Mulher que acusou atletas do Botafogo-SP de estupro: 'Estão me ameaçando'
A mulher de 27 anos que denunciou violência sexual praticada por três jogadores de futebol nesta semana, no Rio de Janeiro, disse a Universa que está sofrendo ameaças pelas redes sociais e que por isso chegou a se arrepender de registrar a ocorrência.
"Estou meio arrependida. Devia ter voltado para casa e chorado, sozinha. Agora tenho que me manter normal pelas minhas filhas", diz. Alcimara Ventura é mãe de duas meninas, de 7 e de 4 anos.
Ela contou que conheceu três jogadores do Botafogo-SP numa boate, na madrugada de segunda (26). De lá, foi para um hotel no Santo Cristo, na zona portuária, onde teve relação consensual com o argentino Lucas Delgado. Só que ele se recusou a usar camisinha e ejaculou dentro dela sem sua permissão.
"Estava no banho quando ele [Delgado] chegou por trás de mim. Pedi para ele usar camisinha, mas ele se fez de desentendido, disse que não ia usar, e fez ali mesmo. Foi rápido, Depois saiu e abriu a porta para os amigos, que tentaram transar comigo. Eu falei que não e começaram a me xingar. Um deles me mordeu muito forte no peito."
Os dois colegas de equipe seriam João Diogo Jennings e Eduardo Barbosa Hatamoto, também atletas do Botafogo-SP.
Eu ia deixar para lá, tomar a pílula do dia seguinte e torcer para não ter pegado nenhuma IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), mas quando ele me mordeu com tanta força fiquei desesperada.
Foi por essa última agressão que Alcimara decidiu procurar uma delegacia. Ela fez exame de corpo de delito e está tomando remédios para evitar ISTs. Como consequência, está com gastrite e a boca seca.
Segundo Alcimara, um deles chegou a ligar para seu amigo pedindo que retirasse a queixa, pois não havia tocado nela e, portanto, não tinha nada a ver com a história.
Ameaças nas internet
Após a repercussão do caso, ela afirma que passou a ser ameaçada pelas redes sociais e que está com medo de sair de casa.
"Ficam me xingando, falando que o Rio é pequeno, que vão me pegar. Printei tudo e estou indo à delegacia. Agora estou com medo de sair de casa, porque tenho duas filhas pequenas", afirma ela, que se mudará para o Amazonas, onde nasceu, no fim do ano.
Polícia investiga crime de violência sexual
Apesar de não haver legislação específica para quem tira a camisinha sem consentimento ou se recusa a colocá-la, Delgado pode ser enquadrado no crime de estupro de vulnerável mediante fraude, com pena de reclusão de dois a seis anos.
Procurado por Universa, o delegado Vinícius Domingos, titular do 4º DP (central), disse que só comentaria o caso após a conclusão do inquérito. Ao jornal "Folha de S.Paulo", no entanto, ele afirmou que a investigação está no início e que se trata de violência sexual.
"Preciso do depoimento deles ainda. É uma linha tênue entre importunação sexual e estupro. Ela alega que eles tentaram fazer à força, que seguraram, que houve mordida no peito. Com relação ao argentino, ela diz que ele estava sem camisinha e que [ela] não queria continuar. E ele continuou, sem a vontade dela. Tecnicamente, isso não deixa de ser um ato sexual sem consentimento", disse.
Na mesma entrevista, ele explicou que Jennings teria "passado a mão nela e depois a xingado", e que "crimes contra a dignidade sexual precisam ser analisados junto com todo o contexto".
Ao UOL ESPORTE, o clube paulista informou que Lucas Delgado já teve o seu contrato rescindido, enquanto Dudu e João Diogo foram punidos por infração disciplinar, uma vez que deixaram a concentração sem autorização. O Botafogo-SP informou ainda que aguardará a conclusão das investigações para decidir quais outras atitudes serão tomadas sobre os dois atletas.
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