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'Não acreditei quando me vi': catadoras de recicláveis ganham dia de beleza

A transformação de Cícera pelas mãos de Alef - Arquivo Pessoal
A transformação de Cícera pelas mãos de Alef Imagem: Arquivo Pessoal

Fernando Barros

Colaboração para Universa, em Salvador

08/10/2022 17h04

Há dois meses, mulheres que trabalham como catadoras de lixo reciclável na cidade de Itapetininga, no interior de São Paulo, tem tido o visual transformado por iniciativa do cabeleireiro Alef Farias, de 28 anos.

A transformação mostrando o antes e o depois passou a ser compartilhada nas redes sociais do profissional, ganhando repercussão. Nos vídeos, é possível ver da abordagem do profissional até a surpresa e emoção das convidadas com o resultado. O cabeleireiro conta que reserva as segundas-feiras no seu salão para esse projeto. Ele conta que muitas, ao serem convidadas, ficam receosas.

Foi o caso da catadora Cícera Moraes, 24 anos. A Universa, ela conta que no início ficou desconfiada quando o cabeleireiro a parou na rua. "Achei estranho porque a gente não se conhecia, mas topei e amei a experiência", afirma. Tendo estudado só até a sexta série do ensino fundamental, ela começou a recolher recicláveis há um ano para garantir uma fonte de renda diante da dificuldade de conseguir um emprego formal.

Mãe de duas meninas e com um marido com deficiência, as atribulações da rotina para manter a família não permitem que ela consiga se cuidar como gostaria. Por isso, diz que a ação a ajudou a se sentir mais bonita. "Nem acreditei quando me vi no espelho, transformada. Nunca imaginei que ganharia um dia de beleza. Quando cheguei em casa, com visual novo, minha família se emocionou muito", diz.

O antes e depois de Rosa Feliciano - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O antes e depois de Rosa Feliciano
Imagem: Arquivo Pessoal

Emoção foi também o que sentiu a catadora de recicláveis Rosa Feliciano, 39, ao se ver após a transformação realizada por Alef. "Nem me reconheci, parecia uma outra pessoa, a sensação era de ser uma nova mulher." Rosa, que tem dois filhos e começou a recolher recicláveis há três anos, conta ainda que depois de participar da ação passou a ser reconhecida na rua. "Muita gente veio me elogiar, dizer que tinha me visto na internet, que meu cabelo estava lindo. Fiquei me achando", recorda.

Sônia Barbosa, 44 anos, foi outra moradora que voltou a ver beleza em si mesma. Ela não é catadora de recicláveis, mas sua história de vida chegou até o cabeleireiro e ele a presenteou também com esse momento. Dona Sônia, que é mãe de três meninas e se encontra em tratamento de depressão, sofreu um acidente há 12 anos, quando perdeu o olho esquerdo.

Por causa das dificuldades enfrentadas na vida, ela foi perdendo a vaidade e, quando sua filha Larissa soube do projeto, viu a oportunidade de ajudar a mãe a se sentir melhor. "O Alef, além de uma pessoa de bom coração, tem um grande dom. Fiquei emocionada quando vi o resultado e saí de lá me sentindo linda e renovada", afirma Sônia.

O cabeleireiro Alef Farias - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O cabeleireiro Alef Farias
Imagem: Arquivo Pessoal

"Quero espalhar o bem"

Alef diz que a ideia surgiu porque na região onde mora na cidade costuma cruzar com muitas dessas trabalhadoras. "Eu ficava comovido ao vê-las e enxergava beleza nelas mesmo que não sendo explícita. Foi uma forma que encontrei de levar um pouco de amor ao próximo", explica.
Ele conta que sempre quis trabalhar cuidando de cabelos, mas demorou um pouco para realizar seu sonho. "Primeiro, trabalhei em uma fábrica de costura e só então pude juntar dinheiro para fazer o curso de cabeleireiro", recorda.
Sônia Cristina, outra catadora 'transformada' pelas mãos de Alef - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Sônia Cristina, 'transformada' pelas mãos de Alef
Imagem: Reprodução/Instagram
Natural de Alambari, no interior paulista, ele lembra que no início também enfrentou preconceito com sua profissão. "Na época, a cidade tinha apenas 3 mil habitantes e um homem cabeleireiro era visto com preconceito. Como não tinha um espaço e atendia nas casas das clientes, também era desacreditado como profissional.
Quando se mudou para Itapetininga e conseguiu alugar um local para funcionar como salão, ganhou reconhecimento. Agora, além de dar continuidade ao projeto junto às catadoras de recicláveis, ele planeja ter uma sede própria para o seu salão e poder gerar empregos. "Vemos tanta coisa ruim no mundo, muita briga e ódio por aí; quero poder ajudar a espalhar o bem", finaliza.