Topo

'Levava leite congelado': mães contam como amamentaram na volta ao trabalho

A médica Roberta Geri ia até a escola do filho, Claudinho, nos horários vagos para amamentá-lo, e também congelava o alimento - Arquivo pessoal
A médica Roberta Geri ia até a escola do filho, Claudinho, nos horários vagos para amamentá-lo, e também congelava o alimento Imagem: Arquivo pessoal

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, em São Paulo

27/09/2022 04h00

O retorno ao trabalho após a licença maternidade costuma ser um momento desafiador para mães. Além da separação da criança, é preciso lidar com questões práticas, por exemplo, como seguir dando leite materno para o bebê mesmo longe fisicamente da criança em muitos horários, tendo em vista que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que um bebê seja amamentado até os dois anos de idade, sendo que os primeiros seis meses de vida devem ter o leite da mãe como única fonte de nutrição. A indicação é validada e amplamente divulgada pelos benefícios que a prática proporciona ao recém-nascido. Entretanto, a rotina de muitas mulheres costuma ir contra essa orientação já que, pela legislação brasileira, apenas 120 dias de licença-maternidade são oferecidos às funcionárias. Sem contar que são poucas as empresas que aderem à dispensa de 180 dias, período necessário para o aleitamento exclusivo.

É bem verdade que o home office, adotado parcial ou totalmente após a pandemia do coronavírus, tem ajudado nesse quesito, mas há quem não consiga seguir o fluxo e precise se adaptar. Com isso, quem quer continuar amamentando na volta ao trabalho costuma adotar algumas estratégias. Assim, resta para as mães driblarem essa dificuldade com táticas como tirar leite com bombinha, levar para a escolha ou trabalho frasqueira com leite congelado e contar muito com a rede de apoio: seja da família, da escola ou de profissionais contratados. A seguir, cinco mães compartilham a experiência que vivenciaram ou, ainda, vivem com seus filhotes.

'Levava o leite congelado todos os dias'

"O retorno ao trabalho é sempre muito difícil para uma mãe e a escola foi a minha principal rede de apoio. Na verdade, foi a verdadeira rede de apoio, a melhor possível, que sempre me ajudou em tudo. Sou médica e precisei voltar ao trabalho quando meu filho, o Claudinho, tinha só 1 ano. Ele ainda mamava e um dos meus maiores receios era ter que parar o aleitamento por conta da volta ao trabalho.

Pesquisei diversas escolas e encontrei uma que, além de ter um espaço todo voltado para o acolhimento materno, apoiava a amamentação. Eu usava esse espaço nos meus horários vagos. Ia até lá e amamentava na escola mesmo. Além disso, levava o leite congelado todos os dias. Quando não conseguia ir, as professoras ofereciam o leite da melhor forma possível. Continuamos nossa linda história até hoje. O Claudinho tem 3 anos e 11 meses e tenho certeza de que, se eu não tivesse esse apoio, talvez a história teria sido diferente." Roberta Perrella Geri, 40 anos, médica, segue amamentando o filho até hoje, de São Paulo (SP)

'Criei rede de apoio com babá e enfermeira'

nat - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Natalia Martins, fundadora e CEO do Natalia Beauty Group, com as filhas
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu vivo uma maternidade livre de culpas ou julgamentos. Me considero uma excelente mãe, porque sou uma mulher, acima de tudo, realizada e feliz. Mesmo antes de a Bela nascer, eu criei uma rede de apoio com babá e enfermeira para que tanto ela quanto a Julia, minha outra filha, de 8 anos, recebessem todo o suporte, amor e carinho quando estou longe.

Voltei ao trabalho quando a Bela tinha apenas 7 dias de vida. Tirava leite todos os dias para ter um grande estoque. Extraía com a maquininha e estocava tudo, inclusive quando precisava viajar. Quando chegava em casa, oferecia o peito para ter a conexão com a Bela, o que sempre foi muito importante. Ela consumiu leite materno até os 4 meses. Depois, comecei a complementar.

Hoje, ela está com 9 meses e come de tudo. Mantenho a minha rede de apoio e pretendo seguir assim durante muito tempo, porque isso conforta meu coração e faz com que eu trabalhe em paz. Sempre digo que o que vale é a qualidade do tempo que ficamos juntas, e não a quantidade. Tem uma frase que falo para mim e para toda mulher que vem conversar comigo sobre culpa: 'somos as melhores mães que os nossos filhos poderiam ter'." Natalia Martins, 34 anos, fundadora e CEO do Natalia Beauty Group, mãe de Julia e Bela, de São Paulo (SP)

'Encontrei um coworking familiar'

"Como empresária, não tenho a opção de licença-maternidade e precisava voltar às atividades o quanto antes. Trabalhar de casa seria uma opção, mas lá, além de me desdobrar com a bebê e meu trabalho, me sentia muito sozinha. Foi aí que comecei a procurar espaços onde eu pudesse também ter ajuda com a minha pequena. Acabei encontrando um coworking familiar, o Materlap, e tem sido incrível, pois me permite amamentar quando minha filha quer, posso seguir com minhas obrigações profissionais e ainda troco experiências com outras mães.

Como a Alice tem apenas dois meses, posso trabalhar com ela no meu colo, dar toda a atenção que ela precisa e ainda ser produtiva. Pretendo seguir a amamentação até os 2 anos, pelo menos. Com essa ajuda, não devo precisar deixá-la com outra pessoa ou em uma creche, por exemplo, tendo que tirar leite e confiando que vão ofertar de maneira segura. Tenho certeza que será muito mais fácil." Marina Zirpoli, 33 anos, educadora parental e empreendedora, de São Paulo (SP)

'Comprei uma bombinha e tirava leite antes de ir para a faculdade'

"Para seguir com a amamentação da minha filha, comprei uma bombinha e tirava leite antes de ir para a faculdade. Congelava e, quando ela precisava, tinha disponível em casa. Meu ritmo era muito corrido e, mesmo quando fui retornando à rotina, tudo o que antes era tão habitual, nesse período, me fazia sentir culpada e extremamente exausta. Fora que, mesmo tirando leite com a bombinha, parecia produzir sempre mais. Por várias vezes, tive de usar protetor de seio para não derramar leite em lugares fora de casa. Era horrível, mas ainda bem que tudo passa!" Victória Tolim, 23 anos, cirurgiã-dentista, mãe da Isis, 2 anos e meio, de Campo Grande (MS)

'Entre as mamadas, faço reuniões e calls'

"A realidade da amamentação para quem tem o seu próprio negócio é um pouco diferente do que para as mulheres que estão em uma função que é coberta pelas leis trabalhistas. Primeiro, porque o retorno ao trabalho acaba sendo muito antes —se é que houve algum desligamento. No meu caso, voltei às atividades quando o meu recém-nascido tinha 10 dias, por necessidades novas e emergenciais que surgiram no negócio.

Hoje estamos conseguindo fazer amamentação exclusiva, então ela acontece como prioridade na nossa rotina e, entre as mamadas, se encaixam as reuniões, calls, tomadas de decisões, etc.. Com relação à amamentação, de todos os recursos que eu tive até agora, entre bombas de tirar leite, formas de armazenamento, tipos de chás para produção, sem dúvida, o que mais fez diferença para conseguir fazer a amamentação e o trabalho andarem juntos foi a rede de apoio. A ajuda dos familiares, amigos, companheiros é o maior suporte que uma mãe pode ter para conseguir amamentar e trabalhar." Clarissa Millford, 33 anos, produtora audiovisual e fundadora da Academia de Tiktokers, mãe do Pedro, 2 meses, de Porto Alegre (RS)

'Voltarei da licença em regime remoto permanente'

"O Antônio está para completar 5 meses e, agora que a licença-maternidade está acabando, vou voltar a trabalhar em regime remoto permanente. Estarei em casa para continuar a amamentação em livre demanda até que ele também passe pela introdução alimentar e possa variar o cardápio. Estou bastante confiante que será tranquila essa volta também, principalmente por poder estar perto. Mesmo assim, já deixei um estoque de leite materno para quando o trabalho solicitar minha presença fora de casa.

Com a Fernanda, hoje com 4 anos, a volta ao trabalho aconteceu quando ela estava quase para completar 7 meses e foi bem tranquila. Pude participar ativamente da introdução alimentar dela e deixava leite materno para tomar no período que estava fora. Tirava o leite no trabalho, no qual tive total apoio também. Sem contar que nos adaptamos bem à rotina: mamava bastante antes de eu sair, no meu horário de almoço e quando eu chegava no final do dia." Gabrielle Monice, 35 anos, terapeuta holística, mãe de Antônio e Fernanda, de Santo André (SP)