Tara por pum e 1º orgasmo aos 65: pedidos de clientes de donas de sex shops
A ex-publicitária Neusa Pandolfo, gaúcha de 62 anos, já tinha dois filhos crescidos quando retomou a vida profissional com uma sex shop itinerante, que levava a empresas e eventos. E a paraibana Ana Cristina Silva, de 50, fugiu há 21 anos de uma relação abusiva e veio com os dois filhos para Marília (SP), onde trabalhou, inicialmente, no camelódromo.
Já a vida de Érica Rambalde, 50, virou até filme: ela é a inspiração do longa "De Pernas Pro Ar", com Ingrid Guimarães, em 2010. Cinco anos antes, a caminho de um divórcio, com dois filhos para sustentar e trabalhando no mercado financeiro, juntou aos cosméticos e acessórios de prata que vendia alguns vibradores e, assim, cruzava o Rio de Janeiro de ônibus com duas mochilas, até se estabelecer.
Outra que se aventurou nessa área e rompeu tabus foi a mineira criada Ana Canziani, de 44, dona de cinco lojas com o nome de Tempero Apimentado, em Santa Catarina, e também da fábrica Marradame, que produz objetos de couro, ferro, madeira e cosméticos que vende na loja e para o Brasil.
Suas trajetórias pessoais e profissionais são lições de vida e empreendedorismo, recheadas de situações inusitadas. Algumas elas contam aqui.
"Me apaixonei por essa área, estudei; hoje sou sexóloga e educadora sexual"
"São 18 anos de mercado iniciados quando esse comércio era realizado em lugares onde as mulheres não se sentiam à vontade. Muitos tinham cabine de filme pornô. Eu trabalhava com mercado financeiro e no edifício tinha uma sex shop no subsolo. Minha amiga me chamava para conhecer, eu resistia. Mas fui de tanto ela me perturbar e me deu um insight. Como uma mulher ia entrar ali e perguntar como usar um produto? Me apaixonei por essa área, estudei - hoje sou sexóloga e educadora sexual. Trabalho com produtos em eventos, ajudo a formar e capacitar para o mercado e sou coach em relacionamento de casais.
Mas no começo não tinha dinheiro para montar uma boutique erótica. Então, comprei duas malas, enchi de produtos e fui levar para as amigas que conhecia, nas empresas em que já tinha trabalhado.
Tive loja física e online, a Sexy Delícia, fiz eventos para jornalistas e começaram a sair matérias. Uma chamou a atenção de um diretor que se interessou por contar minha história no filme "De Pernas Pro Ar".
Meu primeiro evento foi o aniversário de uma amiga da minha primeira sócia. Era em um casarão lindo. Arrumei nossa loja, fiz uma palestra, a mulherada adorou. De repente, uma surpresa: dois gogo boys haviam sido contratados e começaram um strip tease. Porém, no meio do show, entrou um homem enorme, como um furacão, berrando com todos. Ele não sabia que a esposa estava fazendo a festa. Todo mundo saiu correndo. Os meninos fugiram nus com as calças nas mãos, o casal se trancou na casa. Uma senhorinha caiu na piscina. Minha sócia começou a chorar. Eu falei: 'Chora não. Tira a mulher da piscina, que vou tentar falar com o homem'.
Uma vez estava saindo de um prédio, o porteiro, muito educado, me deu ajuda com a mala que carregava. Mas na saída tinha uma escadinha, a mala não estava bem fechada e abriu de repente espalhando todos os produtos pela calçada. Ele, coitado, ficou desesperado. Não sabia se entrava para se esconder ou me ajudava a catar os vibradores espalhados pela calçada. Aliás, quando eu comecei, levava essa mala para baixo e para cima, cheia de próteses.
Minha loja era discreta e não podia atender menores. Porém, tinha um colégio perto e sempre apareciam estudantes, que eram barrados. Um dia em que não estava, deixaram um casalzinho entrar. Cheguei logo depois e fiquei doida. Daqui a pouco chega o pai da menina. Começou uma discussão. Disse que minha funcionária era nova e não estava orientada para não deixá-los entrar. Ele botou o namorado da menina para correr, mandou a filha pra casa. Quando ficamos só eu e ele, o senhor falou: 'Agora você pode me atender'. E foi pegar a namorada, uma garota da idade da filha dele. Perguntei: 'Ela é menor de idade, né?'. Ele respondeu: 'Mas é diferente, está comigo'. Falei: 'Não. Se sua filha não pode, sua namorada também não.' Ele não sabia onde enfiar a cara de tão constrangido. Saiu com a menina e nunca mais voltou."
Érica Rambalde, 50 anos, do Rio de Janeiro, dona da loja virtual Sexy Delícia
"Todo ano visito uma feira fetichista para criar novidades"
"Sou fonoaudióloga de formação e professora de biologia. Mas levava sempre uma bolsa com cosméticos e acessórios de prata para vender, aumentar a renda e cuidar do filho que tive, aos 15 anos. Um amigo me disse que eu era muito criativa e sugeriu que fizesse cuecas para gays para vender na balada que ele frequentava.
Saía dos consultórios de bicicleta e ia de casa em casa com a mochila lotada. Oferecia cosméticos, acessórios de prata e ia mostrando anestésico, lubrificante... Ninguém trabalhava com isso antigamente.
Hoje tenho também uma fábrica e, quando surge uma ideia, eles produzem para mim, como a cinta liga de couro. Ouvia muita reclamação de que a maioria dos lubrificantes escorrem. Fizemos um que não tem esse problema. Recebo pedidos de produtos inusitados como máscara para inserir no ânus e cheirar o pum da mulher. Já existe na Alemanha. Todo ano visito uma feira fetichista lá para criar novidades.
Um dia apareceu aqui um casal de 60 e muitos anos. Ele havia tido câncer e retirado a próstata, não tinha mais ereção. Conversei e os deixei mais à vontade. Foi quando ele se abriu. Eu disse: 'Vou indicar um vibrador que se tu colocasse o pinto no crossfit, ainda assim não iria dar tanto prazer a ela'. Eles começaram a rir. Também indiquei um modelo de capa rígida para pênis de quem não tem ereção. Até hoje são nossos clientes.
Teve também a mulher que me ligou dizendo que deixaria aqui o pai, de 80 e poucos, com Parkinson e Alzheimer e a mãe, de 70 e muitos, também com Alzheimer. Casados há mais de 50 anos, a idosa esquecia que ele era seu marido e saía gritando que ele queria boliná-la, de madrugada. O senhor achava que tinha 15 anos, podia tudo. Indiquei para ele um masturbador fácil de usar porque faltava a ele destreza manual. E dei um vibrador de clitóris para ela que, em alguns momentos de lucidez, queria ele, que não tinha ereção. Saíram felizes da vida. A filha agradeceu horrores."
Ana Canziani, 44, dona da loja Tempero Apimentado e da fábrica Marradamme, em Navegantes, Itajaí e Balneário Camboriú (SC)
"Cliente achou que estava infartando mas era um orgasmo"
"Sou educadora em sexualidade, palestrante e ainda levo produtos quando pedem nos eventos. Mas tive uma sex shop itinerante. Foi quando entrei no mercado erótico, em 2008, com meus filhos já crescidos. Também escrevi um ebook: "O Poder dos Recursos Eróticos e Para Que Eles Servem".
São muitas as histórias que vi e ouvi nesses anos. Entre minhas clientes havia uma senhora de 65 anos, viúva, que sempre gostou muito de sexo. Ela ficou deprimida e a filha me procurou para ver se tinha algo que pudesse deixá-la mais contente. Eu a ajudei a escolher um vibrador. Dias depois ela me ligou, contando que, quando o usou, foi sentindo o coração acelerar. Achou que estava enfartando, mas teve uma sensação tão maravilhosa e depois passou. Expliquei que aquilo tinha sido um orgasmo.
Outra vez chegou um cara todo machão, na faixa dos 40, dizendo que queria 'fazer sexo lá atrás', mas não queria causar dor na parceira. Indiquei um gel desensibilizante para ela passar no ânus e aguardar um pouco enquanto fazia efeito. E que ele usasse uma camisinha. No dia seguinte ele me aparece bravo, dizendo que o produto não havia funcionado. Disse que tinha sentido muita dor. O produto era para ele. O parceiro não esperou o produto agir e nem quis usar camisinha. Resultado: acabou brochando, perdeu a sensibilidade. Pedi para ele trazer o parceiro, um cara jovem. Conversei com os dois e dei uma aulinha grátis sobre a prática.
Atendi também um homem reclamando que a mulher falou para ele pegar o 'crístoris' dela e ele queria saber onde era porque nem ela sabia. Sempre tinha uma vulva de silicone por perto e expliquei: 'Olha, funciona assim, o senhor faz assim...'
Uma senhorinha de 80 e poucos anos me confessou que maior sonho dela, antes de morrer, era usar um vibrador. Mas tinha medo de morrer e a família encontrar o objeto. Conversamos e ela disse que iria pensar e me ligou dias depois: 'Vou querer o vibrador. Já paguei meu enterro e combinei com a pessoa que fará o velório na funerária que ele ficará em uma gaveta e deve ser enterrado comigo'.
Uma vez, no aeroporto com meu marido e uma mala cheia de vibradores porque ia fazer palestra em São Paulo, o rapaz do raio X disse que eu teria que abrir a mala. Disse: 'Claro'. Ele abriu, viu os pênis e gritou: 'Nossa! Ai, que delícia", bem na hora em que um monte gente passava para pegar malas."
Neusa Pandolfo, 62 anos, de Porto Alegre, dona da empresa Palestras In Company de Neusa Pandolfo
"Hoje, 90% da minha clientela é formada por casais"
"A Ducris Boutique Íntima surgiu há 21 anos, em Marilia (SP). Foi quando saí de João Pessoa (PB) para essa cidade, fugindo de uma relação tóxica e violenta. E o mercado erótico me levou para minha profissão atual. Sou psicóloga comportamental, terapeuta de casal e especialista em sexualidade humana.
Na Paraíba eu tinha uma fábrica de lingerie e consegui um espaço no camelódromo, onde vendia o que eu produzia aqui. Foi lá que começaram a me pedir fio dental que, para mim, usávamos para higiene dos dentes. No nordeste chamamos de cordão cheiroso.
Vindo de uma cultura nordestina muito conservadora, fui pesquisar esse universo. Comecei a comprar fantasias e calcinhas comestíveis. Logo vieram pedidos de vibradores e outras coisas. Hoje, 90 % da clientela é formada por casais.
Já presenciei muitas brigas de casal na loja. Uma delas aconteceu porque ele queria gel para sexo anal e ela não queria. O cara me disse: 'Ela está regulando isso aí. Explica para ela, moça?'. E a mulher: 'Você não fica satisfeito nunca. Não vou dar nada para você. Aqui só sai, nada entra!'. Não sabia o que fazer. A mulher ficou muito brava. Os dois não compraram nada e saíram irritados. E nada que eu falasse apaziguaria a situação.
Outra briga foi porque o homem queria ver a parceira com meia arrastão e ela não queria. Ele perguntava: 'Custa fazer isso uma vez?'. Foram embora discutindo também. Geralmente é o marido que quer algo diferente. O que mais se procura aqui tem a ver com sexo anal. Elas até sugerem vibradores para massagear a próstata deles. No geral, respondem que não e elas não insistem.
E aeroporto, então? Uma vez, vindo de uma feira, no Rio de Janeiro, trouxe muita algema e, na hora de passar no raio x, os seguranças me chamaram e perguntaram: 'Senhora, o que é isso?'. Na maior cara de pau respondi: 'Vocês não sabem, não? São algemas e um plug anal!'."
Ana Cristina Silva, 50 anos, dona da Ducris Boutique Íntima em Marília (SP)
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