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Paes Leme ouviu 'é normal': o que não dizer à mulher após aborto espontâneo

Fernanda Paes Leme lamenta perda do bebê no final do ano passado - Reprodução/Youtube
Fernanda Paes Leme lamenta perda do bebê no final do ano passado Imagem: Reprodução/Youtube

De Universa, em São Paulo

04/10/2022 15h11

A atriz e apresentadora Fernanda Paes Leme falou pela primeira vez sobre um aborto que sofreu no começo de 2021 no programa 'Mil e Uma Tretas'. Após tirar o DIU, sua menstruação atrasou logo no mês seguinte. Com o teste em mãos, descobriu que estava grávida. Mas um sangramento poucos dias depois sinalizou o final da gestação.

"O aborto é uma perda invisível. É um luto que você vive, de algo que você nunca viu a cara. Nem uma peça, foto, nada, para você lamentar, o que acontece quando você perde alguém", disse. Ela falou que precisou administrar a dor da perda e de contar para os outros enquanto ouvia que era 'normal' o que estava passando.

Para a enfermeira obstetra Beatriz Kesselring, mestre em saúde materno-infantil pela USP (Universidade de São Paulo) e diretora do Núcleo Cuidar, a idade gestacional não mede o tamanho do vínculo e amor que as mulheres podem já ter com esse filho. "Enquanto profissional da área da saúde, digo que temos que acabar com o discurso técnico, sem saber o que aquela mulher pensa sobre o filho que está levando. Acredito ser uma atitude desrespeitosa falar para uma mulher em processo de abortamento, ou que já abortou, para ela ficar tranquila e que 'daqui a pouco vem outro'. Não dá para fazer isso, é uma atitude violenta inferir sobre o que o outro pensa sobre o tempo de vida", diz.

Algo que Fernanda Paes Leme destacou é que ouviu que essa perda era normal. "As pessoas chegam e falam para você que é normal. Pode ser comummas normal não é", disse no podcast. Por isso, Beatriz acredita que é necessário cuidado com frases como "daqui a pouco vem outro" ou "ainda não era um bebê".

"Muitas pessoas falam isso na tentativa de demonstrar amor, por não saber o que falar. Aí dizem bobagens. E essa frase nunca mais será esquecida pela mulher", diz. Contudo, enquanto é possível compreender a posição de amigos e familiares, para Beatriz o profissional da saúde não esse argumento não é válido.

"A pessoa que trabalha na área de obstetrícia, neonatologia e saúde em geral tem a obrigação de saber acolher essa mulher no processo de luto. As mulheres esperam ouvir da nossa boca palavras que não firam, que não sejam violentas. Se não sabe o que falar, corra atrás da informação", destaca.

Mês internacional do apoio ao luto gestacional e neonatal

Outubro é o mês internacional do apoio ao luto gestacional e neonatal e Beatriz é uma das organizadoras da "Semana Nacional de Sensibilização às Perdas Neonatal e Gestacional", que acontecerá entre os dias 13 e 15 deste mês. Durante o período, serão promovidas palestras online através da página do Youtube do Grupo Transformação de Araraquara para quem quer aprender sobre formas de acolher as famílias que perderam alguém precocemente

"Nosso objetivo é sensibilizar a sociedade brasileira sobre a importância do tema", diz Beatriz, já que pouco se fala sobre a dor da perda de um filho - seja ela na gestação ou na infância.

"O luto neonatal está na categoria de lutos não reconhecidos. Mesmo que a família não tenha conhecido a criança, eles sonhavam com ela. O bebê foi idealizado no sonho. Quem somos nós para julgar o tamanho desse sonho tanto do pai quanto da mãe? Precisamos garantir o respeito e a individualidade dessa mulher", diz.