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Casais brigam ao falar das contas da casa: saiba como evitar esse desgaste

A criação de uma conta bancária conjunta pode ajudar nos acertos do casal - dusanpetkovic/Getty Images/iStockphoto
A criação de uma conta bancária conjunta pode ajudar nos acertos do casal Imagem: dusanpetkovic/Getty Images/iStockphoto

Beatriz Pacheco

Colaboração para Universa, de São Paulo

17/10/2022 04h00

Desde que passaram a morar juntos, a auxiliar de enfermagem, *Mônica, 36 anos, não tem queixas do convívio com o namorado, mas questiona o seu "companheirismo financeiro", como define sua situação. Faz dois anos que ela está insatisfeita com o "comodismo" do parceiro e com sua falta de contribuição para os projetos do casal. Mônica trabalha em dois empregos e costuma assumir expedientes nos fins de semana para incrementar a renda mensal. Ele, vendedor do varejo, tem um salário que equivale a menos da metade da renda de Mônica.

Na prática, é suficiente para dividirem as contas de forma igual, mas não para realizar o plano de sair do aluguel nos próximos anos. "Sinto que estou adiando projetos para me ajustar ao ritmo dele, e parece que ele não faz o mesmo esforço por nós", diz. Apesar do incômodo, a auxiliar de enfermagem não leva o assunto para o parceiro por receio de ofendê-lo com esses questionamentos.

A falta de diálogo sobre dinheiro, no entanto, é um dos principais pivôs da separação de casais. Esse acúmulo de frustrações, como no caso de Mônica, pode levar a questões irreparáveis num relacionamento. A pesquisa mais recente sobre o assunto, realizada em 2019 pelo SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), mostrou que quase metade (46%) dos casais brasileiros briga com frequência por questões ligadas ao orçamento familiar. Os principais motivos para essas discussões são as compras do parceiro ou da parceira, as prioridades de gastos em casa e o atraso no pagamento das contas.

"Quando tratamos de dinheiro, estamos falando do que importa para nós, por isso é uma conversa mais complexa do que os números na conta bancária", reflete Natalia Merces, consultora do Ateliê Financeiro. Por isso, não existe uma resposta fácil, explica a especialista, e o diálogo é o único denominador comum para lidar com essas questões.

Yaçanã Wittig e Arthur Mengatto moram juntos há cinco meses - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Yaçanã Wittig e Arthur Mengatto moram juntos há cinco meses
Imagem: Arquivo pessoal

O casal Yaçanã Wittig, 30, e Arthur Mengatto, 32, mora junto há cinco meses. Mesmo com a diferença salarial, nunca brigaram sobre a gestão do orçamento doméstico, o que Yaçanã atribui ao hábito de conversarem com frequência, especialmente ao que diz respeito aos planos em comum.

"Não se trata de controlar o quanto o outro ganha ou gasta, mas de entender se esses valores são compatíveis para construir uma vida comum. É uma equação que pode ser ajustada e se moldar conforme a realidade do casal evolui", completa a consultora financeira.

Como abordar a questão?

Empatia é importante nessa comunicação, já que a realidade de trabalho afeta também a autoestima. Nessa conversa, é preciso considerar o estágio da carreira, as possibilidades de trabalho que o outro tem, se a pessoa está em uma área que paga menos, além de questões anteriores, como dívidas ou a necessidade de ajudar a família. A partir daí, Natalia sugere mapear com o parceiro ou parceira as opções para equacionar as contas e concretizar os planos.

"Eu costumo recomendar às pessoas que anotem todos esses gastos (conjuntos e individuais) e façam as contas —de preferência, no papel mesmo— para estudar como poderiam atingir seus objetivos como casal. Aí cada um pode avaliar do que está disposto a abrir mão para alcançar essas metas. Claro, sempre prezando por um equilíbrio", defende a consultora do Ateliê Financeiro.

No caso de Yaçanã e Arthur, ele arca com as despesas mais altas, e ela fica responsável pelas compras de mercado e de itens para casa. Com a divisão dos gastos, têm conseguido juntar o suficiente para bancar as viagens que sonharam fazer juntos. A próxima, para a Disney World, nos Estados Unidos, já está com as despesas de passagens e hospedagem quitadas. "Por enquanto, não pensamos em investir em uma cerimônia de casamento nem na compra de uma casa. Nosso foco é organizar os gastos para as viagens", conta Yaçanã.

Equilíbrio das contas

Para quem está começando, a consultora financeira Natalia Merces aconselha a criação de uma conta bancária conjunta para gerenciar as despesas da casa. Nesta proposta, a contribuição de cada um deve ser proporcional à renda. Quer dizer, nos casos em que ambos têm praticamente o mesmo salário, a participação nas contas é igualitária (50/50). Quando os ganhos são desiguais, a divisão das contas deve seguir a equação entre as rendas (60/40, 70/30 e assim por diante).

O casal Arthur Mengatto e Yaçanã Wittig  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O casal Arthur Mengatto e Yaçanã Wittig
Imagem: Arquivo pessoal

A lógica é a mesma para os objetivos comuns, como uma viagem ou a compra de imóvel. Cada um contribui para esse fundo como a renda permite ou conforme o que for acordado, daí a importância da conversa. A fórmula é aplicada principalmente a casais que estão se adaptando a uma nova realidade financeira.

"Essa divisão pode tornar a conversa sobre dinheiro um pouco mais leve, porque, teoricamente, há uma sobra individual, o que garante certa liberdade e reduz os atritos. Mas não existe certo ou errado nessa logística de casal, e sim modelos que se adaptam melhor à cada realidade", afirma Natália.

E tudo deve ser considerado nas finanças conjuntas. Se uma das pessoas assume uma tarefa que gera economia para ambos —como a faxina da casa, dispensando a contratação desse serviço por fora, ou levar os filhos para a escola, no lugar de pagar um transporte escolar— essa contribuição para a renda da família precisa ser contabilizada.

"Costumo ressaltar a importância da formação de patrimônio e de um olhar de longo prazo para as finanças pessoais. As pessoas não precisam se tornar especialistas na gestão do orçamento familiar, mas precisam aprender a lidar com ele", conclui a especialista.


*O nome foi alterado a pedido da entrevistada para preservar sua identidade.