Ela engravidou depois dos 50: 'Falaram que eu era louca e irresponsável'
A arquiteta e chef de cozinha Madalena Albuquerque, 59, priorizou carreira e liberdade ao longo de sua vida adulta. Foi aos 45 anos que ela começou a pensar em engravidar, o que aconteceu seis anos depois, na primeira tentativa de fertilização in vitro.
"Minha vida foi focada em estudar e trabalhar. Só depois de cinco anos de casada que comecei a me preocupar com isso", contou a Universa. "Tinha vontade de ser mãe, mas era um desejo muito difuso, nunca me direcionei para isso."
Sua filha Maria Rita, 7, nasceu saudável. Mas, desde a decisão de engravidar até hoje, a arquiteta conta que ouviu diversos comentários e experimentou o que é o etarismo com as mulheres que passam pela mesma situação.
Recentemente, a atriz Claudia Raia anunciou estar grávida aos 55 anos. Após o anúncio, apesar da alegria do momento, foi alvo de comentários ofensivos —chegou a ser chamada de "velha ridícula".
Como Claudia, Madalena também recebeu comentários ofensivos. "Quando engravidei, ouvi que era louca e irresponsável", diz. Outros vieram pela internet.
Em 2018, ela participou de uma campanha em vídeo de uma marca de produtos infantis em que contava sua história. "Comentavam coisas como : 'Quando a filha mais precisar dela, vai estar caquética'", relembra.
O preconceito, diz, é frequente. "Toda vez, meu marido e eu nos deparamos com perguntas como 'vocês são avós da Maria Rita?", conta.
"As pessoas criam estigmas de que existe uma curva cronológica para mulher: tem que namorar aos 15, casar-se até os 25 e ser mãe até os 30. Mas, para os homens, isso não existe: quando eles têm filhos com 70, todos parabenizam pela macheza", critica Madalena.
"Mas hoje existe um movimento de mulheres acima de 40 mostrando que somos seres humanos ativos e produtivos."
'Minha infertilidade tinha causa emocional'
A advogada e educadora física Leila Ornelas tentou engravidar desde que se casou, aos 36 anos, em 2008. No entanto, ela foi diagnosticada com ISCA (infertilidade sem causa aparente).
Em 2012, ela tentou duas fertilizações que não foram para frente porque os embriões não tiveram nidação —termo que se refere à fixação do óvulo fecundado no útero. Na época, ela gastou cerca de R$ 60 mil nos procedimentos, sem sucesso.
Em 2017, ela descobriu uma gravidez no quarto mês de gestação, quando tinha 45 anos. "Foram quase dez anos nessa busca pela maternidade. Naquele ano, fiz uma imersão e comecei a olhar para mim, lidei com uma dor do passado que eu carregava. Minha infertilidade tinha causa emocional."
Valentina, hoje com 4 anos, é uma criança saudável. "Minha gravidez foi excelente, trabalhei até último dia, continuei malhando e nunca tive problema, como pressão alta ou diabete."
Para Leila, é inspirador que mulheres como Viviane Araújo, Claudia Raia e Ivete Sangalo sejam referências em maternidades após os 40.
"Maternidade tardia é um ato de fé"
Leila afirma que a maternidade após os 45 anos tem seus prós e contras. "Tenho 50 anos com uma filha de 4. Não é fácil acompanhar o ritmo dela. Uma criança muito pequena requer atenção e, às vezes, não tenho tanto pique", diz. "Mas não troco nada para estar com minha filha."
Para Madalena, o mais cansativo é não contar com uma rede de apoio. "Minha mãe já faleceu e minha sogra morreu um ano depois que a Maria Rita nasceu. Não tive irmãos. Sem uma rede de apoio, vai ser sempre cansativo."
Ela conta que, após ser mãe, passou a ser procurada por outras mulheres na mesma situação."É um processo solitário. Me disponho a ser esse catalisador, conversar, ouvir e apoiar as muitas mulheres que me escrevem", conta.
"A maternidade tardia é, sobretudo, um ato de fé."
Gravidez espontânea após 45 anos é 'raríssimo', diz médica
No domingo (15), Claudia Raia contou detalhes da gravidez aos 55 anos em entrevista ao "Fantástico". Ela e o marido, o ator Jarbas Homem de Mello, decidiram ter um filho por fertilização in vitro. "Fiz o tratamento de cinco semanas de estrogênio [hormônio que prepara o corpo para a implantação do embrião], realmente é pesado. Eu disse: 'Eu vou tentar uma vez. Se for, ok. Se não for, vou entender'", contou Claudia.
"O estrogênio traz uma série de sinalizações ao corpo feminino, como engrossar o endométrio, a parte interna do útero, estimular a ovulação e preparar corpo feminino para a gestação. O que pode ter acontecido é que, com o uso desse hormônio, ela voltou a sinalizar uma série de questões metabólicas", explica a ginecologista Bruna Pitaluga, formada pela UnB (Universidade de Brasília) e com especialização em medicina funcional.
Ela reforça que a atriz estava no período da pré-menopausa, que antecede a última menstruação mas já sinaliza que a mulher está parando de ovular.
Bruna diz que o caso de Claudia é uma exceção. "Estamos falando de uma mulher de 55 anos. É uma situação raríssima dentro da medicina." Segundo dados do Datasus, em 2020 nasceram 1.001 crianças de mães com mais de 50 anos no Brasil.
Nesses casos, diz a ginecologista, o primeiro desafio é prosseguir com a gestação, e a saúde das mães também tem que estar no centro das preocupações. "Os maiores riscos, seja gestações espontâneas ou com inseminação artificial, são complicações para a mulher. Acima de 45 anos, todos os riscos são aumentados de problemas como diabetes gestacional e hipertensão."
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