'Tem muito trabalhador na favela': diz dona de empresa que fez boné de Lula
O boné usado por Lula (PT) em sua visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em 12 de outubro, voltou a ser assunto durante o debate que aconteceu domingo (16) entre os presidenciáveis. Jair Bolsonaro (PL) disse que não tinha policial no evento, "só traficantes". A fala é baseada em uma fake news que circulou nesta semana, de que a sigla CPX seria gíria de grupos criminosos, o que não é verdade: é apenas uma abreviação para "complexo", como são chamados os conjuntos de comunidades cariocas.
O boné em questão foi produzido por Vitória Gonçalves, 24 anos, e por seu marido, Marcelo Dias Moreira Junior, 27 anos, que não gostaram nada dos comentários falsos que se espalharam pelas redes sociais. "Nos sentimos desprezados. Ele [Bolsonaro] é ex-militar, sabe como CPX é usado de forma forte até no meio da polícia, sempre em referência ao conjunto de comunidades", disse Vitória, em entrevista a Universa.
Vitória, que tem família morando em comunidade, fala que esse tipo de comentário só reforça o preconceito. "Bolsonaro tenta passar a imagem de que na favela só tem bandido, mas não é assim. Tem pessoas trabalhadoras. Meu irmão fez faculdade, trabalha e mora na comunidade. É digno e honesto. Existe gente boa em todos os lugares e bandidos fora da comunidade. Isso ele não fala, né?"
'Estamos vendendo em um dia o que vendíamos em um mês'
Sócios, Vitória e o marido assinam a produção do boné usado por Lula em sua passeata pelo Complexo do Alemão. Eles são donos da empresa Jr. Bordados há seis anos e trabalham juntos produzindo material para festas e eventos.
Natural da comunidade de Para-Pedro, no Rio de Janeiro, ela se mudou para Irajá quando se casou. Vitória é formada em enfermagem há um ano e pensava em se dedicar à profissão, mas os planos mudaram. "Trabalhamos nessa área há seis anos. Quando eu engravidei da minha filha caçula, precisávamos de uma fonte de renda diferente. Só com nossos empregos não estávamos conseguindo. E como meu marido tinha experiência na área, apostamos."
A gráfica nasceu com apenas uma máquina, que, segundo Vitória, funcionava em quatro dos sete dias da semana. Sempre dava problema e não funcionava direito. Mas, com esforço e trabalho, o negócio foi crescendo.
A pandemia, no entanto, atrapalhou os negócios. "O número de clientes caiu muito. Ficamos dias sem fazer nada, nenhum boné, nenhum uniforme. Ninguém fazia pedido. Nosso ramo é voltado para eventos e festas. Sem celebração e com as empresas fechando, quebrou muita gente", conta.
Mãe de duas meninas, uma de 8 anos e outra de 6, Vitória e o marido estavam conseguindo se manter com a empresa.
Ao ver o boné na cabeça do Lula, ela reconheceu na hora e tirou um print da imagem. Até então, a peça era vendida e usada em bailes no Complexo do Alemão. "Um cliente nosso presenteou o Lula na maior inocência, ninguém imaginou essa repercussão toda. Eu estava em casa, e meu marido tinha ido ao jogo do Flamengo. Vi no Facebook o Lula com o boné e tive certeza de que tinha sido feito por mim."
Ela e o marido colocaram a foto do candidato usando o boné no status do WhatsApp. "Nossos clientes começaram a elogiar e, no dia seguinte, muita gente começou a ligar. Vendemos em um dia o que vendíamos em um mês."
Com o alto número de pedidos, Vitória está há quatro dias dentro de casa trabalhando na produção. "Meus amigos e parentes estão me marcando em posts no Facebook, Twitter e Instagram. Pessoas que a gente nem conhece estão dando a maior força", conta.
'Foi uma honra ver Lula com o boné'
Vitória e o marido são eleitores de Lula. "Nosso voto é nele desde o primeiro turno. Sempre postamos e fazemos campanha por ele. Foi uma honra vê-lo com o boné. Até recebemos um áudio dele. Ficamos muito emocionados e gratos pelo reconhecimento", diz Vitória, que esta feliz com a repercussão positiva e o aumento nas vendas. A empresária estava trabalhando na tarde de domingo (16), quando falou pela primeira vez com Universa.
A única coisa que, segundo ela, ainda a incomoda, é o preconceito e as fake news atreladas ao significado da sigla bordada no boné. "Se fosse um jogador de futebol que tivesse usado não teria essa repercussão." Para ela, a consequência de uma ação como essa também é negativa para quem trabalha, vive e produz material para a comunidade. "Ficamos muito chateados e revoltados."
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