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Tinder faz 10 anos e usuárias dividem experiências: 'Mais de 20 encontros'

Inside Creative House/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Inside Creative House/Getty Images/iStockphoto

Ana Bardella

Colaboração para Universa, em São Paulo

09/10/2022 04h00

Lançado nos Estados Unidos em 2012, o Tinder completou dez anos. Apesar de ter sido disponibilizado no Brasil somente no ano seguinte, ele não demorou para se tornar um dos aplicativos mais populares do país. "Se antes era um constrangimento dizer que conheceu alguém por lá ou através de outras plataformas digitais, hoje essa é uma das histórias mais comum entre os casais", avalia a psicóloga Pâmela Salvato.

Mas não é só de finais felizes que o aplicativo vive. Quem baixou o Tinder logo no início, por exemplo, tem experiências de todos os tipos para contar. A seguir, reunimos as histórias de três mulheres que estão no app há mais de sete anos:

"Conheci mais de vinte pessoas"

Carolina tem 26 anos, é estudante de Química e mora no Rio de Janeiro, mas prefere não dizer o sobrenome para não ser identificada. Ela usa o app desde 2014. "Conheci muita gente. Não lembro exatamente o número de encontros, mas foram mais de 20 com certeza", conta.

Sem a intenção de namorar, seu objetivo sempre foi de conhecer pessoas com as quais se identificasse, para sair casualmente. "Mesmo assim, em 2020, tive um término doloroso. Fiquei triste e vi que as conversas por lá ficavam cada vez mais mecânicas, repetitivas. Então deletei e fiquei bastante tempo sem usar", relembra.

Parte disso foi em função da pandemia: sem a segurança da vacina, ela preferiu não arriscar. "No final, foi bom passar esse tempo afastada porque, quando eu voltei, me senti mais aberta a novas experiências", avalia.

Hoje, no entanto, ela prefere usar um dos concorrentes do Tinder, o OkCupid. "Lá eu consigo filtrar melhor com quem conversar", diz.

"Tenho um caso de amor e ódio com o Tinder"

Lorrana já deletou o app por não se sentir segura. - arquivo pessoal - arquivo pessoal
Lorrana já deletou o app por não se sentir segura.
Imagem: arquivo pessoal

Lorrana Silva tem 28 anos, trabalha como bancária e mora em Contagem (MG). Ela usa o app há sete anos, mas só teve três encontros durante esse tempo.

"Eu brinco que é um caso de amor e ódio. Às vezes fico desanimada. Tem gente que é muito exigente: parece entrevista de emprego, chega a ser engraçado. Por outro lado, já tive conversas legais, fiquei com uma pessoa que conheci lá", diz.

Quando decidiu deletar o app foi por não se sentir segura. "Um cara viu meu nome, me procurou nas redes sociais e achou o lugar onde eu trabalho. Então telefonou na empresa e começou a falar coisas sem sentido. Fiquei assustada, passei quase um ano sem usar", recorda.

Atualmente, Lorrana abre o app de vez em quando, mas sem grandes expectativas. "Às vezes entro, dou uma olhadinha, converso com alguém. Mas não vejo como um lugar para você achar uma pessoa. Uso mais por diversão mesmo", resume.

"Minha vontade é de deletar o Tinder pra sempre"

O caso de Patrícia*, de 26 anos, que atua como educadora e mora em Brasília (DF), também é oscilante. Ela garante que, durante os sete anos que usou o aplicativo, teve altos e baixos. "Namorei duas vezes pessoas que conheci lá: um por cinco meses, outro por dois anos. Durante o namoro eu deletava, mas uma semana depois do término já voltava a usar", recorda.

Teve encontros que considerou chatos com homens e mulheres. "Em compensação, algumas vezes cheguei a ficar mais de sete horas com a pessoa, de tão incrível a companhia", conta. Por não gostar de sexo casual, sempre buscou conexões com quem pudesse sair mais de uma vez.

Algo que costuma fazer com frequência é deletar e reinstalar o app. "Dá uma cansada, chega uma hora que você não aguenta mais. Tem muita coisa ruim, gente nada a ver. Tenho uma viagem para fora do país marcada e por enquanto quero continuar explorando os encontros, ver o que sai disso. Mas meu objetivo final é apagar, dessa vez pra sempre", garante.

"Saber o que quer ajuda a evitar frustrações", diz psicóloga

A psicóloga Pâmela enxerga os aplicativos de relacionamento como uma aposta. "Eles são movidos a tentativa e erro. A experiência pode ser satisfatória ou desagradável. O importante é prestar atenção se, com essas vivências, você ainda acha que está sendo beneficiada", aponta.

Outra dica para evitar o desgaste é saber exatamente aquilo que está buscando. "É sexo casual? Uma amizade? Um envolvimento? Saber de antemão e comunicar isso aos parceiros minimiza as chances de um desentendimento ou uma frustração", afirma.

Segundo a profissional, ter a mente decidida ajuda ainda a evitar o esgotamento em relação aos apps e a todos os outros processos que envolvem começar um relacionamento — uma sensação que recebe o nome de "burnout afetivo".

"Muitas vezes, o ambiente digital contribui para uma idealização do outro: pode transmitir a sensação de que é possível encontrar a pessoa perfeita, que vai se encaixar em todos os seus critérios e corresponder a tudo o que você espera. Mas, na verdade, esse 'match' ideal não existe: cada um tem um passado, uma criação. É preciso ter um grau de tolerância às diferenças para não se decepcionar constantemente", detalha.

Por fim, é preciso levar em conta que, quando o assunto é amor, não existe uma receita de bolo para seguir. "Apesar de ter se tornado uma ferramenta comum, nem todas as pessoas estão preparadas para usar os aplicativos. Ou, mesmo aquelas que já usaram e gostaram, em determinada fase da vida podem sentir que eles não fazem mais sentido. Nesses casos, existem outras formas de se colocar à disposição e fazer conexões, sem se forçar a continuar usando a tecnologia", finaliza.

* O nome foi trocado a pedido da entrevistada.