, deve ser lavada ou higienizada, uma vez que a mucosa e a secreção vaginal funcionam como uma barreira protetora. "O próprio pH da vagina é ácido justamente para a proteção do canal vaginal, para impedir que bactérias e fungos ali presentes se proliferem", explica Fabiane.

O que fazer se o cheiro da vagina incomodar?

"Primeiro, é importante descobrir a causa do odor. Se é uma infecção bacteriana da vagina, se é o excesso de suor na região associado a bactérias da pele com maior propensão a causar cheiro. Uma vez definida a causa, o tratamento pode ser direcionado", fala Marianna.

Higiene local, trocas mais frequentes de calcinha, uso de talco ou até toxina botulínica para controlar o suor e o uso de probióticos para controle da flora podem ser soluções mais adequadas. "Em outras situações, o uso de antimicrobianos pode ser necessário." De qualquer forma, é sempre importante ter a avaliação de um ginecologista.

O odor natural da vagina não é forte, e a secreção é normal, desde que sem cheiro. "Pacientes com secreção muito grumosa, muito espessa e com sintomas de prurido, por exemplo, precisam procurar orientação médica. Pode ser vaginite fúngica. Secreção amarela, esverdeada, com cheiro forte, está associada a bactérias ou a ISTs como tricomoníase", fala Fabiane.

De modo geral, todas estas condições são tratadas no consultório.