'Sonho roubado': empresa de casamento fecha no Rio e noivos ficam sem festa
Sonhar com a festa de casamento durante toda a vida e, do dia para a noite, ver o planejamento ir ladeira abaixo porque a empresa contratada para o evento fechou as portas sem aviso prévio. Essa é a história de Cynthia Mayumi, 30 anos, e do seu noivo Raphael Deveza, 36. Eles se casariam no Rio de Janeiro (RJ) em outubro do ano que vem, e já tinham pagado todo o serviço para a Bluemoon Entretenimentos LTDA, mas acabaram ficando sem a festa e sem o dinheiro investido.
Os noivos desembolsaram cerca de R$ 60 mil para a realização da festa, o contrato foi fechado em 2019 e a ideia inicial era de se casarem esse ano, mas acabaram adiando para 2023. A empresa encerrou o serviço em junho deste ano, mas o casal só ficou sabendo depois que a informação foi divulgada pela imprensa. Agora, eles pensam em desistir da cerimônia. "Estamos com medo de investir em outro casamento, conversamos sobre fazer alguma coisa mais íntima, mas não temos certeza se vamos casar", afirmou Cynthia para Universa.
Para conseguir quitar as parcelas, Raphael, que é engenheiro de produção, lembra que chegou a trabalhar em três empregos simultaneamente, e Cynthia também encarou jornadas exaustivas como fonoaudióloga. "O que dói é olhar para o passado e lembrar de ele se matando de trabalhar, ficando doente, para realizar meu sonho", afirma a noiva.
O casal não acredita na possibilidade de receber o dinheiro de volta, já que nem mesmo seus advogados conseguiram localizar a defesa ou mesmo os sócios da Bluemoon, que não retornou nenhum tipo de contato. "Eu não tenho mais saúde para trabalhar tanto assim, tenho medo de fechar qualquer outro contrato", diz o noivo.
A Bluemoon ficou conhecida no mercado de casamento por oferecer as casas de festas mais requisitadas do Rio, além de trabalhar com o "pacote para noivos ocupados", que incluía desde o buffet até o vestido da noiva, caso fosse de interesse do casal fechar todos os serviços.
Encantados pela proposta, Thayana Mac Dowell, 29, e seu noivo Bernardo Passos, 30, contrataram a empresa para realizar sua festa marcada para o próximo sábado, 15 de outubro. Para eles, as coisas começaram a dar errado em fevereiro.
Uma das facilidades do contrato era ter uma assessora que marcaria os dias para decidir os detalhes da festa, como decoração e degustação do que seria servido, mas isso não foi entregue.
"Toda semana era uma pessoa diferente que falava comigo, eu tinha que explicar tudo de novo. Marcava uma data [para fazer a degustação ou ver a decoração] e no dia não tinha nada. Eu já estava achando estranho e não estava gostando", contou ela.
Um mês antes de fechar as portas, a Bluemoon ofereceu uma promoção com 20% de desconto para os casais que quisessem quitar todas as parcelas de uma vez, e Thayana e Bernardo decidiram aceitar. Eles gastaram, no total, R$ 70 mil para realizar o sonho do casamento. "Não acreditei quando a cerimonialista me disse que a empresa estava fechando as portas. Eu já estava vendo coisas de decoração com a empresa", afirma a noiva.
Como a data do casamento estava próxima e o casal já havia entregado os convites, Thayana entrou em contato com a empresa para pedir o recibo do pagamento aos fornecedores — para ela, isso garantiria a realização da festa. "Ficamos quase um mês esperando eles resolverem de alguma forma, mas eles sumiram, não atendem ligação e não respondem", conta.
Os noivos se juntaram a outros casais e estão processando a empresa separadamente. Tanto Thayana e Bernardo quanto Chyntia e Raphael fazem parte de um grupo de WhatsApp com mais de 100 pessoas, entre eles quatro advogados que estão reunindo provas.
O caso segue em segredo de justiça, mas Thayana conta que a juíza responsável pelo caso chegou a solicitar o bloqueio das contas dos sócios da Bluemoon. Na ocasião, foram localizadas 35 contas associadas ao nome da empresa, mas apenas uma tinha dinheiro. "Eles tinham fechado mais de 300 casamentos, então dá para ver que foi uma coisa arquitetada para pegar o dinheiro de todo mundo e sumir", afirma ela.
A saída encontrada por ela e o noivo foi a de pegar um empréstimo e pagar novamente todos os fornecedores que faziam parte do contrato com a Bluemoon. O problema, dessa vez, é que como o contrato havia sido fechado em 2021, os preços atuais estavam mais altos, e eles desembolsaram R$ 15 ml a mais para realizar a festa. No total, para se casarem no sábado, eles tiveram que pagar R$ 85 mil em três meses.
"Senti que tive meu sonho roubado. Foram dias sem conseguir dormir direito, nervosa, chorando, fiquei uns dias em estado de negação. Mas, contra tudo e todos, o casamento vai acontecer", afirma ela.
Já Cintia Carroll, 29 anos, desistiu de realizar a sua festa. Ela e o noivo Dennis Carroll, 29, se casaram em fevereiro do ano passado em em Nova York, onde moram nos Estados Unidos, e, por causa da pandemia, não puderam reunir a família dela para a celebração.
Em novembro, contrataram a Bluemoon para realizar a festa no Brasil, com a intenção de reunir todos os familiares em abril do ano que vem. O contrato inicial era de R$ 47 mil e, até a empresa fechar as portas, os noivos já tinham quitado R$ 25 mil.
Agora, além do prejuízo, as despesas com o processo judicial também pesaram no bolso e o casal decidiu abrir mão dos festejos. "Não queremos perder ainda mais dinheiro. E investir em outra festa está super fora do nosso orçamento, infelizmente. Vamos deixar para lá e engolir o prejuízo", afirmou Cintia para Universa.
O que fazer nesses casos?
A advogada Andréa Seco explica que antes de processar a empresa, é importante entender se existe um processo de falência aberto no Poder Judiciário. Para isso, qualquer pessoa pode fazer a consulta por meio do site do Tribunal de Justiça do Estado onde a sede da empresa está situada, usando o nome do estabelecimento ou o número do CNPJ.
Caso exista, a cliente vai precisar de um advogado para verificar se o valor investido na contratação do serviço está inserido no processo de liquidação da empresa.
Por outro lado, se a situação for de recuperação judicial, o trâmite é outro, porque o processo envolve um plano de pagamento para os credores lesados. Nesse caso, não significa necessariamente que a empresa vai parar de prestar os serviços fechados em contrato.
"Ela pode apresentar um plano de como vai continuar prestar os serviços, o que foi pago, qual é o plano de devolução desses valores pagos, tudo isso através de um plano de recuperação judicial que é votado e acompanhado por advogados", explica Andréa.
O casal também pode entrar com uma ação diretamente no Poder Judiciário para tentar ser ressarcido dos valores pagos até o fechamento da empresa. Se o prejuízo for de até 40 salários mínimos, a pessoa lesada pode entrar com um processo em qualquer juizado especial cível. Caso o valor seja superior, será necessário um advogado e o processo será realizado pela justiça comum.
"Se a empresa fechou de forma irregular, o que vai acontecer é que o consumidor vai ter que perseguir uma desconsideração da personalidade jurídica da empresa, ou seja, tentar alcançar os sócios da empresa para que eles sejam responsabilizados através dos seus bens pessoais e paguem as dívidas existentes", explica ela.
O que diz a Bluemoon
A reportagem de Universa tentou entrar em contato com a empresa, mas não localizou nenhum meio por onde o diálogo fosse possível. Além disso, os casais entrevistados afirmaram que nem mesmo a Justiça e seus advogados conseguiram localizar os representantes da Bluemoon para qualquer tipo de contato recente.
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