Erika Hilton e Duda Salabert no Congresso: o que querem as deputadas trans
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Demorou 57 legislaturas, mas finalmente aconteceu:
- Erika Hilton (PSOL-SP) é a primeira deputada federal travesti na Câmara dos Deputados. Eleita com 256.903 votos, foi a nona candidata mais votada do estado;
- Duda Salabert (PDT-MG) é a primeira mulher trans do Congresso nacional. Conseguiu 208.332 votos, a mulher mais votada do estado de Minas Gerais.
As duas quintuplicaram os votos que receberam nas eleições municipais de 2020. Universa conversou com as duas depois de divulgados os resultados.
Elas são importantes porque... "a democracia pressupõe não só a diversidade partidária e ideológica, mas uma diversidade de corpos e identidades. A gente acaba ampliando o conteúdo democrático do Brasil", disse Duda.
O foco de Duda Salabert será
- aprovar leis a favor da população LGBT. As principais conquistas, até agora, como casamento para pessoas do mesmo gênero, retificação de nome para pessoas trans e a criminalização da LGBTfobia foram obtidas no STF (Supremo Tribunal Federal).
- focar na educação, para, assim, combater o preconceito contra pessoas trans. "Somos o país que mais mata pessoas trans no planeta e somos o país que mais consome pornografia trans no mundo. Uma forma de enfrentar essas contradições é promover um debate pedagógico sobre as experiências das diversidades trans para superar preconceitos e diminuir as contradições do país"
O principal desafio estará em articular para que projetos assim sejam, ao menos, colocados em pauta na Câmara. "Esses projetos não são votados, ficam paralisados. Não dá nem pra dizer que houve derrota", explicou.
Quando era vereadora, propôs projetos sobre emergência climática, maus tratos aos animais, mulheres vítimas de violência doméstica, pobreza menstrual, empregabilidade de vulneráveis.
O foco de Erika Hilton será lutar pela efetivação de políticas públicas de combate à fome e à miséria, pró comunidade LGBTQIA+ e maiorias sociais minorizadas. "A entrada de travestis e transexuais na Câmara Federal só agora é como uma denúncia de que nossos corpos estavam abandonados na prostituição e a violência nas ruas, com requintes de crueldade. Mas significa também que finalmente essa situação poderá ser escancarada e começar a mudar", completou Erika Hilton, também com exclusividade para Universa.
Quando era vereadora, Erika presidia a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Vereadores de São Paulo. Propôs pautas projetos que versavam sobre a Ao lado de seus pares, trabalhou em projetos que previam reurbanização de regiões informais da cidade, instituição de um fundo de combate à fome, passando por protocolos de vacinação pra quem sem recusasse a tomar vacina de uma marca específica.
À prova de bala: "sem tempo de temer a morte"
Parlamentares trans eleitas no Brasil desde 2018 são alvo de inúmeras ameaças de mortes e violência política.
Erika quer que o estado garanta sua segurança para fazer seu trabalho. "Pretendo enfrentar possíveis ataques com muita precaução e exigindo do estado brasileiro que siga garantindo minha segurança pessoal, além de investigar e punir os agressores", disse.
Duda, que precisou ir votar com colete à prova de bala, conta que já tem diálogos com a Polícia Federal para garantir sua segurança em Brasília. "A gente tinha dúvida se as ameaças estavam terminando com o fim das eleições ou se iniciando com uma nova leva de ameaças. Não sei como vai se configurar nos próximos anos, mas terei mais proteção".
Questionada se o medo a impedirá de continuar, ela cravou: "É aquele verso da Gal Costa: é preciso estar atenta e forte, não temos tempo de temer a morte".
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